sábado, 16 de dezembro de 2023

A escola no multiverso


Autor: Lucio Panza(*)
 

O Brasil é o terceiro país com o pior investimento público por estudante na educação básica entre os países da organização. Durante os anos de 2017 a 2022, o país teve uma redução considerável da verba pública empregada no setor da educação segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dos 47 países que fazem parte do grupo.

O estudo desenvolvido por Clóvis Trezzi apresenta como reflexão a dificuldade que o Brasil possui em "transformar seu projeto de educação em projeto de nação". Isso se dá pelos diferentes trabalhos e perspectivas que cada governo adota em relação à educação e enfatiza que a educação "parece ser mais tratada mais como política de governo do que como política de Estado".

Aliada às questões políticas, temos as pautas pedagógicas. A metodologia STEAM, que promove uma maior interação não só entre os conteúdos e as áreas do conhecimento, mas também entre os estudantes que aprendem de forma ativa e colaborativa é uma realidade já em diversos países, sendo uma demanda mundial. No Brasil, caminha a passos bem lentos, mesmo que as peças de publicidade digam o contrário.

O que vemos nas escolas ainda (estou lecionando em três unidades) e o contato com diversos profissionais que tive para escrever este artigo é um ambiente extremamente repressor, opressor e desinteressante. A alguns dias, fiz uma dinâmica em sala de aula e em determinada pergunta de como os meus alunos viam a escola e a resposta mais frequente era “um hospício”. Não ocorreram resposta que façam alusão a ambiente acolhedores, receptivos ou celeiros do aprendizado e do conhecimento. Isso ligou meu alerta. E é não é um caso isolado, ou seja, o aluno não tem prazer em estar ali naquele espaço. Isso é um grave problema. Tenho levado muito em conta esse feed back que eles nos devolvem. Não é brincadeira!

Entender a sala de aula como um local flexível é um dos primeiros passos para se pensar a diversificação das nossas práticas. A mudança, no entanto, não deve acontecer de forma isolada e precisa estar inserida dentro de uma proposta política e pedagógica. E como fazer isso se grande parte do corpo docente ainda trabalha de forma tradicional e resistente aos processos de mudanças que não são fáceis, reconheço, afinal estamos mexendo em uma estrutura que foi idealizada para ficar para sempre.

O modelo das cadeiras enfileiradas aponta para uma educação centralizada no professor, que o coloca na posição de detentor do conhecimento e direciona todos olhos e corpos a ele. Essa estrutura não atende às propostas educativas dialógicas, em que o professor se apresenta como mediador do conhecimento. Esse modelo não se sustenta mais. O professor deve buscar integrar-se ao grupo de estudantes e estar acessível a eles com afeto e proximidade.

Os trabalhos em grupos são extremamente importantes, pois trabalharmos juntos é fundamental para que as relações positivas na sala se estabeleçam. Não estou dizendo que o modelo em U, L ou outra disposição não convencional atende melhor ou um é mais importante que o outro, mas a escola tem o papel de descartar um determinado arranjo que não tenha mais funcionalidade.

Nós, enquanto escola precisamos repensar esses espaços, para que esse clima de ambiente hostil seja dissolvido. Uma boa opção seria promover a circulação e acesso pelo bairro ou pela cidade como direito fundamental dos estudantes na utilização de espaços públicos como museus, praças e parques para que aula aconteça nesses lugares também.

Nós estamos no século XXI e a revolução tecnológica ainda não aconteceu, talvez no Multiverso, quem sabe, explorando para a Teoria Quântica tão em voga atualmente. Ainda hoje, as escolas estão sem computadores, tablets, data show e equipamentos que auxiliem a dinâmica pedagógica.

Retomando a discussão política, como podemos melhorar os investimentos públicos em educação e qual a escola que queremos, afinal?

Lucio Panza

 



Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2023. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/ocde> Acesso em: 29 nov. 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

TREZZI, Clóvis. O acesso universal à Educação no Brasil: uma questão de justiça social. Ensaio: aval. pol. públ. educ. [online]. 2022, vol.30, n.117, pp.942-959. Epub 09-Nov-2022. ISSN 1809-4465. https://doi.org/10.1590/s0104-40362022003003552.

*LUCIO PANZA









-Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -UFRJ  (2006); 

 -Pós-graduação  em:

    - Biociências e Saúde pela Fiocruz (2013) e
    -Ensino de Ciências e Biologia pela UFRJ (2015)
- Revisor técnico do material Rio educa;

- Criador de material pedagógico inédito e exclusivo de baixo custo para professores;

-Atua como professor regente no magistério público estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro;

-Possui experiência em mediação de exposições científicas em espaços formais e não-formais.

- Desenvolve projetos didáticos com foco no aspecto lúdico como instrumento de aprendizagem; 

-Consultor pedagógico do grupo Somos Educação;

- Professor Inovador IV 2022 (Coletânea de práticas pedagógicas de professores que inspiram);

- Educador Transformador 2023 (Projeto selecionado para concorrer ao prêmio).


Nota do Editor:


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