Autora: Ronália Lessa(*)
Freud disse que uma coisa bela por ser passageira não deve ser menos admirada por isso. E há algo de enfeitiçador e hipnotizador em uma bela imagem, porém na atualidade a dimensão do imaginário, ou seja da imagem parece comprometer as outras dimensões do sujeito que também é dividido em simbólico e real, como afirma Lacan.
O simbólico
que é a palavra já não é tão usado quando precisamos explicar algo ou nos
despedirmos de alguém com quem não desejamos mais nos relacionar, acabamos
mostrando uma foto para explicar situações ou deletando as pessoas com quem não
queremos mais nos relacionar, quando queremos chamar a atenção de alguém já não
escrevemos cartas e poesias ou fazemos declarações de amor, nos postamos uma
foto( com bastante foto shop) e assim as palavras se perdem e nós perdemos a
oportunidade de nos entendermos, pois apesar da linguagem ser um grande mal
Entendido é através dela que temos a chance de conhecer o outro.
A dimensão
imaginaria, da identificação, nos faz reconhecermos a nós mesmos nos outros,
mas também é onde os maiores conflitos acontecem, pois assim não conhecemos
realmente o outro com quem nos relacionamos e esperamos que ele seja a nossa
imagem e semelhança, sem conflitos iniciais, sem saber o que o outro é, e sem
reconhecermos o desejo deste.
O
narcisismo, segundo Freud, é uma fase do desenvolvimento entre o auto
erotismo(em que o bebê ainda não percebe nenhuma separação entre si e o mundo,
não tendo noção assim de eu ou de outro) e a fase objetal em que ele é capaz de
amar outras pessoas. Essa fase do desenvolvimento que faz referência ao mito de
narciso( que afogou-se apaixonado pela própria imagem) nos acompanhará por toda
a vida, mas como uma forma de investimento libidinal no próprio eu, sendo
importantíssimo na formação do sujeito, mas que sem se ligar também ao amor
objetal pode trazer grandes consequências, como a depressão ou transtorno
bipolar( chamados por Freud de melancolia) além de vários outros transtornos
psicológicos.
O
imaginário(a imagem) produz o corpo como unificado, por isso podemos dizer que
esse corpo ´sou eu, mas 'não somos um corpo, temos um corpo', como disse
Collete Soler em O corpo falante, e precisamos também do simbólico(palavra do
outro) para darmos forma e sustentação a esse corpo.
Pois
existimos antes mesmo de sermos carne, como quando nossos pais nos desejam, nos
imaginam e nos nomeiam ou temem e rejeitam nossa existência. E também após a
morte quando nos tornamos saudade, história ou deixamos obras que serão
lembradas. E se temos um corpo portanto fazemos uso dele, um uso socializado ao
modificá-lo e usá-lo como nos esportes. Porém existe um limite a este uso,
apesar de acreditarmos podermos ser o que quisermos e fazer o que quisermos o
sexual não está no nosso controle e o gozo põe limite ao uso deste corpo.
Assim
como precisamos do olhar do outro para formarmos nossa estrutura quando bebês
continuamos precisando por toda a vida.
Mas se faz
parte de todas as pessoas o narcisismo, pois ele foi parte do desenvolvimento,
continuar completamente ligado a ele, não transformando-o em amor objetal faz
com que os sujeitos se tornem psicóticos ou paranoico ou melancólicos.
Quando
entramos no simbólico saímos da fase de eu ideal em que tudo o que fazemos é
perfeito, ou seja saímos da fase de sua majestade o bebê para irmos para a fase
do ideal de eu, quando podemos construir algo, sempre em busca claro dessa
imagem ideal, mas sabendo de nossas falhas e de nossas limitações.
Em nossa
sociedade se diz muito sobre a importância de cuidar de si e do corpo para ter
uma auto-estima elevada, mas esses cuidados só tem efeito quando a palavra e o
olhar do outro ratificam o que queremos e procuramos. Apesar dos coaching
dizerem 'não dê ouvidos as críticas', 'faça o que é melhor para você', não se
importe com a opinião alheia', ' a ofensa só vale quando a aceitamos', ' você
tem o controle da sua vida' entre outros, nós somos seres da linguagem e do
inconsciente e não decidimos em que acreditar e qual dessas falas farão ou não
sentido, pesarão ou não em nossos sentimentos, pois isso depende de cada
um.
E sim a
opinião e o olhar alheio conta e conta muito, por isso mais do que nos amarmos
é necessário também distribuir amor nas palavras, gestos e olhares, pois isso
sim muda os sentimentos dos outros e o nosso, como Freud disse 'Um egoismo
forte constitui uma proteção contra o adoecer, mas num último recurso, devemos
começar a amar afim de não adoecermos.
RONÁLIA PAULINO LESSA
-Psicóloga da Marinha do Brasil;
-Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário UNIFAMINAS (2016);
-Pós-graduada em Psicologia Forense e Jurídica pela IBF(04/2019);
-Pós graduada em Neuropsicopedagogia pela IBF(04/2010);
- Licenciatura e Atendimento Educacional Especializado (AEE)
pela Faculdade São José Paulista (04/2019); e
Mestranda em Psicanálise e Políticas Publicas pela UERJ
-Psicóloga da Marinha do Brasil;
-Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário UNIFAMINAS (2016);
-Pós-graduada em Psicologia Forense e Jurídica pela IBF(04/2019);
-Pós graduada em Neuropsicopedagogia pela IBF(04/2010);
- Licenciatura e Atendimento Educacional Especializado (AEE)
pela Faculdade São José Paulista (04/2019); e
Mestranda em Psicanálise e Políticas Publicas pela UERJ
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