- E aí ele já foi?
- Foi, a uns 20 dias.
- E daí mudou alguma coisa? Afinal estavam todos esperando
que ele fosse embora logo.
- Depende.
- Depende que?
- Do ponto de vista ué!
- Ponto de vista?
- Sim, todo ponto de vista é a vista de um ponto, alguém
disse isso certa vez.
- Explique...
- Explica o que? O ponto de vista ou a ida dele...
- A ida dele, esse outro negócio
de ponto de vista fica para outra hora.
- Ah! Então ah! ... ele se foi...
estavam todos esperando a sua partida.
Foi sem muitos fogos de artifícios e aglomerações como nos outros,
né. Você sabe aquela mania que tinha em os outros
anos? Que todo mundo ia à praia para pular 7 ondas, fazer promessas, orar a
Iemanjá, dançar e cantar até o sol raiar;
isso não teve muito não. Teve assim, umas reuniõezinhas, festinhas de turma ou
família reduzida como chamaram ou daqueles que sustentam não ter medo do Corona vírus ou da COVID 19.
- Família reduzida? Como assim?
- ah! Se antes reuniam bisavós,
avós, pais, filhos, tias, sobrinhas,
cunhados, o namorado da filha, a namorada do filho, a amiga da amiga da
filha, a mãe da namorada do sobrinho e por ai ia. Desta vez foi mais ou menos
assim: pai, mãe e um dos filhos e a nora. Em alguns casos quando a sogra ia
ficar sozinha levaram-na também.
- Hum..., mas e a vacina chegou?
O vírus foi com ele, já podemos andar por aí como antigamente ? A máscara já
faz parte do passado?
- Calma, eu disse que ele foi
embora e como foi. Como que ele iria levar o vírus com ele?
- Sei lá, né... podia ser, afinal
esperávamos um ano novo, sem horrores, sem medos, com nº de mortos como
estávamos acostumados; e sem máscaras, precisamos respirar, trabalhar sem essa
coisa.
- Que coisa?
- A máscara.
- ah! Isso não é nada, pior é o
medo. Medo do que não vemos.
- Viu. Por isso ele deveria ter
levado o tal vírus com ele. Poxa é ano novo...
- Cara, se liga. Ano novo quem
faz somos nós. Precisamos efetivamente compreender nosso estar no mundo.
Estamos em tempos de mudanças radicais em todos os sentidos, é hora de
reinventar o modo de viver. Repensar as habilidades, repensar o trabalho e a
sua finalidade para este tempo. É...
tempo de saber cuidar, temos que cuidar de nós, do outro e do nosso espaço.
-E, ai ... voltando a ida dele as
pessoas cantaram a velha canção... adeus anos velho...
- Sabe que não percebi, mas por
que da pergunta?
- Será que as pessoas ainda
pensam que precisam de muito dinheiro no bolso?
-
E por que não precisaram de dinheiro?
- Devagar, digo que talvez não
precisem ou não consigam acumular dinheiro. Imagino que daqui para frente, tudo
muda. É preciso investir em viver melhor, até por que a muito tempo nós já
sabemos que quando a qualidade de vida é boa não se precisa de remédios, vacinas...
Até a escola precisa mudar e rápido...
- Vich! Será que conseguirão isso?
Olha, espero que sim. Mas, vamos indo.
- Mas, já!
- Claro, há muito para inovar ..
MARIA CRISTINA MARCELINO BENTO
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