Autora: Christiane Pereira(*)
No século XXI, a sociedade inseriu-se em um mundo no qual a conectividade com tudo e com todos permitiu com que o ser humano estivesse disponível em 100% do tempo. Sendo assim, a vida cotidiana tornou-se mais exigente e as pessoas sentem-se cobradas a responderem instantaneamente a todas as demandas. O convívio familiar, dentre tantas outras situações, foi extremamente comprometido, haja vista que, mesmo em casa após o horário do expediente, os pais são solicitados a resolverem situações de trabalho. Os filhos, por sua vez, mergulham no mundo virtual iludidos com todo aquele universo de amigos cibernéticos.
A relação familiar foi duramente impactada por esse novo cenário, pois, apesar de juntos dentro de casa, cada elemento da família está envolvido com o seu mundo individual e virtual e já não há mais tanto espaço para o diálogo que proporciona o conhecimento e a percepção de mudança no comportamento dos filhos, principalmente os adolescentes. A escola, no que lhe concerne, está envolvida demais com o desenvolvimento de seus conteúdos e aplicações de seus simulados que garantirão o ingresso dos estudantes às universidades de grande porte, elevando o prestígio do colégio que poderá captar mais alunos.
O adolescente, em sua fase mais complexa da vida, experimenta esse mundo e suas exigências sem as ferramentas necessárias para enfrentá-lo. Ele se vê em um momento de transição em que já não tem mais a segurança e a proteção da infância, mas também não desenvolveu a autoconfiança, a força e a determinação de um adulto. Enfrenta um turbilhão de mudanças biológicas e psicológicas inserido em um universo de obrigações dentro do ambiente escolar, familiar e social. O jovem exige que já não o tratem mais como criança e os adultos que se relacionam com ele, tanto na família quanto na escola, também ficam perdidos sem saber como lidar com a situação já que também saíram de sua zona de conforto do tempo em que o jovem era menor e a relação era mais fácil.
Em busca do seu lugar ao sol, o adolescente procura se adequar aos padrões estabelecidos seja pelo grupo de amigos e de familiares ou pela mídia que insiste em idealizar a perfeição como algo que pode ser fácil e obrigatoriamente conquistado. Com sua visão distorcida da realidade, o jovem avalia que precisa ser popular e admirado para atingir a felicidade plena. Nem sempre os adolescentes conseguem lidar com essa avalanche de informações, exigências, necessidades... A partir daí, o caminho para a depressão está aberto. A sensação de ser incapaz de conquistar a popularidade, o padrão de beleza, a admiração, somados a situações de stress que envolvem estudos, aprendizagem, bom desempenho em todas as áreas de atuação, escolher a profissão – que muitas vezes é influenciada pelo desejo dos pais - , passar no vestibular de uma universidade de peso, trilhar o caminho do mercado de trabalho almejando o sucesso emocional e financeiro.
As facetas desse momento da vida são muitas e os sintomas de uma depressão podem ser confundidos com sentimentos característicos da adolescência. Os pais, ávidos por garantir que seus filhos conquistem o sucesso na vida adulta, cobram resultados e, muitas vezes, entendem a fadiga – característica da depressão – como preguiça ou falta de comprometimento com as novas responsabilidades. O adolescente, envolvido em seu emaranhado de emoções, não consegue expressar que precisa de ajuda. Nesse momento, as atitudes tanto dos familiares quanto dos profissionais que lidam com ele na escola serão determinantes para identificar o problema e buscar a ajuda necessária.
Para o adolescente, notar que os adultos de seu convívio e também seus amigos estão preocupados e abarcados na missão de ajudá-lo a enfrentar esse momento será fator determinante para o sucesso do tratamento. Terapia individual com apoio e orientação aos familiares, medicamentos, atividade física e envolvimento com hobbies escolhidos pelo próprio jovem poderão exercer grande influência na evolução para a cura. A escola pode proporcionar momentos de convivência com o grupo de amigos incentivando-os a compartilharem angústias, incertezas e, principalmente, histórias de superação dessas situações tão comuns nessa fase. Muitas vezes, o fato de constatar que existem muitos outros adolescentes enfrentando as mesmas dificuldades auxilia na aceitação do problema que é o passo mais significativo para a busca da ajuda necessária.
Posto que a adolescência é a fase mais complexa por que passa um indivíduo, o alicerce familiar e o sustentáculo por parte de professores, de orientadores e de coordenadores acarretarão grandes possibilidades de sucesso no enfrentamento das dificuldades peculiares da etapa, sejam elas acompanhadas de depressão ou não. O olhar atento desses adultos que convivem com os adolescentes será determinante para auxiliar esses jovens na busca de uma nova identidade porquanto é saudável que a antiga seja superada para que eles se tornem adultos autoconfiantes, determinados e fortes de maneira que carreguem a certeza de que nada é fácil nessa vida, mas nos momentos de maiores aflições eles saberão onde encontrar um porto seguro.
POR CHRISTIANE PEREIRA
-Formada
em Artes Plásticas, Pedagogia e Magistério com especialização em Educação
Infantil;
Arte
Educadora e Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental; e
Atuou
como Orientadora Pedagógica e Educacional
Twitter: @Chris_PPereira
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Muito bom!
ResponderExcluirBelo texto...
Obrigada!
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