A maior preocupação de animais e seres humanos é a de se manter vivos. A fim de conseguir isso, os cérebros de todos eles possuem, de forma mais ou menos desenvolvida, sistemas que são responsáveis por detectar perigos e ameaças reais. Idealmente, ou seja, em ambientes nos quais o homem não interfere, as únicas fontes de ameaça a sobrevivência dos animais são predadores, falta de comida, indisponibilidade de parceiro para procriar e ocorrência de desastres naturais, como furacões e terremotos. Da mesma forma, os antepassados mais primitivos do homem, tinham esses mesmos elementos ameaçando suas vidas, sendo que predadores eram grupos rivais.
Nos seres humanos, o sistema de alerta do cérebro é formado, principalmente, pelos órgãos dos sentidos, que captam os estímulos externos, e o sistema nervoso autônomo, que libera várias substâncias responsáveis por produzir as respostas de enfrentamento quando uma ameaça é detectada (luta, fuga ou congelamento). Estes elementos são herdados geneticamente. Mas entre a captação dos estímulos externos e a produção das respostas de enfrentamento estão a cultura e a capacidade de imaginar e interpretar, que interferem na avaliação de uma situação como perigosa ou não.
Assim, enquanto um animal dificilmente deixa de perceber ou erra sobre a aproximação de um predador quando percebe uma sombra ou ouve folhas estalando no chão, e imediatamente se prepara para fugir, por exemplo, um ser humano pode se sentir ameaçado quando, no escuro, confunde o barulho de uma porta que bateu com o vento, com a presença de um estranho.
Mas o fator que mais confunde o ser humano na hora de identificar uma situação de perigo é que o ambiente em que vivemos muda rápido demais, mais rápido do que nosso cérebro é capaz de mudar para viver nesse ambiente, pois para que um aspecto herdado geneticamente se modifique, o ambiente ao qual ele precisa se adaptar deve permanecer estável por muitos anos, o que graças ao avanço tecnológico intenso, não acontece mais.
Pense o seguinte: nosso cérebro é ainda muito parecido com o de nossos antepassados mais primitivos que, por sua vez, evoluiu dos primatas não humanos. Nossos antepassados mais antigos viviam em pequenos grupos e, como os primatas, só tinham de se preocupar em se alimentar, procriar, proteger o grupo de grupos rivais e não fazer nada que desagradasse ao líder do grupo ou então, seriam banidos, o que representava a morte, pois sozinhos não poderiam fazer o que precisavam para ficar vivos.
Hoje em dia ainda precisamos procriar, comer, agradar os outros e nos proteger para ficarmos vivos. Fazemos isso de formas e por motivos diferentes, mas a essência é a mesma. Para comer, em vez de caçar, precisamos comprar os alimentos, para isso precisamos de dinheiro, para ter dinheiro precisamos trabalhar e para ter trabalho, temos de ir bem na entrevista de emprego. Quem nunca se pegou ansioso antes de uma entrevista ou passando mal só de pensar na possibilidade de ser demitido? Isso acontece porque para nosso cérebro, desadaptado ao ambiente atual, perder o emprego é igual a morrer de fome, portanto, situações relacionadas com conseguir ou perder o emprego, são erroneamente interpretadas como ameaçadoras.
Outro exemplo? Nos preocupamos tanto em agradar os outros porque nosso cérebro ainda acredita que vamos ser banidos e morrer sozinhos se não fizermos isso. Se preocupações com desempenho social ou com administração da vida cotidiana (trabalho, contas) por serem interpretadas como situações muito ameaçadoras à sobrevivência, geram sofrimento a ponto de comprometer a qualidade de vida, podem se transformar em transtornos de ansiedade social ou generalizada, conforme os exemplos aqui mencionados.
Mas, apesar desses erros e de suas consequências que podem ser muito negativas e trazer bastante sofrimento, o cérebro humano não deixa de ser fantástico e, mesmo com tantas interferências, nosso sistema de alerta é eficiente em detectar perigos reais e salva nossas vidas o tempo todo, todos os dias, quando nos faz olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, evitar caminhos escuros para voltar para casa, colocar luvas na hora de tirar alimentos quentes do forno... Em fim, os exemplos das vezes em que somos eficientes em identificar ameaças reais são inúmeros. No entanto, entender como e por que os erros acontecem é importante para diminuir o impacto deles em nossas vidas e evitar muito sofrimento, pois não vamos morrer de fome se perdermos o emprego nem ficaremos sozinhos para sempre se desagradarmos alguém.
http://consciencia.ano-zero.com/2015/05/27/mamute1/
http://www.psicologia.templodeapolo.net/textos_ver.asp?Cod_textos=382&value=Transtornos%20mentais%20segundo%20a%20perspectiva%20evolucionista&mit=Psicologia%20Evolucionista
http://www.psicologia.templodeapolo.net/textos_ver.asp?Cod_textos=382&value=Transtornos%20mentais%20segundo%20a%20perspectiva%20evolucionista&mit=Psicologia%20Evolucionista
https://scholar.google.com.br/scholar?q=ansiedade,+psicologia+evolucionista&hl=pt-BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart&sa=X&ved=0CAkQgQMwAGoVChMIr-v9ifD2xwIVyhCQCh1jGgAj
https://scholar.google.com.br/scholar?q=ansiedade,+psicologia+evolucionista&hl=pt-BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart&sa=X&ved=0CAkQgQMwAGoVChMIr-v9ifD2xwIVyhCQCh1jGgAj
Por RENATA PEREIRA
-Especialista em Terapia
Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP;
-Atende adolescentes e adultos em
psicoterapia individual e em grupo.
CONTATOS:
Email: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548
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