sábado, 23 de janeiro de 2021

Volta às aulas?


 Autora: Jacqueline Caixeta(*)

Em tantos anos sendo bombardeados de propagandas sobre a tão falada "volta às aulas" de fevereiro, este ano não estamos vendo aquelas famosas visitas às livrarias, papelarias, a busca pelo material escolar, por melhores preços, discussões do que pode ou não pode ser solicitado na lista de material, nada disso tem tomado os noticiários tão esperados para esta data do ano. As compras de material escolar, não poderão mais ser aquela excursão aos shoppings, verdadeiros desfiles nos corredores das papelarias, tromba tromba de gente disputando caixas de lápis e canetas coloridas, nada disso nos pertence este ano. Estranhamente, este ano nossa tão sonhada "volta às aulas", ainda está sendo uma incógnita.

Como será?

Estamos nos "últimos minutos do segundo tempo, quase na prorrogação" e nada temos definido. As discussões são imensas, brigas fabulosas entre sindicatos, opinião pública dividida, pais, professores, gestores, em cada segmento da sociedade encontramos um "especialista" em infectologia defendendo isso ou aquilo. Gente com mestrado e doutorado em WhatsApp dando palpites pra tudo quanto é lado, o que não faltam são opiniões, algumas extremamente leigas, outras, nem tanto, mas o fato é que estamos, quase no "final do jogo", e ainda não sabemos se entraremos em campo este ano.

Como não sou especialista em nada na área da saúde, não vou aqui arriscar meus palpites errados  quanto ao certo ou errado, quando  é melhor ou pior hora de se voltar as aulas presencialmente. Vou me deter no que entendo, vou me arriscar a falar do que de fato tenho conhecimento.

Caso as aulas voltem apenas no sistema remoto, como terminamos o ano de 2020, lá vão alguns palpites....

Como educadora, creio que dez meses vivenciando um ensino remoto, já tivemos tempo suficiente para acertar, errar e aprender com nossos erros e acertos. Não será mais uma experiência totalmente nova, não caberá mais aqueles discursos do tipo "estamos nos adaptando, estamos aprendendo com a prática cotidiana, estamos reajustando nossos cronogramas, metodologias e propostas pedagógicas". 

Agora a hora é de, se tiver que voltar de maneira virtual, que voltemos com mais segurança e confiança, não que nos faltou tais, mas estávamos, todos nós, aprendizes de tudo, agora já sabemos a lição, quase que de cor! Então, escola; pública ou privada, por favor, mostrem que podem fazer melhor em todos os aspectos, pois não somos mais meros aprendizes. Que nossas falhas não sejam repetidas, que nossa coragem e ousadia, sejam fortalecidas, que possamos potencializar nossos acertos e multiplicar nossos saberes em como fazer melhor cada dia mais.

Aos pais, saibam que o amargo de terem que se desafiarem todos os dias para acompanharem os filhos, principalmente os pais das crianças menores, já passou, agora, nada será tão amargo assim, já sabem que, em casa será com vocês , não terá outro jeito, a parceria aprendida precisa ser exercitada com calma e paciência, sem ficar querendo jogar pedra uns nos outros. 

Os pais dos adolescentes, saibam que os filhos precisam de direcionamento sim, já estão crescidos, mas vocês precisam conduzir as coisas e não deixar tão livre como, infelizmente, muitos deixaram. Ética, compromisso e responsabilidade são aspectos fundamentais no processo de educação, não são tão permissíveis e não compactuam com ações, como por exemplo, saber que o filho está "enganando" a escola colocando um "avatar" na foto e jogando durante a aula. 

Infelizmente  alguns pais se limitam a dizer: "coitado, ele já perdeu tanto esse ano, longe do convívio dos amigos. Ora bolas, ele e o mundo inteiro perdeu muito e  nem por isso podemos ser  omissos às falhas, lhes ensinando a se fazerem de vítimas, fragilizando-os ao invés de potencializá-los encorajando-os a vencer os desafios propostos pela vida. Estar junto com o filho quando a vida lhe dói, sem sentir "pena", mas ensinando-lhe que nem sempre a vida é cor de rosa, que é preciso coragem e força pra enfrentar as dores do mundo, é dever dos pais.

Aos alunos, não foi nada fácil, não é? As crianças tiveram que aprender a abraçar com os olhos, choraram porque não podiam estar com seus professores e colegas e muitas vezes saíram das "lives" dizendo que queriam a aula da escola.

 Sabemos que o ensino remoto para a primeira infância foi e será a maior perda pedagógica e emocional que estão vivendo, mas, não temos outro jeito e cabe aos pais sempre um carinho a mais e uma dose imensa de amor, chamando sempre a escola para juntos cuidarem uns dos outros. 

Para os adolescentes, que até então amavam a tecnologia, ficar grudado em um celular, serem obrigados a estarem conectados, não foi nada legal. Mas, contudo, todavia, se essa for a nossa realidade ainda... Então, aproveitem o máximo que puderem para aprender. Por favor, não fraudem vocês mesmos fazendo provas coletivas pelo WhatsAPP, com consultas, ajudas, jogando durantes as aulas, etc. Ter uma excelente nota sabendo que não é fruto de seu conhecimento, não é e não será o melhor a fazer. Quando a escola voltar para o presencial, o maior prejudicado será você, que "se fraudou" o tempo todo, mais ninguém. Meus queridos adolescentes, vamos revolucionar tudo isso! Levem para as lives  encanto, coragem e ousadia, participem e provem o quanto é gostoso vencer desafios!

Bem, voltando em sistema remoto, essas são minhas dicas. 

Se voltarmos presencialmente, quero muito que todo o aprendizado do ensino remoto não nos abandone, principalmente a parte que descobrimos que pais, escola e alunos são todos aprendizes e que, aprender junto, tem outro sabor.

Tenho certeza de que, se for pra "entrar em campo" em 2021 presencialmente, será com toda a responsabilidade e aprovação de quem entende do assunto : a área da saúde. Se assim for, vamos confiar e fazer um ano todo novo e renovado em todos os sentidos. A educação tem um longo caminho pela frente pra superar e vencer todas as lacunas deixadas por um ano de ensino remoto, temos muito trabalho pela frente e isso me encanta!!

As infinitas desigualdades produzidas pelo ensino remoto deverão ser analisadas e debatidas para que se criem políticas públicas voltadas para amenizar esse "desastre" pedagógico aos milhares de alunos que não tiveram a oportunidade de vivenciar tal modalidade. Não podemos mais permitir que, logo a educação, seja protagonista de tanta estratificação social.

A pandemia nos impôs uma tragédia não só na educação, mas em tantos outros setores, no entanto, enquanto educadores,  nosso grito precisa ecoar mais alto, pois somos agentes de transformação social.


 *JACQUELINE CAIXETA

















-Especialista em Educação
  jacquecaf@hotmail.com
-Autora do capítulo do livro Educação Semeadora: "A Escola é a mesma, o aluno não! "- Editora Conhecimento.
Nota do Editor:

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