Autoras: Ana Lúcia Machado (*)
Marilice Mello (*)
Convidamos o leitor a realizar algumas reflexões importantes a respeito da inclusão escolar e a contribuição da natureza, assim como em que medida a presença da natureza na vida das crianças pode contribuir para a inclusão na diversidade. A primeira reflexão se dá pelo fato de ainda nos dias atuais termos o tema em alta, o que muito nos entristece, já que a discussão é antiga.
No Brasil falamos de inclusão, de maneira formal, desde o Manifesto dos Pioneiros com o movimento da Escola Nova, na década de 1920, neste movimento surge o conceito de Escola Para Todos. O "Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova" nasceu com a necessidade de mudanças na educação, foi um movimento de reconstrução educacional que se voltou às mudanças do sistema de organização educacional do país, que se dava de forma fragmentária e desarticulada. Na época, 26 educadores lançaram o manifesto ao povo e ao governo. Representou o início do nosso engajamento na luta pela escola laica, gratuita, obrigatória e acolhedora, e pela co-educação dos sexos, uma escola para todos.
Mas será que realmente tem sido dessa forma a educação? Deixou de ser fragmentada e desarticulada? Temos hoje uma educação realmente inclusiva?
Desde o Manifesto dos Pioneiros, poucas mudanças aconteceram em nossa educação, principalmente em nossas escolas. A pandemia, da COVID-19, que enfrentamos recentemente, nos obriga a essas mudanças urgentes. Por serem tantas mudanças necessárias, neste texto faço um recorte para assim refletir sobre a inclusão escolar, com foco em educação inclusiva na diversidade, tendo a natureza como uma aliada de grande valor.
Além disso acreditamos que a natureza é interdisciplinar e todos os seus filhos –seres vivos -coexistem (ou deveriam coexistir) de modo integrada e atuante. Por meio da natureza é possível desenvolver na criança sensibilidades para a percepção de si, do outro, do ambiente e a descoberta de suas funcionalidades. Conectar a criança a sua natureza interna e a natureza externa. O papel do educador é contribuir para a expressão dessas interações na busca de um mundo melhor. Outras reflexões a respeito destes desafios e do papel da educação para os tempos atuais e futuros, serão necessárias diante de uma perspectiva interdisciplinar que mediarão os aprendizados para a melhoria das relações humanas e destas com a natureza, e a contribuição para a educação inclusiva. (FAZENDA e CASADEI, 2012).
Desenvolvimento Infantil e natureza
A presença da natureza na vida das crianças tem milhares de benefícios para o seu desenvolvimento. Estar em contato constante com a natureza representa seu bem estar físico, emocional, social, espiritual e acadêmico.
A natureza é capaz de inspirar a criatividade da criança, melhora a percepção, amplia o uso dos sentidos, o desenvolvimento cognitivo é estimulado. Todas as crianças típicas e atípicas são beneficiadas com a conexão com a natureza.
Estudos nos apontam que o desenvolvimento infantil é todo o processo pelo qual as crianças passam desde o nascimento até aproximadamente os seis anos. É nesse período da vida que as crianças passam a desenvolver habilidades variadas que vão lhes garantir a autossuficiência em outras etapas da vida. Durante esse período, espera-se que a criança consiga atingir determinados "marcos", indicando a fase em que ela se encontra. Por exemplo, a idade adequada para começar a falar, andar e outras tantas ações.
Nem toda a criança desenvolve-se de maneira igual e em tempo cronológico igual. Porém a criança típica deverá aprender a andar, falar, processar informações e se relacionar com os demais, em tempo semelhante ao previsto. Contudo quando existe algum impedimento em longo prazo é necessário maior atenção do adulto. Portanto é importante conhecer as fases do desenvolvimento da criança na primeira infância com o objetivo de estar sempre atento às suas necessidades.
A criança típica apresenta um desenvolvimento semelhante ao tido por alguns estudiosos, como Piaget, Vygotsky, Wallon. Neste texto optamos pelo conceito que apresenta o desenvolvimento infantil em quatro eixos físico, cognitivo, social e afetivo. Porém sabemos que não é possível fazer a fragmentação do desenvolvimento da criança, acreditamos que o desenvolvimento acontece de forma integral. Sem pensar em fragmentação, mas a fim de conhecer cada um dos eixos, apresentamos a seguir uma breve descrição dos eixos a fim de contribuir para a organização de atividades na natureza.
O desenvolvimento físico relaciona-se às habilidades físicas como engatinhar, ficar em pé, dar os primeiros passos, escrever, desenhar, dançar e outros.
O desenvolvimento cognitivo refere-se à capacidade de processamento de informações, englobando processos mentais como pensar, raciocinar, falar, compreender a linguagem, resolver problemas e outros.
O desenvolvimento social é quando a criança consegue começar a trocar informações com outras pessoas e passa a aprender as normas sociais.
O desenvolvimento afetivo refere-se às emoções da criança, sendo que esse tipo de desenvolvimento acontece desde os primeiros dias de vida. (DIAS, CORREA E MARCELINO, 2013).
A interação da criança com a natureza é um fator potencializador do desenvolvimento integral saudável. Sob o ponto de vista físico é importante ressaltar que os primeiros anos de vida da criança correspondem ao ciclo do movimento e por este motivo ela necessita de experiências diárias de expansão e atividades corporais livres e espontâneas como correr, pular, saltar, rolar, escorregar, girar, subir e descer morros, trepar em árvores, etc. Essas atividades contribuem para a estruturação do sistema muscular da criança e seu desenvolvimento motor, gerando destreza corporal e domínio espacial.
A natureza tem em si um caráter inclusivo – além de acolher todas as crianças, ela não impõe nenhum pré-requisito para admitir a criança como aprendiz em seu território. Ela permite que a criança brinque no seu próprio nível de desenvolvimento, estimulando na medida das capacidades existentes e contribuindo para a aquisição de novas habilidades motoras, cognitivas, sociais.
Acreditamos que a natureza recebe cada criança em sua singularidade e atende as diversas necessidades e interesses, permitindo explorações na medida do conforto de cada uma. A natureza é para todas as crianças e é para cada criança estímulo na dose certa.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. MEC. Lei 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19394.htm> Acesso em: 06/08/2021;
DIAS, I. S., CORREIA S. e MARCELINO P. Desenvolvimento na primeira infância: características valorizadas pelos futuros educadores da infância. REVISTA ELETRÔNICA DE EDUCAÇÃO. São Carlos, Programa de Pós- Graduação em Educação, 2007. Publicação contínua. ISSN 1982-7199. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br. Acesso em: 08/08/2021;
FAZENDA, I.C.A. e CASADEI, S.R. Natureza e Interdisciplinaridade: reflexões para a Educação Básica in Revista interdisciplinaridade- v. n1, n.2.(out. 2012). São Paulo: PUCSP,2012.
* ANA LÚCIA MACHADO
-Bacharel
em Relações Públicas com
especialização em Pedagogia Waldorf,
transdisciplinaridade em educação,
saúde, liderança e cultura de paz
pela UNIPAZ (1991;
-Pós-graduada em deficiência intelectual
pelo Instituto APAE de São Paulo(2019);
-Educadora e pesquisadora da cultura da infância ;
-Escritora autora dos livros:
A Turma da floresta uma brincadeira puxa
outra e
Livro do Educador brincando com a natureza (plataforma Educando Tudo Muda)
-Graduação em Pedagogia com habilitação Pré-Escolar pela Universidade Metodista de Piracicaba (1984);
-Mestrado em educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (2001);
-Doutorado em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUCSP (2013);
-Pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada em Pessoas com TEA. (2019);
-Pós - Doutoranda da UNEB- Campus VI- Caetité-BA, no Programa de Pós-graduação e em Ensino, Linguagem e Sociedade (PPGELS); e
-Membro dos grupos de pesquisa: GEPI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade (PUC/SP), INTERESPI- Grupo de Pesquisas em Espiritualidade e Interdisciplinaridade (PUC/SP) e PPGELS- UNEB- Campus VI- Caetité-BA.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Tenho uma dúvida; crianças nascidas na pobreza têm o mesmo desenvolvimento de crianças nascidas em berço de ouro? Pais que não tiveram oportunidades educacionais ou tiveram e não aproveitaram, têm o poder de percepção ao que se refere o texto ou tudo ficará por conta da natureza? Parabéns por nos fazer refletir.👏👏🇧🇷
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