A violência é um termo abrangente, controverso, global. Está presente em todas as suas formas e tipos. Questão de responsabilidade da família, da sociedade, do Estado e também da escola. Tema que, no ambiente escolar, tem gerado entre educadores, alunos e suas respectivas famílias, insegurança e impotência; compromete nossa qualidade de vida e gera mortes.
Para compreendermos a temática da violência é necessário apresentar um conceito do problema, ou seja, sua natureza e levando em conta que o mesmo pode ser explicado segundo várias teorias. A Organização Mundial da Saúde – OMS, define a violência como:
"O uso intencional da força física ou o poder, real ou por ameaça contra a pessoa mesma, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade que possa resultar em ou tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação. (KRUG et al, 2002:5)"
Pode-se observar que este conceito sobre a violência é amplo, descrevendo vários tipos: a violência autodirigida – aquela em que os indivíduos infligem violência contra si mesmo; a violência interpessoal – aquela em que os indivíduos infligem violência entre si; a violência coletiva – aquela que é infligida contra a coletividade; e a violência escolar – seja violência na escola, violência à escola e violência da escola.
"A violência à escola está ligada à natureza e às atividades da instituição escolar. Ocorre diretamente contra a instituição escolar e aqueles que a representam. Pode ser percebida quando os estudantes atacam o patrimônio, agridem os profissionais ou os insultam. (Chartol – 2002)"
Quando se trata da violência escolar, levamos em conta uma série de múltiplos fatores. A violência que atinge a vida da comunidade onde a escola está inserida; o funcionamento pedagógico de ensino e aprendizagem; a valorização e formação profissional; a relação escola – família – comunidade; indisciplina; reprovação; evasão; estresse e insegurança no ambiente escolar, etc.
A violência interpessoal pode se manifestar na escola por meio de ataques físicos, verbais, morais, psicológicos, sexuais, bullyng e assédio moral; pichações, depredações, arrombamentos, bombas e sabotagens; furtos, roubos e danificações; consumo e venda de drogas no ambiente escolar ou fora dele etc.
Citamos também inúmeros problemas no cotidiano escolar que, na maioria das vezes, não estamos preparados para enfrenta-los: conflitos – que podem ser positivos ou negativos; indisciplina – transgressões, desobediência às regras; incivilidades – desordem, desrespeito, grosseria ou ofensa; ato infracional – que deve ser encaminhado às instituições competentes; racismo – ideologia baseada na superioridade de uma raça, etnia ou grupo sobre outro; preconceito – racial, social ou sexual; discriminação – raça, sexo, idade, cor, religião, estado civil, orientação sexual, condição socioeconômica, aparência, convicção política etc.; e homofobia – atitudes e sentimentos negativos de antipatia, desprezo, rejeição, hostilidade, aversão, medo e ódio.
"A violência está disseminada por toda a sociedade. Estamos mais perto dela do que gostaríamos e ela é mais extensiva do que imaginamos. Em função dessas características intensivas e extensivas da violência, sua desarticulação somente poderá ser alcançada se sua busca for adotada como um dever social de todos, em uma rede de proteção integral. (Vicente de Paula Faleiros)"
Saber atuar nos casos de violência é importantíssimo para a escola. Tal atuação deve sempre pedagógica, visando a restauração, a integridade física e emocional das partes envolvidas, da integração do estudante à comunidade escolar; aplicar medidas prevista no Regimento Escolar: advertência e repreensão verbal, advertência e repreensão por escrito; comunicação por escrito aos pais; convocação por escrito dos pais etc. Não podemos esquecer que os estudantes são sujeitos de direito que podem manifestar-se em sua defesa, na presença dos pais ou responsáveis perante a direção escolar.
A atuação da escola diante da violência consiste também em pensar numa educação que promova a aprendizagens e vivencias de valores de cidadania e de direitos humanos, do diálogo diante do conflito, qualidade no processo ensino aprendizagem, cuidado do bem-comum, estreitar as relações com as famílias. A comunidade escolar precisa de todos os tipos de proteção. Os professores precisam ser capacitados em espaços de discussão, cursos, seminários e material didático de temas como violência, direito humanos e exclusão social, uso de drogas e seus usuários e traficantes, o uso de armas, a depredação patrimonial, exploração sexual de crianças e adolescente, questão de gênero e raça, o Bullying identificados dentro ou fora do ambiente escolar. Participar de fóruns sócias, ouvir aqueles que estão envolvidos, educadores, famílias e alunos pode ser um bom começo.
"O grande desafio para os educadores é fazer da escola um espaço inclusivo e diverso, onde a presença da diversidade seja o reflexo da comunidade, considerando as diferenças um dos fatores que contribui com o processo formativo e humano. Contudo, não há outra possibilidade de construir esse olhar a não ser por meio da prática escolar diária e da reflexão continuada a respeito das questões inesperadas que essa nova realidade traz.(Igualdade e discriminação : caderno temático / Vlado Educação - Instituto Vladimir Herzog . - 1. ed. - São Paulo: Instituto Vladimir Herzog, 2015. -- Projeto respeitar é preciso!)POR FERNANDO MARTINS
-Professor, escritor e palestrante;
-Licenciado em Ciências Sociais e
Especialista em Metodologia do Ensino da História e Aconselhamento Familiar e
-Doutor em Teologia.
Nota do Editor:
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Caríssimo professor, é com tamanha tristeza que encaro esse tema, educação, pois infelizmente penso que no Brasil ela é uma farsa.
ResponderExcluirSim, a violência faz parte do nosso cotidiano. Ela não escolhe lugar. Nossas crianças e jovens estão expostos a todo os tipo de violência a qual se refere.
Penso eu, que a violência está arraigada na nossa sociedade e em expansão devido ao que podemos classificar como impunidade. A impunidade e as leis que retiraram de nossas crianças e jovens a responsabilidade pelos seus atos, são a mãe e o pai da violência tanto na escola como na vida cotidiana.
O repeito de dantes aos quais os Professores “P” estavam acostumados, que nada tem a ver com o regime de governo da época, se esvaiu depois da sindicalização da classe.
Ao meu ver quando das greves intermináveis dos anos oitenta, começaram ali o desprezo e a desconfiança de pais e alunos com esta classe. Classe que até hoje, mesmo após uma alma que se intitula a mais honesta, ter chegado ao poder usado-as como trampolim, seus salários continuam defasados.
Lógico que não culpo os professores por esta violência a quais estão expostos alunos, professores, diretores e assistentes. Mas a covardia de alguns alunos, o despreparo de alguns pais e da direção das escolas, a falta de apetite de uma grande parcela de professores que abdicaram de ensinar podem ser a cerne para tanta violência na escola.
Temos ainda questões como ideologias canhestras e vitimismos açodados por nossas mídias televisivas, partidos e mesmo pelas cartilhas, que ficam para o próximo encontro...