domingo, 7 de maio de 2023

Bullying e suas consequências


 Samuel Lima(*)

INTRODUÇÃO

Uma realidade incontestável 

Ao longo de décadas a ação de ridicularizar e debochar de alguém não eram visto como prejudicial na infância, era visto como natural seu vínculo com crianças e adolescentes na escola. Contudo, a visão mudou, passou a ser observada com seriedade em consequência dos atos dramáticos ocorrido em alguns países, que tiveram como protagonistas jovens que fizeram vítimas ou se suicidaram; ações terríveis em decorrência a maus-tratos entre pares. Foi a partir de 1970 que o tema bullying ganhou maior reflexão e atenção, a intimidação é um tema que foi percebido através de estudos, com a intenção de esclarecer a questão e caracterizá-lo.

 Conceituando Bullying

O bullying é considerado por educadores, como ato violento que se revela de modo variado e em progressão na vida das pessoas. Tal agressão é violenta e estimula o emocional e o psíquico do agente agredido de forma devastador.

Bullying é originário da palavra inglesa que foi difundida no Reino Unido e Estados Unidos pelo então professor de psicologia Dan Olweus. Olweus (1993) diz que estudantes que agridem verbalmente e fisicamente são conhecidos como "bullies" ou seja, "valentões". Ela empreende precisamente o que concerne o termo bullying. O praticante de bullying tem prazer ascoso em promover a humilhação do outro reincidentemente.

As pesquisas sobre o tema deram inicio em 1978 até 1993, na Universidade de Bergen onde também se originou uma ação nacional antibullying. Segundo Catini (2004) diz que o lançamento de seu livro "Aggression in The Schools Bullying And Whipping Boy", no ano de 78, serviu de meta para o incremento de vários estudos, o que serviu para conquistar o interesse da Comunidade científica e educacional. Foi através da pesquisa que pôs em voga, questões puramente violentas que até então permaneciam desconhecidos sob um véu da ignorância e que por desconhecer nunca foram detectados. Dan Olweus colocou no cenário educacional pesquisas que contribuíram na formação de métodos para a prevenção do bullying.

Segundo Lisboa, Braga e Ebert (2009), o bullying é o fenômeno aonde os agentes são crianças ou adolescentes envolvidos num complexo de atos prejudiciais, intercorrem sem estímulos evidente, e sim propositado por um ou mais “bullyinistas” (grifo meu). Segundo eles é causado por uma instabilidade onde está em jogo é o poder e a falta de sintonia, a vítima desprovida de qualquer recurso não tem meios para deter ou salvaguardar-se das investidas. Então, o conceito de bullying precisa ser compreendido como uma ação, atrelado à agressão física, verbal e psicológica.

Bullying, uma atitude agressiva

Passado muitos decênios, estudos comprovam que aquilo que era tido por "brincadeiras" inocentes tem trazido consequências destrutivas e desastrosas às vítimas. Tal conduta foi percebida em muitas cidades em todo o mundo, os maus tratos entre pares têm levado as vítimas a angústia, sofrimento, intimidação, etc. Crianças que são acometidas desta perseguição psicológica e emocional podem apresentar um nível de cólera sem medida. Desse modo, o bullying é um comportamento associal, que matizam entre dissenções interpessoais e atos criminosos.

Segundo Pereira (2002), representa uma forma séria de comportamento antissocial que pela sua duração, pode prejudicar o desenvolvimento da criança, tanto imediatamente como á longo prazo. A destrutividade do bullying é tão abrangente que afeta não só as vítimas como também aos agressores, ambos estão propenso a desenvolverem problemas psicológicos.

Segundo Ribeiro (2007) a violência e indisciplina é um indicativo de transgressão, que pospõe o grau de ação dos fenômenos. A violência é mais abusiva em relação à indisciplina. Ela não se mostra agressiva, e sim uma transgressão as normas existentes, como no caso da própria escola que as crianças estudam. Já a violência tem um grau mais contundente. A compreensão que Czemisz (2010) teve foi de que se a relação entre pessoas é lesionada o dano se incorpora e então vem a violência. Tais danos despontam sempre no plano físico com repercussão no físico e moral.

O American Psychological Association – APA, (VANDENBOS, 2010) explica violência como sendo um misto de hostilidade e raiva com o propósito de ferir pessoas [...] Se pensarmos que o Bullying corresponde a um comportamento intencional agressivo, violento e humilhante concordaremos totalmente com os teóricos e os pontos já abordados em nosso estudo. O bullying é um ato agressivo e continuado que imprime medo, deixando suas vítimas ansiosas. Crianças vítimas desta violência tendem a se fechar e calar para não continuarem a ser foco de perseguições.

O bullying é tão segregador que acompanham um pacote de comportamentos aterradores, o pacote de violência vem com ameaças, os boatos são constantes, agridem fisicamente (arranham, cospem, roubam e batem) ou verbalmente.

Estudos feitos por Aquino em 2010 confirma que a violência são atos prejudiciais, voltado a pessoa. Segundo Negreiros, Simões e Gaspar (2009, p.27) a violência "consiste na utilização da agressão, do poder/influência física ou psicológica, ou da ameaça contra outra pessoa, grupo ou comunidade". Tendo a única finalidade de atingi-lo, de dominar e coagir.

Acreditamos que a participação da família na formação da criança sempre será primordial, as bases precisam ser seriamente incutida para que valores como caráter, solidariedade e tolerância estabeleça uma visão mais humana, equilibrada e com equidade. Sendo assim formaremos á longo prazo uma sociedade onde as diferenças como a cor da pele, um defeito congênito, timidez, poucos amigos, dificuldades de se expressar e auto baixa estima não sejam motivos de escárnio e humilhação.

Por que em longo prazo? O bullying está presente desde sempre e até que possa ser completamente erradicada ou pelo menos minimizada, será necessário todo um processo incansável de trabalho. As intervenções nas escolas é uma delas: grande parte do repertório social é adquirida no âmbito educacional, ali a criança aprende e internalizar normas morais e éticas. Desde o início da vida escolar é preciso priorizar atitudes que levem a criança a perceber e despertar seus sentimentos e direitos, principalmente dos seus colegas de classe, isto desenvolverá ações construtivas levando a decisões coerentes quando houver divergências.

Almeida, Silva e Deodoro (2014), diz que a família seria o motivo/causa para reação agressiva por não internalizar na criança entendimento adequada que o leve a tomada de atitudes corretas e valores que lhes dêem entendimento, que os façam rejeitarem atos de violência e desrespeito.

As principais consequências em relação ao Bullying

As consequências são devastadoras, já mencionamos que aqueles que sofrem desta violência, por medo, se excluem de participarem de debates que são promovidas em sala de aula, por achar que seria ridicularizada, esta ação promovia um déficit de aprendizagem.

Na sociedade o Bullying ganhou grande espaço e destaque e esforços têm sido feitos para coibir tal agressividade que tem gerado desejos de vingança, suicidas, problemas de saúde, etc e tais fatos ocorridos na sociedade confirmam a problemática proposta neste artigo.

Exemplo nº 1 – Caso ocorrido no condado de Steuben, Nova York

Em 1993, Eric Smith de 13 anos, foi preso após assassinar uma criança de 4 anos. Na escola este menino sofria bullying, era hostilizado pelos seus óculos fundo de garrafa, seus cabelos vermelhos, suas sardas e por obter orelhas grandes. Os médicos contam que ele sofreu efeitos colaterais, pois sua mãe que sofria de epilepsia fazia uso de medicamentos.

Ao ser indagado sobre o ocorrido a polícia descobriu que Eric levou o menino para um parque, onde o estrangulou, jogou pedras em sua cabeça e o violentou sexualmente com um galho de árvore. Foi diagnosticado com TEI (Transtorno Explosivo Intermitente). Ainda assim foi condenado.

Exemplo nº 2 – Ocorrido em Goiânia

No dia 20/10/2017, menino de 14 anos, filhos de policiais militares e que sofria bullying, matou dois colegas do Colégio Goyases em Goiânia, ferindo ainda outros dois. Uma testemunha relatou que, quando ouviu o primeiro disparo, não imaginou que fosse um tiro. Pensei que eram balões estourando porque pela manhã seria nossa feira de ciências. Depois, ouvimos o barulho novamente e alguém gritou ‘é tiro’. Aí começou o desespero.

Exemplo nº3 – Ocorrido no Estado do Colorado - EUA.

Na data de 20/04/1999, dois jovens da pequena cidade de Columbine no estado americano do Colorado resolveram apresentar o trágico preço do Bullying ao mundo.

Eric Wayne Harris nasceu na cidade de Wichita, no Condado de Sedgwick, no estado americano do Kansas. Em 1996, a família de Eric adquiriu um imóvel ao sul da Columbine.

High School. Na manhã de uma terça feira, Eric e seu amigo Dylan que eram alvos de bullying, colocaram uma pequena bomba em um campo estava programada para explodir as 11:14h. daquela manhã, e tinha o intuito de distrair o corpo de bombeiros e manter o pessoal responsável pela emergência longe da escola.

Ocorre que a bomba não explodiu como os jovens imaginaram, causando apenas um pequeno incêndio. As 11:10h. da manhã Eric e Dylan chegaram a Columbine, um estacionou seu veículo no estacionamento para alunos Junior e o outro para alunos sênior na entrada oeste.

A lanchonete da escola era o alvo principal. Após estacionarem cada um contendo bombas escondidas, programadas para explodirem as 12:00h, duas bombas de propano de 20 libras (9kg) antes de entrarem na lanchonete, deixaram no lugar combinado e foram para perto de seus carros para esperar a explosão e atirar nos sobreviventes que tentasse fugir do edifício.

Estes relatos asseveram que aquele que sofre bullying tem um misto de sentimentos que levam a uma tragédia anunciada, são meninos e meninas que usam a energia acumulada negativamente para extravasar sua fúria; declinando a capacidade de demonstrar sensibilidade afetiva ou empatia.

O bullying revela efeitos tão devastadores que tira da vítima o poder avaliativo, transformando suas vidas num protagonismo trágico. Nele está o comportamento de risco e que levam crianças á dependência de substâncias viciantes como o álcool e as drogas. Tal ato é um comportamento que merece ser totalmente extinto por tirar do sujeito a possibilidade de existirem de forma saudável. O agredido sente-se deslocado em si mesmo e até certo ponto o que lhe fortalece é uma vontade incontida de se mostrar forte, um sentimento de se revelar corajoso, mesmo que para isto tenha que agir de maneira mais contundente.

Uma força tarefa para amortizar os efeitos do bullying

Albino (2012) vai dizer que outra forma de contribuição no combate ao bullying é engendrar meios de incentivar a debates que promovam aversão ao bullying no ambiente escolar e na sociedade. O uso de material audiovisual, a reunião de grupos de reflexão, aquisição de valores e habilidades sociais, ensino de assertividade para agressores e de atitudes proativas por parte das testemunhas do fenômeno junto aos (professores, pedagogos, psicopedagogos, inspetores), etc.

Estes agentes terão a responsabilidade de operar com iniciativa no cotidiano ativamente, empregando suas habilidades no processo de intervenção e prevenção. Certamente haverá uma conformidade em termos de prevenção, intervenção e no combate ao bullying em âmbito escolar.

Mendes (2011) afirma que o bullying pode alcançar uma diminuição através de políticas escolares, contudo, ele conclui que é necessário a participação dos envolvidos na educação para a solução do problema. Segundo Menegotto, Pasini e Levandows (2013) existe uma facilidade por parte do professor pela proximidade que tem com os alunos, isto possibilita a identificação desta agressão.

Toda criança é modelada, segundo comportamento observados dos pais e familiares. As normas sociais foram esquecidas, valores que são bases para formação do individuo deixaram de sofrer reflexão fazendo com que proliferassem atos transgressores. É de extrema urgência que a sociedade num todo, propague as gerações futuras conceitos éticos, levando nossas crianças a se tornarem uma sociedade mais tolerante e justa.

Considerações finais

O bullying é o reflexo de um ato criminoso que oprime, denigre, levando o vitimado a uma postura de submissão diante da agressão. O bullying tem o poder destrutivo, provocando a desconstrução do sujeito; traz um trauma ao psiquismo deixando suas vítimas ansiosas. Por isso, que as consequências são tão devastadoras, levando os envolvidos ao homicídio e suicídio.

Dada à importância da pesquisa, torna-se necessário desenvolvimento de forma que sejam aplicáveis para coibir a ação do Bullying, através de uma educação sistematizada, aonde seja formada uma linha de atividades com profissionais totalmente envolvidos e preparados, agentes que atuem não só no âmbito escolar, mas que estendam sua ação aos lares, conscientizando-os. Esta equipe multidisciplinar deve realizar reuniões periódicas em salas totalmente equipadas para esta finalidade. Lembrando que a participação dos pais não é de menor importância, mas fundamental para se alcançar êxito.

Segundo Fante (2005), no Brasil o bullying é uma realidade presente nas escolas do Brasil, independentemente de ser ela pública ou particular, por isso é indiscutível relevância os estudos apresentados aqui. Diante da realidade contida neste artigo é preciso mobilizarmos para dar vida ao que por enquanto são ações fictícias, tornando-os uma realidade na qual nos orgulharemos. 

A busca de uma sociedade mais rica de humanização e vidas pontuadas pela ética, na formação de um caráter sólido, não seja uma utopia, um sonho a desvanecer, e sim onde meninos e meninas deixem o embate por não conseguirem lidar com as diferenças encontradas no outro. Que cada olhar apresente de novo uma infância que há muito se acha perdida, que este entendimento seja uma opção e também uma escolha que deverá contribuir para a construção de um futuro onde o respeito, caráter, solidariedade e tolerância seja nosso carro chefe.

* SAMUEL VAZ LIMA
















- Graduado em Psicologia Clínica pela UNESA - Universidade Estácio de Sá (2018);

- Pós Graduação em:

   - Psicanálise Clinica - Nova Iguaçu/RJ(2013) ;

      - Gestão da Aprendizagem e Educação Cognitiva, Macaé/ RJ (2019) e

      - Avaliação Psicológica e Diagnóstico - Macá/RJ (2021).

Abordagem: Psicanálise

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Observem o exemplo 1...
    A vítima de bullying se tornou assassina e mesmo apresentando TEI "Transtorno Explosivo Intermitente" FOI CONDENADA.

    Penso, em um país onde nada se cria e tudo se copia, onde leis sem efetividade elaboradas por bandidos e tiriricas eleitos e reeleitos, jamais seremos capazes de no mínimo minimizar as consequências do bullying atual e nada moderno...

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