sexta-feira, 11 de abril de 2025

Que tem acontecido com a política no Brasil?


 Autor: Rodrigo Augusto Prando (*)

Há poucas semanas, numa aula de Introdução às Ciências Sociais, especificamente, acerca dos conceitos iniciais necessários para compreender a Política, explicava aos alunos que estudaríamos alguns autores considerados clássicos: Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau. Além disso, discutiríamos temas como, por exemplo, poder, diferença de poder e autoridade, legitimidade, ciência e realidade política, formação do Estado e do governo, entre tantos outros.

Já no período de avaliações com meus alunos, um deles, numa aula antes da prova, pediu a palavra e disse que não era uma pergunta sobre o conteúdo, mas sobre o Brasil. O jovem, em questão, queria entender o porquê de muitos de nossos presidentes e ex-presidentes estarem envolvidos com problemas com a justiça. Assim, acompanhando o raciocínio o discente, fomos, juntos, rememorando os ocupantes do Planalto, desde 1989, com primeira eleição após os anos de Ditadura Militar. Em 1989, a eleição levou Fernando Collor de Mello à presidência da república, contudo, Collor não terminou o mandato pois foi iniciado um processo de impeachment e antes de término, o presidente renunciou. Em 2023, Collor foi condenado à prisão e, atualmente, sua defesa recorre ao Supremo Tribunal Federal apresentando embargos infringentes objetivando reverter a decisão da corte.

Após a renúncia de Collor, assume seu vice, Itamar Franco, que faz um governo cuja principal característica foi a de ter nomeado Fernando Henrique Cardoso (FHC) como seu ministro da Fazenda e este liderou a criação do Plano Real que controlou a hiperinflação e estabilizou a economia brasileira. FHC foi eleito e reeleito no primeiro turno (1994 e 1998) tendo Lula como seu principal adversário. Lula, também foi eleito e reeleito (2002 e 2006), todavia, em seu governo houve o julgamento do Mensalão, um esquema de compra de votos e apoio político que foi desnudado pelo STF num julgamento televisionado e amplamente divulgado. Mesmo com fato de extrema gravidade, Lula não apenas foi reeleito, mas garantiu, após seu segundo mandato, a eleição e reeleição de Dilma Rousseff, sua sucessora. Lula foi, posteriormente, investigado na Operação Lava Jato e condenado em primeira instância e, depois, por órgão colegiado, tendo se tornado inelegível, segundo os critérios da Lei da Ficha Limpa e, ainda, ficou preso (580 dias) na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Teve, após decisão do STF, anulando sua sentença, sua liberdade de volta e elegibilidade. Dilma, por sua vez, assim como Collor, sofreu processo de impeachment e, diferente de Collor, não renunciou seguindo seu julgamento até o final, tendo sido considerada culpada pelo crime de responsabilidade, as chamadas pedaladas fiscais. Seu vice, Michel Temer, assume e, também, tem seu curto mandato entremeado por problemas com a Justiça, pois foi alcançado pela Lava Jato e acusado por corrupção e, após o fim de seu governo, chegou a ser preso e acabou sendo solto.

Jair Bolsonaro (2018-2022) é, no momento, mais um ex-presidente que se sentará no banco dos réus. O STF acolheu os indícios apresentando pela Procuradoria Geral da República e Bolsonaro será julgado por liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Obviamente, esse artigo rememora, panoramicamente, o período da Nova República e seus presidentes: Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro – e destes apenas Itamar e FHC não tiveram problemas robustos com a Justiça. Nesse momento, uma questão: o que tem acontecido com a política no Brasil? O que tem acontecido com nossas escolhas, com nossos representantes?

As respostas a estas questão são múltiplas e, por isso, demandam visadas teóricas distintas, no entanto, gostaria, aqui, de apresentar duas ideias de Marco Aurélio Nogueira, em seu livro "Em defesa da política".

Assim, acerca dos políticos, Nogueira assevera que:

"Os políticos profissionais são intermediários, representantes, lideranças. Vivem e agem no interior de um sistema. A boa ou a má qualidade deles depende da qualidade dos que são por eles representados, dos valores que prevalecem e da armação institucional em que operam."

Vejamos, com cuidado, que, para o autor, a qualidade – boa ou má – dos políticos está ligada a qualidade daqueles que escolhem esses políticos, nós, os cidadãos!

Ademais, defender a política é uma defesa da própria existência da possibilidade de resolução dos conflitos, no bojo de nossa sociedade, por meio do diálogo, das leis e dentro das instituições. Por isso, aduz Nogueira:

"Sair em defesa da política, portanto, não é algo que se confunda com a defesa dos políticos ou das instituições que nos governam; é, ao contrário, uma operação destinada a defender a hipótese mesma da vida comunitária. Corresponde à necessidade vital de manter abertas as comportas de oxigênio, para que possamos continuar a respirar."

Prezado leitor, prezada leitora: a qualidade de nossos políticos, nossos representantes, pode se apresentar aquém do desejável, concordam? Então, o questionamento, a seguir, é válido: qual o motivo de nossas escolhas terem sido tão ruins nos últimos anos, independente de coloração partidária, de ideologia política?

Qual é a nossa responsabilidade no quadro que vigora em nosso país? Apontar o dedo para os políticos chamando-os de corruptos ou indicar Brasília como um antro de vícios e maldades pode ser reconfortante. Pode até mesmo trazer alívio, mas não nos exime da responsabilidade ética e cidadã. Os políticos - necessitamos entender - sejam eles democratas, republicanos e honestos ou corruptos e autoritários; todos, todos eles, tem algo em comum: nossos votos. Se ocupam posição institucional é porque foram eleitos e são representantes de nossa vontade.

*RODRIGO AUGUSTO PRANDO
















-Sociólogo graduado pela Unesp - Araraquara (1999);

-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);

-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);

-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;

-Desenvolve pesquisas e orienta nas áreas de empreendedorismo, empreendedorismo social, gestão em Organizações do Terceiro Setor, Responsabilidade Social Empresarial, história e cultura brasileira, Pensamento Social Brasileiro e Intelectuais e poder político e cenários políticos brasileiros.

Nota do Editor:

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