sexta-feira, 19 de julho de 2024

Se morrêssemos agora, o mundo continuaria girando


 Autora: Maria Rafaela de Castro (*)

Se morrêssemos agora, o mundo continuaria girando. Então, por que tanta pressa? Por que tanto imediatismo que nos faz desperdiçar momentos de amor e carinho com quem realmente nos importa? Por que corremos tanto?

Mereço um prêmio de hipocrisia, pois corro tanto, todos os minutos, todas as horas, com horários preenchidos em todos os espaços da minha agenda.

Parece que só damos valor à vida quando estamos de férias ou nos feriados prolongados, esquecendo-nos que no dia a dia, o afeto nos nutre e eleva nossas almas. O "Sextei" tem uma importância exagerada, como pouco importasse os demais dias da semana, na medida em que apenas somos sufocados pelo excesso de trabalho e com a pressa sendo nosso prato principal, aumentando a violência contra nós mesmos, que ficamos reféns de agendas e alarmes.

Todavia, olvidamos disso porque estamos sempre correndo.

Enquanto pensamos se devíamos telefonar ou nos importar, os ponteiros dos relógios passam rápido, freneticamente e os compromissos surgem um atrás dos outros. Então, nos endurecemos, automatizamos, vamos deixando de nos importar.

Já não se torna atrativo almoçar em família e não olhamos nem para os nossos filhos e animais demoradamente com todo o amor que devíamos nutrir em nossos corações.

Concedemos aos desconhecidos o poder de nossas presenças, perdendo as sutilezas que envolvem o nosso anseio amoroso mais rico e mais importante. E, assim, somos levados a sermos seres humanos tão ocupados como forma de preencher, muitas vezes, um vazio imenso que carregamos inconscientemente.

Se morrêssemos agora, o mundo continuaria girando. Então, por que desperdiçar nossas chances? Corremos para não perder os horários de trens, ônibus e aviões, mas perdemos nossa essência quando deixamos de nos importar com o que realmente vale.

Deixamos de ser seres humanos e viramos reféns de algoritmos e da inteligência artificial, esquecendo que enquanto ficamos com os olhos vidrados no celular, nossos pais almoçam sozinhos e nossos companheiros estão ocupados também e não conversamos.

Quando foi que paramos de falar assuntos rasos e profundos alternadamente sem nos preocuparmos com os horários? Quando deixamos de ser naturais e espontâneos para sermos tão formais, chatos e descompromissados com os fatos simples como ver o mar ou simplesmente aceitar o silêncio?

Se morrèssemos agora, o mundo continuaria girando. Até chorariam por nós, mas os compromissos tomariam conta das agendas e nós estaríamos em lembranças. Mas, me diz: que lembranças?

Afinal, nossa presença é repleta de ausência e eu percebo que escoamos como reféns do tempo sem viver efetivamente a profundidade que somos. Estamos sendo levados a considerar a produtividade como o máximo de tudo.

Nunca vi tanto coaching te ensinando a falar bem e a ganhar dinheiro nas redes sociais, mas há coaching de escutatória?

Vejo um mundo repleto de cursos de oratórias com igual velocidade da impaciência de ouvir o que o outro tem a dizer. É uma velocidade alucinada de demonstrar os argumentos sem a preocupação em ouvir o que será dito e acrescentado no fim das contas.

Se morrêssemos agora, o mundo continuaria girando. Nossos prazos continuariam correndo e nossos amores vivendo, mas o que será que deixamos de bom e de memória afetiva? Será que deixaremos apenas a lembrança da correria alucinada para sermos perfeitos, estilosos e pró ativos? Será que deixaremos apenas a lembrança do quanto éramos bem-sucedidos? E, afinal, que lembranças queremos deixar e sermos para nossos próximos?

Se morrêssemos agora, o mundo continuaria girando. Então, por que, simplesmente, não paramos por diversos momentos e apenas vivemos, sem a pressa de sermos perfeitos e fazermos tudo ao mesmo tempo?

Afinal, poderíamos parar, pensar e dizer em alto e bom som: se vivêssemos agora, o mundo continuaria girando com mais atividade do que nunca!

*MARIA RAFAELA DE CASTRO
















-Graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará(2006);

-Pós -Graduada em Direito do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá (2008);

-Mestrado em Ciências Jurídicas na Universidade do Porto Portugal(2016);

-Doutoranda em Direito na Universidade do Porto/Portugal;

-Juíza do Trabalho Substituta da 7a Região; 

-Formadora da Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará;

-Professora de Cursos de Pós Graduação na Universidade de Fortaleza - Unifor;

-Professora de cursos preparatórios para concursos públicos;

-Professora do curso Gran Cursos online; e

-Professora convidada da Escola Judicial do TRT 7a Região; Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho; e
-Palestrante.

- Instagram @juizamariarafaela

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. O mundo continua girando, mas a sua sementinha com esse texto poderá germinar. Lembre-se disso.

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