Quem me acompanha no blog, já sabe que eu escrevo sobre inclusão social, com foco em inclusão escolar, mesmo porque sou professora e o exercício da inclusão se dá na escola.
Neste texto irei relatar uma experiência vivenciada por mim, e que julgo ser um dos principais acontecimentos de 2018, no que diz respeito a minha vida profissional e repercutiu em minha vida de uma forma muito intensa, por proporcionar um interessante encontro para a realização de um sonho.
Trabalho com atendimento de crianças com Autismo faz onze anos, tendo iniciado em Maceió- AL e recentemente com consultoria e apoio pedagógico a crianças, juntamente com o acompanhamento às famílias e nas escolas assessorando o processo de inclusão.
Primeiro gostaria de falar um pouco sobre inclusão. O tema inclusão não é novo, mas ainda muito comentado. Percebemos que de uma forma geral a atenção às diferenças vem crescendo e ganhando centralidade nas discussões. Porém, essas discussões só acontecem porque ainda excluímos e somos excluídos.
Nessa perspectiva, mesmo depois de tantos anos de discussão, ainda se faz necessário trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social, que garanta o acesso à educação e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos.
Trata-se das questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se entrelaçam na vida social, mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas com deficiência, populações do campo, de diferentes orientações sexuais, sujeitos albergados, em situação de rua, em privação de liberdade, de todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas políticas públicas.
Diante de tal realidade, nos deparamos com os desafios da inclusão da pessoa com Autismo. A falta de conhecimento sobre o que é Autismo é um dos fatores de maior gravidade para aceitação. Para tanto, se faz necessária uma divulgação cada, vez maior e de melhor qualidade com o objetivo de melhorar a vida das pessoas com Transtorno do Espectro Autismo (TEA) assim como de seus familiares e sociedade em geral.
Mesmo com o aumento considerável dos estudos sobre o TEA, ainda temos muito o que pesquisar. Os casos de crianças com esse transtorno aumentam a cada dia. Algumas leis de proteção às à pessoas com Autismo foram aprovadas recentemente, Lei n. 12.7642012, conhecida como Lei Berenice Piana, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro Autista. Em seu - Art. 1º, A pessoa com esses transtorno, para todos os efeitos legais, é considerada pessoa com deficiência. A Lei institui também a necessidade de um monitor, com formação qualificada, para acompanhar a criança com Autismo em sala de aula da escola regular de ensino, entre outros pontos.
A partir dessa Lei a pessoa com Autismo passa a ter os mesmos direitos da pessoa com deficiência, no Plano Nacional de Educação assim como na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com deficiência.
Pensando em alguns dados sobre os índices de indivíduos acometidos com TEA, temos atualmente 1 caso a cada 59 crianças, atingidas pelo Autismo, conforme dados do CDC- Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. A cada 4 delas, uma é do sexo masculino, um dos motivos por ser representado muitas vezes pela cor azul.
No Brasil não existe um número exato; há, porém, uma estimativa de que 1 a cada 110 crianças nascidas sejam acometidas pelo Autismo. (Revista Espaço Aberto da USP. 170ª edição).
Autismo é um conjunto de transtornos neurológicos que afeta o cérebro (desordens). O espectro é largo e tem muita coisa dentro deste espectro, a distância entre um espectro e outro é muito grande, alguns casos de Autismo são de origem genética outros não.
Ainda não temos outra forma da detecção senão a comportamental. De forma simples e resumida, podemos dizer que a pessoa com TEA apresenta déficits persistentes na comunicação, interação social e no comportamento em vários contextos.
O tratamento da pessoa com Autismo é permanente e nem sempre prazeroso. Entretanto, apesar da diversidade de tratamentos oferecidas às pessoas com Autismo, observa-se uma carência de terapias que utilizem a prática esportiva como ferramenta para o desenvolvimento da comunicação, interação social, estereotipias, bem como tratamento sensorial. Sendo assim, na busca de novas formas de inclusão da pessoa com TEA foi criado o Projeto Onda Azul e a primeira "aula" deu-se em 2015 na praia da cidade de Florianópolis- SC.
Considerando esse panorama, o Projeto Onda Azul se propõe a explorar um ambiente diferenciado das escolas e clinicas terapêuticas, utilizando de uma expressão diferenciada de habilidades, contribuindo para o desenvolvimento da saúde física, neurológica e a autoestima através da prática esportiva, do Surf.
O Projeto Onda Azul busca oferecer aulas de surf para Autistas através de um conjunto de metodologias que tem como objetivo proporcionar uma nova abordagem de tratamento, lazer e inclusão. Por meio da prática do surf aproxima se o indivíduo e sua família do ambiente litorâneo, proporcionando uma integração familiar e com a comunidade, além dos diversos ganhos no seu desenvolvimento sensorial, social e motor.
Por acompanhar esse trabalho, mesmo que nas redes sociais, pude perceber a grande possibilidade de levar o projeto para a cidade de Maceió- AL. Fui convidada, a organizar uma mesa de discussões no I Congresso Internacional sobre Práticas de Aprendizagem Integradoras e Inovadoras- I CIPAII, que ocorreu em Junho de 2018 em Maceió-AL. Deu-se então a oportunidade de convidarmos uma das autoras desse projeto a fim de mostrar de que forma tudo começou, como funciona e qual o objetivo do mesmo para o público do Congresso e também à comunidade maceioense, dando oportunidade para que os voluntários conheçam pessoas com Autismo e pratiquem a inclusão.
O sonho sonhado em 2015 realizou-se três anos depois em 2018 com a aula inaugural do projeto ainda como parte do Congresso. É a partir dessa vivência nas duas primeiras aulas que faço a relação do projeto de Surf Onda Azul com a vida, de forma que proporcionemos às pessoas com Autismos viver com as mesmas oportunidades de lazer e prazer que as demais pessoas. A alegria vista no sorriso de cada criança ao brincar com as ondas nos traz a certeza de que vida é conjugar o verbo viver e viver é conjugar o verbo amar. Esta foi e continua sendo uma oportunidade de doação pessoal a tantos e tantos voluntários.
Foi embebida desses momentos de tamanha emoção que escrevi:
Vida. O que é a vida?
Para mim vida nada mais é que conjugar o verbo viver.
E conjugar o verbo viver é também conjugar muitos outros verbos.
O mais importante de todos deles, é conjugar o verbo amar.
Amar nada mais é do que conjugar o verbo doar.
Viver para amar e me doar.
Vivo quando amo e amo quando me doo.
Amar a vida me leva à me doar para o outro.
Doo-me sempre que estou atento às necessidades daquele que está do meu lado.
Vivo sempre que morro para então entender o outro.
Amo sempre que perco meu tempo para doar ao outro o meu olhar, o meu ouvir.
Amo quando doo o meu sorriso ao outro e com ele conjugamos juntos o verbo sorrir.
Amando, doando, olhando, ouvindo, sorrindo continuo a conjugar o verbo viver e assim continuo amando a vida!
POR MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL
-Professora, doutora em Educação: Currículo pala PUCSP e
POR MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL
-Professora, doutora em Educação: Currículo pala PUCSP e
-Pesquisadora em formação de professores e inclusão
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