sábado, 16 de julho de 2022

Educação ou Maquiagem?


Autora: Mônica Falcão Pessoa (*)

Após um traumatizante período de isolamento provocado pela pandemia de covid-19, nós, professores, tivemos que nos deparar com uma série de problemas advindos do ensino on-line. Deparamo-nos com defasagem de aprendizado, ansiedade generalizada e até mesmo com a falta de educação de alunos que já estavam acostumados a assistir às aulas de pijama em casa.

A volta às aulas presenciais trouxe de volta a convivência entre os alunos, o caminhar pelas ruas com mais segurança (real ou não) e a sensação de volta à normalidade. Mas também trouxe uma novidade: o Novo Ensino Médio. A propaganda veiculada para nos mostrar isso era bem animada, com adolescentes sorrindo e dizendo: "É real, agora a gente vai poder escolher em que área de conhecimento a gente quer se aprofundar", "e até escolher fazer uma formação profissional e tecnológica". Eu juro que pensei que estivesse diante de um modelo educacional que conseguiria corrigir anos de defasagem e que traria ensino de qualidade capaz de engajar os alunos evitando evasão. # Só que não!

A atual reforma do Ensino Médio deve ter sido a menos discutida de todas. O objetivo dela não foi fortalecer a escola pública e melhorar o ensino dos alunos mais pobres, ao contrário, criou uma distância ainda maior entre o ensino público e o privado.

Baixado por meio da Medida Provisória 746, de 2016, que entre outras coisas instituía a política de incentivo à ampliação das escolas de tempo integral, e convertido na Lei Federal 13.415, de 2017, o novo modelo não é dividido por disciplinas como o atual, mas por áreas do conhecimento: Matemática e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A lei prevê que os alunos deverão ter no mínimo 1.800 horas/aula desses componentes, os quais deverão ser compostos por disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). E mais 1.200 horas/aula, flexíveis, com conteúdos da formação técnica e profissional. Com isso acabaria a "escola chata", pois o aluno poderia optar por uma formação profissionalizante de seu interesse. Teria, assim, um certificado do ensino médio regular e um técnico profissionalizante.

Seria ótimo se não houvesse um esvaziamento da formação básica com a retirada ou diminuição da carga horária de disciplinas importantes como, por exemplo, História do Brasil, para dar lugar a pinceladas de marketing e empreendedorismo. Essa formação profissionalizante está muito aquém do que se oferece em escolas federais e no Centro Paula Souza, onde há laboratórios, professores capacitados e equipamentos para cursos de ponta.

É, portanto, uma grande falácia o argumento da flexibilização curricular e da liberdade de escolha de um percurso formativo mais próximo das aspirações dos alunos. Quando se escolhe um itinerário de aprofundamento curricular, abre-se mão de todos os outros. Isso quer dizer que o aprofundamento é, na verdade, um estreitamento curricular.

Esse esvaziamento deixará mais empobrecida a educação desta geração que iniciou agora o Novo Ensino Médio. E mais ainda a escola pública, que não recebe verba para instalar laboratórios nem para capacitar seus professores.

Nós estamos cansados de projetos estapafúrdios que só maquiam a realidade. Quando vamos olhar para a verdade com coragem e criar um currículo que implante realmente educação de qualidade?

*MÔNICA FALCÃO PESSOA
















- Professora Universitária de Português e de Literatura Brasileira, formada pelo Mackenzie (1986);
- Mestre e Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (1996);
- Tutora em programas de leitura como "Quem Lê Sabe Por Quê".

Nota do Editor:

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6 comentários:

  1. Educação se tornou um tema político, e onde tem política não haverão soluções. Imaginar que há mais de 12 um Rei promoveu uma reforma na EDUCAÇÃO que preparou a humanidade para séculos a FRENTE.

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  2. Pois é, Álvaro, a educação vive dias tristes.

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