segunda-feira, 7 de abril de 2025

Os desafios econômicos e sociais do envelhecimento em um país desigual


 

Autora: Raquel Carneiro(*)

A longevidade vem se tornando um assunto de grande relevância no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de vida dos brasileiros aumentou de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023. Isso é reflexo das melhorias que ocorreram com os cuidados na saúde e nas condições de vida ao longo dos últimos anos. As mulheres vivem, em média, 7 anos a mais do que os homens.

O envelhecimento e a expectativa de vida podem variar muito de acordo com o ambiente em que a pessoa vive, o estilo de vida e os fatores genéticos. Portanto, o envelhecimento no Brasil não é homogêneo e isso dificulta ainda mais a implantação de políticas públicas e a oferta de bens e serviços pela iniciativa privada.

Estamos envelhecendo em um país ainda em desenvolvimento, com desigualdade social acentuada e muitos idosos possuem doenças crônicas e são dependentes da saúde e da previdência pública, pois não se prepararam durante o envelhecimento. A longevidade é uma preocupação social e a responsabilidade é de todos, pois envolve questões essenciais como a aposentadoria, a saúde pública, a habitação, o transporte, a alimentação e a organização das cidades.

Já passou da hora de olharmos para o lado com mais cautela e percebermos aquele idoso ali, fazendo parte do nosso cotidiano e precisando de amparo.

O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado e, diferente de países que já passaram por este processo, ainda não conseguiu vencer as dificuldades e atualmente não tem condições de ofertar uma vida digna para a maioria da população.

Conforme Censo 2022, realizado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Brasil possui 32,1 milhões de pessoas acima de 60 anos de idade, representando 15,8% do total da população brasileira.

Realizando uma separação por sexos, 8,8% são mulheres e 7% do sexo masculino, gerando uma diferença de mais de 3,6 milhões em favor do sexo feminino - equivalente a cerca de 2% da população brasileira.

A região Norte é a mais jovem e as regiões Sudeste e Sul possuem o maior número de idosos. Entre a população idosa, destaca-se que 37.814 são centenários e centenárias, necessitando de cuidados mais específicos, tendo em vista a idade mais avançada.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050, 2 bilhões de pessoas terão mais de 60 anos de idade no mundo, representando um quinto da população. No Brasil, a população idosa deve dobrar, passando de 31 milhões de pessoas para 60 milhões em 2050. Isso significa que os idosos representarão quase 30% da população nacional e na projeção feita pelo IBGE, para 2060, uma pessoa no Brasil poderá viver em média 81 anos.

 













São vários os desafios a serem enfrentados pelo Brasil para receber e dar condições dignas de vida para toda essa população que cresce a cada dia.

Reduzir a desigualdade social, sem dúvida, deve ser a prioridade, pois ela é histórica e torna mais difícil a vida daqueles que estão envelhecendo.

Para mensurar a desigualdade social em um país ou para estabelecer um ranking entre os países, utiliza-se o Índice de Gini.

O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. Na prática, o Índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.

De acordo com relatórios da ONU, o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo, ficando atrás apenas de países africanos. Levará algumas décadas para chegar a níveis de desigualdade encontrados em países europeus e isso compromete o envelhecimento seguro e saudável da população.

Em 2022, o índice de Gini do Brasil foi de 0,518, o menor valor desde 2012, quando a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua começou. A queda no índice foi atribuída ao aumento do valor do Auxílio Brasil e à melhora no mercado de trabalho. No primeiro trimestre de 2024, o índice de Gini do Brasil foi de 0,52.

O relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades 2024, tomando como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), mostra um balanço sobre a concentração da renda no país.

No ano de 2023, as rendas dos 1% mais ricos era 31,2 vezes maior do que a dos 50% mais pobres e as regiões que apresentam as maiores desigualdades são a norte e a nordeste.

Considerando que, em 2050, segundo projeções, cerca de 30% da população brasileira terá mais de 60 anos, se nada for feito, poderá ocorrer uma grande pressão nos serviços de saúde pública, previdência e assistência social.

Por isso se torna urgente iniciar algum tipo de planejamento.

O planejamento para a longevidade vai muito além de gerar recursos financeiros para a aposentadoria, é a conscientização da população de que, para um envelhecimento tranquilo, com autonomia e independência, é necessário cuidar de vários pilares. A mudança de alguns hábitos pode fazer toda a diferença durante o envelhecimento.

  • Um dos pilares é a saúde física. Atividades como caminhadas, exercícios de resistência e práticas de alongamento fortalecem o corpo e ajudam a evitar problemas musculares e articulares;
  • Outro pilar importante é a alimentação balanceada, com variedade de nutrientes, contendo carnes, cereais, legumes, verduras e frutas. Evitar excessos de açúcar e gorduras, além de manter o corpo hidratado, contribui para um metabolismo mais saudável e um sistema imunológico mais resistente;
  • Os cuidados com a saúde mental são essenciais. Ter hábitos com leituras, cursos e hobbies como yoga e meditação exercitam o cérebro, ajudam a preservar a memória e outras funções cognitivas, fazendo com que se mantenham ativos intelectualmente. Além disso, o convívio social é um ponto importante para a qualidade de vida, pois ajuda a enfrentar desafios emocionais, proporciona momentos de alegria e mantém a mente ativa e otimista;
  • Outro ponto fundamental é o planejamento financeiro. Com o aumento da expectativa de vida, preparar-se para um futuro mais longo é indispensável. Para que isso aconteça de forma saudável e leve, o segredo é educar-se financeiramente, diversificar investimentos e adaptar o estilo de vida a novas realidades;
  • Garantir uma reserva suficiente para manter o estilo de vida presente ou o desejado, requer organização desde cedo. Isso envolve não só a previdência social, mas também os investimentos, sejam eles de curto, médio ou longo prazo. Contar com o planejamento financeiro permite que, ao chegar na aposentadoria, você tenha tranquilidade para aproveitar a fase com liberdade e segurança.
A longevidade nada mais é do que um convite para reinventar a vida, se reorganizar, reciclar e descobrir novos interesses e até carreiras após a aposentadoria, aproveitando a maturidade, a resiliência e a experiência acumulada para viver de forma plena e feliz. Viver mais tempo é um objetivo bastante comum, porém é preciso ter em mente que é fundamental que os pilares essenciais estejam bem alinhados para que o processo de envelhecimento aconteça de forma tranquila e saudável.

Quanto antes você começar a planejar sua longevidade, mais fácil será alcançar seus objetivos de vida, principalmente porque vivemos em um país desigual e que ainda não possui políticas robustas direcionadas ao envelhecimento da população.

REFERÊNCIAS:







https://combateasdesigualdades.org/wp-content/uploads/2024/09/RELATORIO_2024_v3-1.pdf

*RAQUEL CARNEIRO
















-Graduação em Ciências Econômicas) pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (2009);

-MBA em planejamento previdenciário pelo Centro Universitário Celso Lisboa (02/2024);

-MBA em andamento em planejamento financeiro pessoal e familiar pela Galícia Educação S.A.;

-MBA Auditoria e Perícia em Tributos Previdenciários, em andamento, pela Boa Sorte Sabedoria Prosperidade Treinamentos LTDA (BSSP);

Consultora e mentora de advogados previdenciários, tendo como missão levar a educação tributária previdenciária.;

-Possui inúmeros cursos de formação na área trabalhista, previdenciária, de planejamento e estudos sobre longevidade;

-Desde 2022 atua na área de planejamentos previdenciários para pessoas físicas e na recuperação de créditos previdenciários na receita federal.


Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário:

  1. Excelente texto! Parabéns pela lucidez, ao tratar de um tema tão abrangente e controverso. Precisamos, todos, tomar consciência de que precisaremos de cuidados na velhice, e que esse é um problema que já demorou pra ser levado à sério.
    Mais uma vez, meus parabéns!

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