Autor: Luis Lago (*)
Cada vez se torna mais difícil saber quanto tempo faz que a dor e a miséria da alma (a primeira infinitamente maior que a segunda) tomou conta de nós.
Eu tenho buscado essa equação e, não por masoquismo senão por mera curiosidade, concebo indubitavelmente que meus cálculos são mais precisos que os seus.
Essa minha assertiva se assenta na ordem direta dos estragos que nos impingimos a nós dois e nas coisas ― por mais insignificantes que fossem ― que nos cercavam e que faziam parte de nós: os livros nas estantes, os quadros nas paredes, as cortinas cerradas ou abertas ao vento e ao sol, as vasilhas da cozinha e os pratos pousados mudos na mesa de jantar, nossas toalha comuns, nossos lençóis, nossos travesseiros; e nossas travessuras.
Vamos aos cálculos, então, para sabermos o tamanho da merda (ou do excremento, se você achar mais contundente) em que nos chafurdamos.
Antes, eu lanço os dados para nos posicionarmos: éramos meros adolescentes, mergulhados em doces sonhos e quimeras; saciados em suas fomes e sedes de carinhos e de amor; envolvidos por filmes de Godard, Resnais, Truffaut, ou de Glauber, ao som de Caetano, Torquato, Genesis e Pink Floyd.
Agora, eu lanço os cálculos, sem necessidade de maquinetas, ou de ábacos, ou de sorobans. Foram passadas muitas dezenas de anos; por conseguinte, rolaram centenas de meses; dezenas de centenas de milhares de horas, e com as horas, claro, foram arrastados os seus minutos e os seus segundos.
Essa barafunda numérica que eu arreganho, me fez recordar uma de nossas muitas arengas que dissertávamos em nossa varanda ao sabor da luz da lua e o cheiro dos alecrins, parafraseando um poeta chamado Casimiro de Abreu:
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida...
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!...
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!...
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
*LUIS LAGO
-Psicólogo graduado pela Universidade Santo Amaro(1981);
- Especialização em Terapia Comportamental; e
- Atuação clínica por 15 anos.
-Atualmente é Jornalista e Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")
Nota do Editor:
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