domingo, 20 de julho de 2025

Relacionamentos líquidos ou descartáveis



  @ Elias Hermenegildo

 

Com o advento da internet e com ela a alta comunicação, que se torna cada vez mais rápida e eficiente, mas nem sempre eficaz, essa realidade pós-moderna chegou também aos relacionamentos.

Adiantamos os áudios, não temos mais tempo, e aí digitamos, enviamos e quando recebemos de alguém colocamos na velocidade 2 (dois). Vivemos na cultura da pressa, da efemeridade e isso também é valido para os relacionamentos, tornando-os cada vez mais efêmeros, utilitários, descartáveis e líquidos.

Em seu livro Modernidade Liquida esse conceito é muito bem desenvolvido pelo filosofo, sociólogo e psicólogo polonês Zugmunt Bauman (1925-2017). Um dos maiores intelectuais do século XXI.

Essa cultura da pressa, da alta produção, atingiu também os relacionamentos e é até chique dizer que não temos tempo para nada, e assim temos uma geração que perde a saúde para ganhar dinheiro, e depois perde o dinheiro que ganhou para recuperar a saúde que perdeu. Aí o paradoxo existencial. Vivemos como se nunca fossemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido, passamos pela vida e nos esquecemos de viver. Bom seria que pudéssemos viver antes de morrer.

Trocamos rapidamente a ética, pela estética, o caráter pelo cara ter, trocamos a profundidade pela praticidade, curte compartilha e esquece. E assim objetificamos e descartamos os relacionamentos como se fosse uma peça que não se encaixou, fizemos um test drive e não gostamos, foi como se fosse um copinho de cafezinho descartável.

E assim de uma maneira consciente ou mesmo inconsciente seguimos o sistema, o algoritmo que está norteando a nossa vida, nossas ideias e achamos que estamos no controle de nossas ações e ideias, ledo engano, e assim nos comportamos como um boneco de ventríloquo e a tragedia esta anunciada sem percebermos que estamos trilhando a beira de um abismo existencial.

As redes sociais alimentam esse tipo de relacionamento, com uma avidez sem controle e ou limites, cada vez mais lenha na fogueira, ninguém quer se prender a ninguém e ninguém está mais disposto a investir num relacionamento e ficar é mais comum que namorar, qualquer sinal de atrito e tudo está descartado e ou liquidado. Convém lembrar que não é só no relacionamento interpessoal, esse tipo de relacionamento líquido ou descartável está presente em toda relação seja ela qual for. Inclusive nas relações metafisicas com as divindades também é líquido.

Concordemos ou não esse é nosso tempo pós-moderno, onde tudo é efêmero e por medo de confiar, e se prender em alguém e se decepcionar pelo investimento, as pessoas estão cada vez mais só, e distantes uma das outras, e o que é pior muitas vezes distantes de si mesma, sem nem se dá conta para onde estão indo.

ELIAS HERMENEGILDO














-Psicólogo, Professor, Mestre em teologia, Capelão e Juiz de Paz;

-Formado em Liderança Avançada Pelo Instituto Haggai;

-Palestrante na área de liderança, família, psicologia da religião e educação inclusiva.

Nota do Editor:

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