segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Economia: enquanto uns choram... outros vendem máscaras


 Autora: Ana Stucchi(*)

Extraída do Google

Estamos há 10 meses vivendo uma situação inusitada/não esperada/nunca vivida. Economia estável se comparada aos índices anteriores ao Plano Real. Porém, não só no Brasil, mas no mundo, viveu-se tempos talvez piores que o crack da Bolsa de 1929. Não necessariamente em termos de Economia, mas o "inconsciente coletivo" (termo criado pelo cientista Carl Gustav Jung) mostrou-se pessimista, suicida, com doses de falta de empatia num misto de desesperança no futuro.

Mas sempre numa crise setores da Economia se acabam ou quase acabam e outros sofrem menos e outros vão muito bem, obrigado. Quem planta soja para exportação nem sabe o que é crise. Bancos nem precisa citar. Mas, quem investiu em renda variável sentiu na pele os efeitos da curva abaixo:






Quem investiu em 2020, viu seus papéis virarem pó. Em média do valor que se investiu, caiu pela metade ou menos até (haja coração) no início da pandemia até meados de outubro. Os analistas pediram para esperar passar a turbulência. Quem conseguiu, recuperou o valor investido sem rendimento. Quem tiver ainda sangue nas veias vais esperar os bons ventos de 2021, embora nada seja certo depois dessa inesperada força quase invisível que derrubou Mercados, estatísticas, projeções e afins. Porém, vamos ver quem quem vai muito bem obrigado, e quem perdeu:

Quem ganhou $$$$

Quem exporta

Quem exporta esse ano deu risada à toa. Porque muitos países antes no mundo em lockdown fez com que a necessidade de importar produtos fosse maior, além da desvalorização do dólar que torna nossos produtos "a preço de banana". Lembram do arroz? Absurdo o que o governo fez, tirou comida do mercado interno e exportou. Nenhum país faz isso. Mas enfim...

Comércio eletrônico/internet/TI

Brasileiro é consumista. Então seja presencial, seja virtual, o comércio que se reinventou e já tinha um e-commerce mesmo embrionário, melhorou e surfou nas ondas do consumo.

Toda rede de serviço que pode ser feita remotamente demandou de empresas de TI que dispararam em atendimentos. 


Quem fabrica epi e máscaras (pra não dizer que não falei do título)

Setor têxtil levantou das cinzas dada a necessidade de confecção de máscaras e descartáveis em geral que tem uso menor numa situação de normalidade, hospitais de campanha, UTIs no país todo, empresas de epi também faturaram. O problema foi a alta dos preços, deixando a inflação em alta.

Quem  perdeu 😭

Quem investiu no setor Imobiliário

Desemprego + redução de salários desaqueceu o mercado imobiliário. Quem investiu em títulos nesse setor teve grandes perdas e os especialistas mais otimistas esperam que só co o fim da  pandemia que o setor volte a aquecer. Por enquanto stand by.

Quem esperava dividendos

Dividendos são "lucros da empresa" divididos entre os acionistas. Com a crise, os dividendos ficaram como reserva de caixa e os acionistas ficaram sem seus lucros. Por outro lado, as ações recuperaram seus valores, então não houve ganho. 

 Setor de serviços

Principalmente eventos, festas, atividades onde há aglomeração. Esses setores só ainda estão de pé porque ou se reinventaram ou os empresários tinham outras empresas em outros setores pra contrabalancear o baque.

Transportes

Sem aglomeração, fique em casa, foram os motes de 2020. Carro só em última necessidade, o que ocasionou queda nas vendas de automóveis. Daí toda uma cadeia produtiva sofreu com o desaquecimento das vendas nesse setor.

Ou seja: numa crise nem sempre se perde e numa normalidade nem sempre se ganha. Há de se olhar para os acontecimentos e tentar, sim tentar, porque pós pandemia não se vê mais nenhum guru dono das profecias econômicas. Mas a nossa sorte que brasileiro nunca desiste. Principalmente se for carnaval e Copa do Mundo de Futebol.

Resolvi fazer um + plus esclarecendo sobre o caso Ford (e outras que podem cair do telhado do país nos próximos meses), compartilhando uma análise lúcida do Prof. Paulo Morceiro @PMorceiro:


"A Ford foi só a primeira grande empresa que está saindo fora. Não deve ser a última deste ano. Não vai brotar demanda do nada se imperar o pensamento das reformas e ajuste fiscal que domina o debate público.

Se uma empresa tem 3 fábricas c/ capacidade ociosa de 35% em cada a solução é fechar uma e manter duas em operação p atender a demanda fraca. Diante de uma década perdida, baixa perspectiva de crescimento e incerteza: a reestruturação industrial será forte.

 Você é CEO global de uma multinacional que produz carros em vários países e tem que tomar uma decisão de encerrar a produção em algum lugar do mundo devido à queda de demanda global e para se adequar à competição tecnológica (carros elétricos). Fatores para se considerar:

1 - Com o Covid, a capacidade ociosa das montadoras no mundo aumentou muito. E continuará alta em 2021. Como o setor é intensivo em capital, dinheiro parado é prejuízo. 
2 -Logo, haverá fechamento de fábricas em algumas partes do mundo e remanejamento de produção para exportação a partir de locais em que é barato produzir e o país tem acordos comerciais relevantes e abrangentes. O lema e otimizar a demanda global.
3 - No Brasil, nos governos petistas a capacidade instalada de automóveis dobrou, cresceu a frente da demanda. O problema é que a demanda caiu desde 2014. Ou seja, havia uma capacidade ociosa pré-Covid
4 - Com a crise do Covid19, a capacidade ociosa do BR aumentou ainda mais. Em 2013 o país produziu +3,0 mi automóveis. Em 2020, produziu apenas 1,6 mi veículos. Ou seja, há um excesso demasiado de capacidade ociosa no Brasil. País é um candidato a ter plantas fechadas.
5 - Pode ser um país que a empresa (ex: Ford) vem perdendo mercado doméstico para outras empresas. Brasil é um candidato cada vez mais forte.
6 - Pode ser um país que não tem acordos comerciais abrangentes, logo não poderá ser utilizado como plataforma de exportação global. Brasil é um candidato cada vez mais forte
7 - Pode ser um país que tem taxa de câmbio muito volátil de modo que usá-lo como plataforma de exportação é muito arriscado. Brasil é um candidato cada vez mais forte
8 - Pode ser um país que não produz carros de última geração que os principais mercados do mundo consomem. Isto é, não compete por qualidade (inovação).
9 - Pode ser um país que é caro produzir, logo não tem competitividade em preço para exportar ou competir com os importados
10 - Pode ser um país em que a situação política é instável. Precisa desenhar que país é esse?"

 

Conclusão: em 2014 a economia ia mal, mas mascarada pela imprensa iMunda. O (des)Governo que equivocadamente ainda baseia a economia como um todo na cadeia produtiva da indústria automobilística (que desde aquela época já estava em vias de diminuição, não tem aonde mais estradas pra por carros, além do fator poluição, obsolescência e "custo Brasil" faz com que não haja aqui fabricação de automóveis competitivos em preço e tecnologia a nível global) faz com que seja realmente uma má notícia. Em 2020 com a pandemia a situação ficou insustentável, e a guerra fiscal entre países da América Latina fez com que outros países para a Ford fosse viável a sua sobrevivência. Em relação a subsídios, melhor subsidiar hospitais, porque estádios em 2014 produziram em Manaus o efeito da escassez de recursos. Há de se pensar em outras estratégias e outros setores para empregar e recuperar o bonde. 

Mas sempre lembro que brasileiro não desiste nunca. #vamosemfrente

* ANA PAULA STUCCHI













-Graduada em Economia pela Universidade Braz Cubas - UBC(1993);
-MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral(2014);
-Atualmente na área pública
Twitter:@stucchiana

Nota do Editor:

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