Bom dia amigos!!
Nesta seção continuando a alternatividade voltamos à Seleção de Artigos do Domingo.
Esclareço que estes versarão sobre direito, política ou qualquer outro assunto interessante ou de interesse público publicado hoje nos jornais, revistas e blogs.
Semana que vem teremos novamente os Editoriais Políticos do Domingo!!
Bem, vamos deixar de conversa fiada e vamos aos Artigos que selecionei para hoje!!
Jânio Freitas - Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos, terças e quintas.
Folha de São Paulo 26/04/2015 02h00
Tão citada há tantos meses, a crise ainda não começou. O que parece estar às avessas e de pernas para o alto, os problemas entre os Poderes, a inversão de Dilma, os desarranjos do governo, e tudo o mais, são pedaços desarticulados do que pode vir a ser a crise.
Depende de que essas partes, ou as principais, se associem na mesma direção em que configurem uma afronta à ordem institucional. Antes disso, crise é uma força de expressão usada sem cerimônia –como tudo mais no Brasil atual.
O quanto se está distante do ponto de fervura, não dá para estimar. Certa é a geração continuada de fatores próprios da elaboração de crise. Os quais se apresentam, a meu ver, de forma sem precedente entre nós. Ou ao menos desde muitas décadas.
O governo Dilma tem sua própria situação crítica, feita da combinação desequilibrada de dificuldades administrativas e dificuldades com sua desleal base parlamentar. A luta partidária/ideológica, em que só um lado tem tido voz, difundiu a interpretação de que a realidade perturbada do governo é "a crise".
Não é, no entanto, sequer o causador das mais retumbantes confrontações no âmbito do Congresso. Com o Judiciário, apesar do desagrado no Supremo pela demora na indicação do novo ministro, o relacionamento do governo não tem e não teve embate algum.
No Congresso, Senado e Câmara vivem condições muito diferentes, embora conduzidos pelo mesmo partido, o PMDB. Afora Aécio Neves e mais dois ou três oposicionistas excitados, a quietude do Senado lembra uma sala de cinema durante filme romântico.
Renan Calheiros faz uma hábil fusão de pronunciamentos próprios de presidente com os pessoais, espicaçando Dilma e o governo, reagindo ao presidente da Câmara ou atacando o procurador-geral da República, mas sem suscitar problemas de fato.
Ainda que Renan Calheiros recebesse expressões de solidariedade ao aparecer entre os processados na Lava Jato, sua exaltação não deu em hostilidade entre o Senado e a Procuradoria Geral da República, nem houve ataques ao Supremo por aceitar o processo.
É mais ou menos isso que se passa também na relação de Renan e do Senado com Dilma e com o governo. O problema real de Renan e dos senadores é com Eduardo Cunha. E não foi provocado por eles.
A Câmara está em uma espécie de rebelião branca. Iniciada a ideia de Eduardo Cunha, tão repetida quanto equivocada, de que a Câmara é um poder independente, quando é parte do Congresso. Na prática, a independência revelou ser uma desconexão geral.
A chamada base aliada desintegrou-se. A bancada do PMDB abandonou a linha do partido e passou a orientar-se por Eduardo Cunha. Os pequenos partidos, integrassem ou não a base governista, quase todos servem a Cunha.
A pauta de votações não tem conexão com o governo: segue, declarada e estritamente, o decidido por Eduardo Cunha. O colégio de líderes, como a Mesa Diretora, apenas endossa as decisões do presidente. As comissões se criam e são compostas por decisão de Eduardo Cunha.
Ao findar a semana, duas novas demonstrações de que a desconexão é mesmo geral. Uma, a atitude superior de Eduardo Cunha de avisar ao presidente do Senado e do Congresso que, se o projeto da terceirização não for submetido com presteza à votação dos senadores, todos os projetos originários do Senado irão para o freezer na Câmara.
A outra demonstração: a bancada do PSDB aderiu à linha Cunha e, por seu líder Carlos Sampaio, fez saber que até quarta-feira apresenta o pedido formal de impeachment de Dilma, contra a posição da cúpula peessedebista. O rebelado Sampaio adotou também a ideia de independência: "O pedido de impeachment é da Câmara e a bancada tem independência para decidir". Como no PMDB, fim da direção partidária.
A reação de Eduardo Cunha à sua inclusão nos processados da Lava Jato foi, e continua, muito mais forte que a de Renan Calheiros. No final da semana ele divulgou mais uma ideia de alteração dos poderes judiciais: no caso, um projeto de retirada, do Supremo para a primeira instância, dos processos contra parlamentares. Solução, em causa própria, para encaminhar os processos à prescrição e invalidar a ação da Procuradoria Geral da República.
Eduardo Cunha, sem dúvida, vai se mostrando um fenômeno político. E a sua Câmara, a Casa que gera e dissemina os fatores capazes de levar à crise verdadeira.
Humberto Werneck - Jornalista, colunista do Estado de São Paulo e escritor,autor de O pai dos burros e O santo sujo: a vida de Jayme Ovalle, entre outros livros.
Estado de São Paulo 26 Abril 2015 | 09h 23
Você acreditaria se alguém lhe contasse que um sujeito doce como o Vinicius de Moraes deu tabefe em mulher? Logo ele, que tão apaixonadamente as cantou, em mais de uma acepção do verbo? Pois saiba que aconteceu - e não soubemos disso por algum ressentido que o poeta, com desempenho amoroso mais apreciável, tenha despejado de coração feminino. Foi o próprio Vinicius quem revelou ter estapeado, e em público, um rosto de mulher alheia.
O episódio é contado numa carta ao amigo Lauro Escorel, recolhida por Ruy Castro no livro de correspondência Querido poeta. De Los Angeles, onde servia como diplomata, Vinicius escreveu, em setembro de 1949: “Nunca esquecerei a bofetada que dei, em retribuição, na G.P., mulher do ex-cônsul aqui. Tudo por causa de uma anedota sobre judeu, contra a qual reagimos possessos” - ele e Tati, sua primeira mulher.
Só uma história assim para me fazer voltar ao tema de que me ocupei nas duas últimas semanas, o de escritores que momentaneamente trocaram a pena pela luva de boxe, aí incluídos os uppercuts verbais, por vezes mais eficazes que um direto no queixo. Raul Pompeia e Olavo Bilac, por exemplo, não chegaram ao pugilato propriamente dito, mas trocaram ofensas tão devastadoras quanto os punhos de um peso-pesado. Melhor fora se tivessem feito como Carlos Drummond de Andrade, que Paulo Mendes Campos foi encontrar em desalinho na repartição, a procurar pelos óculos caídos: o poeta “embolara-se com um funcionário malcriado que o ofendera. E estava bem feliz com o resultado do round.”
No caso de Pompeia e Bilac, uma disputa política não tardou a descambar, em artigos na imprensa, para uma fuzilaria em meio à qual, jamais se saberá com que dose de razão, o primeiro foi chamado de “masturbador”, e outro, de “incestuoso”. Amigos conseguiram convencê-los a renunciar a um duelo com pistolas, mas não adiantou: inconformado, o romancista de O Ateneu matou-se no Natal de 1895, aos 32 anos.
Não precisaram chegar a tanto José Lins do Rego e Lúcio Cardoso, expoentes do romance brasileiro que em 1937 se desentenderam na Livraria José Olympio, fervedouro de escritores no Rio de então. Também naquele caso, a desavença teve raiz na política: intelectuais se crisparam nas trincheiras inconciliáveis do comunismo e do integralismo, numa disputa que daria a Getúlio Vargas um pretexto para desfechar o golpe do Estado Novo.
A escaramuça seguiu-se à publicação de Mundos mortos, do romancista católico Octávio de Faria. O livro foi mal recebido pelos cultores do “romance social”, entre os quais José Lins do Rego. Estava ele na livraria quando chegou Lúcio Cardoso, que também era católico. “Cambada de carolas!” - rosnou o autor de Doidinho. Em segundos, estavam aos socos e pontapés. “Esbofeteado o sr. José Lins do Rego”, alardeou um jornal.
Menos mal que tenham usado só as mãos, e não atiçadores de fogo em lareira, como fez, em 1946, o filósofo Karl Popper contra Ludwig Wittgenstein, fazendo desandar uma conferência que proferia em Cambridge, universidade onde o colega imperava como estrela-mor. Disposto a provocá-lo já no título da fala - “Existem temas filosóficos?” -, a certa altura Popper abandonou a vã filosofia e empunhou um atiçador. O sururu durou pouco e terminou sem sangue, mas ainda é lembrado, tendo merecido um livro, The Story of a Ten-Minute Argument Between Two Great Philosophers, de David Edmonds e John Davior.
Em matéria de escritor batendo boca, sou mais o Monteiro Lobato, que em 1915, tendo recolhido no litoral paulista um pinguim extraviado, embarcou com ele num bonde em Santos. Esbarrou no rigor do motorneiro português: “É proibido conduzir aves nos bondes”. Tentou engrupi-lo com a conversa mole de que pinguim seria filhote de foca. “Com ave o bonde não segue”, fincou pé o condutor, interrompendo a marcha. “E se o Ruy estivesse aqui?” - sacou Lobato, como que encarnando sua personagem Emília. “Que Ruy?” - estranhou o outro. “A Águia de Haia”, de certa forma uma ave. Desfecho da história: o escritor teve que apear. Devolveu o bicho ao oceano - e guardou um consolo, registrado em carta a um amigo: de todos os pinguins, o seu foi o único que andou de bonde.
Mas chega desse assunto. O cronista não quer correr o risco de que a insistência lhe valha um uppercut, ainda que em sentido figurado.
O Brasil que o PT não conhece (ou ignora, pois não lhe interessa)
in http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/
26/04/2015 às 10:10
Rodrigo Constantino - economista e colunista brasileiro. Foi articulista da revista "Voto" e escreve regularmente para os jornais "Valor Econômico" e "O Globo"
O PT não inventou a corrupção, mas a levou ao estado da arte, institucionalizou-a e a banalizou. O PT é tanto causa quanto sintoma da enorme inversão de valores que o Brasil de hoje vive. Mas não resta dúvidas de que há muita gente no Brasil que, infelizmente, adota a máxima do “jeitinho”, da “malandragem”, e que olha para Lula como um exemplo de sucesso: o “esperto” que se deu bem na vida, não importa como (e sem dúvida não foi se instruindo e trabalhando de forma séria e honesta).
Por isso mesmo, pelo fato de essa cultura da malandragem estar tão enraizada em nosso cotidiano, que quando aparece alguém pobre e honesto, chama logo a nossa atenção. O que se espera no Brasil é que o sujeito que encontra dinheiro ou um bem de valor se aproprie dele, em vez de tentar devolvê-lo ao dono. Se for alguém humilde financeiramente, pior ainda: a maioria acha que o natural seria surrupiar o bem, talvez em nome da “justiça social”. Um ranço da mentalidade marxista. Apenas mais um.
Aquilo que deveria ser o normal é a raridade em nosso país, e é justamente por isso que vira notícia quando a pessoa humilde devolve o produto ou o dinheiro. Deveria ser o básico, o óbvio, a atitude de qualquer pessoa que teve um pingo de educação, independentemente da conta bancária (pois ela não define o caráter, ao contrário do que pensa a esquerda). Infelizmente, ainda não chegamos lá, e continuamos tratando como heróis aqueles que apenas fizeram o que deveriam: foram honestos e prestativos.
Como ainda estamos nesse estágio embrionário de evolução cultural, e na verdade em uma fase atual de retrocesso, creio que é importante valorizar essa gente que cumpre com seu dever de cidadão honesto. Por isso vou relatar abaixo o que aconteceu com meu pai essa semana, quando voltava de viagem. Esse é o Brasil que o PT não conhece, ou melhor, que ignora deliberadamente, pois vai contra sua narrativa oportunista. Vejam e avaliem por conta própria se esse rapaz tem o perfil da típica vitima ou do típico cúmplice do PT:
Coloquei a mochila preta entre mim e a minha mulher no banco preto do taxi. Vim conversando com o motorista (jovem) que disse que estavam tentando junto com a administração colocar um pouco de ordem nos taxis. Lamentava até os da bandalha porque, como guardas e outros fazem parte da quadrilha, os passageiros eram direcionados para eles, ao invés de pegar os da empresa dele que cobra no taxímetro.
Disse esperar no futuro que coloquem cancela para que no embarque só os taxis autorizados possam entrar. Falou ainda da absurda diferença entre os carros que oferecem serviço dentro do aeroporto, tais como Coopertra, Cotramo, etc, que cobram o dobro de uma corrida comum. Para ter uma ideia, paguei R$ 80 enquanto a Cotramo ou outra daquelas me cobraria R$ 160 (perguntei lá dentro).
Bem, dito isto, esqueci minha mochila no carro. O dinheiro para pagamento estava na carteira no meu bolso. Na mochila tinha passaporte, telefone iPhone 5, Macbook, iPad e outras coisas mais. Não conseguia falar com a empresa via telefone, e estava pensando em voltar ao Galeão para uma última tentativa. Meu medo era que o motorista não tivesse visto e que alguma pessoa pegasse a mochila.
Para minha sorte, um passageiro viu a mochila e entregou ao motorista. Esse não tinha meu telefone, embora soubesse onde eu morava. Olhou a mochila (me pediu desculpa depois por ter olhado), e achou uma receita do médico. Ligou para o consultório. Final feliz: ele não queria aceitar nada como retribuição, dizendo que era sua obrigação. Voltou e me devolveu a mochila. Achei por bem gratificá-lo e ele não queria aceitar.
Depois de dar R$ 200 após as recusas iniciais, achei pouco, pois ele fez outra corrida longa até minha casa para devolver a mochila. Quis dar mais R$ 100, liguei para ele e pedi a conta dele para fazer o depósito. Eis a resposta dele:
Confesso que acho que já deu o bastante. Pois não fiz mais que minha obrigação. O senhor já foi bem generoso. Mas já que insiste, entendo. [passou a conta]. Obrigado mesmo.
Às vezes temos surpresas agradáveis nesse país com tanto roubo.
Sim, pai, às vezes temos mesmo. E pensar que essa postura deveria ser o padrão, o óbvio, o normal, como você sempre me ensinou, com palavras e atitudes. A primeira aula contra o petismo, contra o socialismo, contra a corrupção e o relativismo moral começou bem cedo: “nunca pegue aquilo que não lhe pertence, que é dos outros”. Um pai que ensina isso aos filhos, no parquinho ou na praça, já está incutindo neles o antivírus contra o petismo, está fornecendo o antídoto contra os “justiceiros sociais” que acham normal roubar o que é dos outros em nome da “igualdade”.
Obrigado, pai. E parabéns, Marcus Vinícius (o motorista), por manter acesa a chama da esperança em um Brasil melhor, em que a propriedade privada seja vista como um bem sagrado, e a honestidade uma virtude valorizada.
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