Este texto tem o objetivo de refletir as discriminações que vão se infiltrando em nossa existência, tanto nos tornando discriminados como discriminadores. Sobretudo propor questionamentos e reflexões. Passar-se-á por questões religiosas, raciais, sexuais, econômicas e outras que possam implicar em marginalizações. Hoje se faz presente na Educação àquilo que denominamos de Inclusão, que está caminhando na direção da transformação aqui apontada. É preciso observar que grande parte da violência presente nas escolas, como por exemplo, o “bullying” é fruto exatamente de descriminações ainda não trabalhadas. Será fundamental a percepção do educador no sentido de que cada aluno é singular e deverá ser incluído e não apenas os com deficiência ou com problemas raciais.
Pensamos a igualdade como sendo algo sem diferenças, a ausência de diferenças. A igualdade ocorre quando todas as partes estão nas mesmas condições, possuem o mesmo valor ou são interpretadas a partir do mesmo ponto de vista, seja na comparação entre coisas ou pessoas.
A igualdade está diretamente ligada às iguais oportunidades e ausência de obstáculos para os indivíduos, de forma que todos possam se desenvolver mesmo diante das diferenças individuais.
Na filosofia do Iluminismo vimos que o conceito de desenvolvimento da individualidade deveria ter como suporte a igualdade ou que nenhum homem deveria servir de meio para os fins de outro homem, as relações deveriam ser horizontais e não verticais.
Judicialmente a igualdade é prevista no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988, no principio da igualdade ao afirmar que todos os homens são iguais perante a lei. É complementada com a igualdade formal e igualdade material, em que são sugeridas a elaboração de políticas públicas para amenizar a desigualdade social e erradicação da pobreza, resultando assim na igualdade social.
Neste sentido precisamos tomar alguns cuidados, pois são desconsideradas as diferenças entre as pessoas e criam-se os espaços excludentes na sociedade.
É natural ao ser humano sua busca por se sentir amado, admirado, reconhecido. Por conta disso ele procura superar segregações, sente-se seguro quando não tem sentimentos ou pensamentos que o diferencie dos costumes de seu tempo. Essa ação, essa conformação pode ser imposta, como acontece em sistemas políticos ditatoriais ou sutilmente direcionados como acontece nas democracias.
Desta forma faz-se necessário falar sobre mais dois conceitos: o da identidade e o da diferença. Identidade é o que se é, como: "sou negro", "sou homem". A diferença é uma entidade independente e oposta à identidade "ela é branca", "ele é argentino". São conceitos mutuamente determinados, são inseparáveis. Percebe-se que a origem dos preconceitos está relacionada com posições de identidade que julgam-se auto suficientes, superiores, escolhidas. São os geradores de diversos casos de preconceito, de ódio e de violência como o de oligarquias que criam e mantém desigualdades sociais, explorações do trabalho humano e supressão da liberdade. (SILVA, 2000).
Este fato está presente em grupos cuja identificação religiosa desvirtuada levam à promoção de barbáries em nome de sua crença e na exploração financeira de fiéis. Grupos de identidades radicais que ainda promovem a discriminação racial, mesmo após a humanidade ter conhecido nomes grandiosos como Ghandi, Martin Luther King, Nelson Mandela entre muitos outros nomes.
Casos que ocorrem em estádios de futebol onde torcidas brancas atacam jogadores negros com gestos e expressões inaceitáveis para o senso comum, assim como nas escolas temos os casos de bullying que não raro chegam ao extremo da violência causando a morte de crianças e adolescentes.
Além do preconceito racial, a igualdade de gênero tem causado muita polêmica nos últimos anos. Temos a situação da mulher que avançou consideravelmente, mas se vê como ainda é discriminada. De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 2014, as mulheres brasileiras percebem salários 27% inferiores aos salários de homens em cargos equivalentes. Grupos querendo vincular a homossexualidade a uma doença. Há inúmeros outros casos de preconceitos que tem origem em desvios de grupos de identidades motivos de bullying.
A sociedade atual vive um processo de individualização que direcionam o eu a prevalecer sobre o nós, o indivíduo sobre a sociedade. Essa situação é também fonte de destruição da fraternidade, do crescimento do egoísmo, da dilapidação dos núcleos familiares, que deve ser a fonte de valores, de caráter para a formação da sociedade.
Lembramos aqui a perspectiva de injustiça social usada por Freire, sua luta por um mundo mais justo é o fundamento e o fio condutor da obra e da vida de Paulo Freire. Igualdade social tão difícil de ser conseguida, chega a ser uma utopia que para Paulo Freire é "a permanente mudança do mundo e a superação das injustiças"(FREIRE, 2007). Em meio a tantos problemas sociais com que nos deparamos todos os dias, somos movidos pelo desejo de se ter um mundo melhor, onde a desigualdade social que impera no mundo possa um dia ser ao menos amenizada, com menos crianças morrendo de fome. Sabemos que os países onde se tem um alto índice de pobreza são os países de pessoas mais corruptas, com os mais variados tipos de corrupção.
Mais uma vez percebemos que a falta de valores é o grande motivo que leva a desigualdade. O desrespeito para com o outro é tamanho que chega a ser criminoso se pensarmos nas mortes dos não atendidos nos hospitais e tantos outros que morrem nas ruas sem terem o que comer.
A busca pela inclusão é por sermos todos diferentes. Porém só o fato de sabermos que a diversidade nos faz evoluir e transformar, não é o suficiente para aceitarmos com naturalidade as pessoas diferentes seja fisicamente, intelectualmente e socialmente.
Tanto não nos transformamos que dias desses deparei-me com uma situação ao menos curiosa, recebi um vídeo muito bonito com vários cantores interpretando a música "Romaria" de Renato Teixeira. Assisti ao vídeo com um olhar de amor emanado por meio da música e nenhum outro sentimento significativo. Mostrei a uma amiga, pessoa de índole boa, para que compartilhasse comigo este sentimento e qual foi minha surpresa que o que mais chamou sua atenção foi o cantor "pretinho" que estava cantando junto com a turma de cantores "brancos".
Seria desnecessário falar a respeito de Igualdade racial, sexual, econômica, religiosa inclusão,bullying , se tivéssemos superado as discriminações que acontece quando nos transformamos pelo autoconhecimento (SANTO, 2017).
Referências:
SILVA, T. T da. Identidade e diferença. Organizado por Tomaz Tadeu da Silva. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2000 p. 73-102;
ESPÍRITO SANTO, Ruy Cezar. Autoconhecimento na formação do educador. São Paulo: Ágora, 2007; e
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007- 46ª ed.
-Professora, doutora em Educação: Currículo pala PUCSP e
-Pesquisadora em formação de professores e inclusão
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Brilhante!
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