sábado, 2 de dezembro de 2017

O Provável Tripé da “Falência Múltipla de Órgãos” da Educação no Brasil



Em pleno século XXI, ainda há quem atribua somente ao descaso dos governantes todo mal que aflige a Educação no Brasil. Ledo engano. Talvez este seja o mais revoltante dos fatores de degradação do ensino em terras tupiniquins, mas não é o único. Há outros dois "bandidos tenebrosos" a maltratarem o palco das salas de aula: A desvalorização do professor e a indisciplina discente, as quais representam os dois outros prováveis lados de um tripé conflitante de muito difícil resolução.

No tocante à famigerada falta de aplicação de verbas na educação, que consiste no principal indício de descaso governamental, sabe-se que houve uma proposta de orçamento de R$ 62,5 bilhões para este ano de 2017. Todavia, esse investimento, como já era de se esperar, "ficou na saudade". A única "novidade" prática e de fato notória do governo, em verdade, foi a tão proclamada reforma do ensino médio, que ainda denota uma série de debates a serem transformados em realidade.

Em se tratando da desvalorização do professor, não se podem considerar apenas os baixos e injustos salários, mas toda uma conjuntura de fatores, tais como as péssimas condições de trabalho e o número excessivo de alunos por sala de aula. Por conta disso, diminui, a cada ano, o número de candidatos a uma vaga de professor. Afinal, se é chamado de professor um simples técnico de futebol, cuja missão é tão somente a de ensinar a fazer e evitar gols, sem que para isso seja necessário um diploma...

Para finalizar, destaca-se a questão da crescente e indomável indisciplina escolar, indiscutível fruto das mazelas familiares, da falta de imposição de limites por parte dos pais, do desinteresse em aprender lições de "aplicabilidade duvidosa" - segundo opinião dos próprios alunos – e do advento do celular, que tem se revelado como sendo uma fonte inesgotável de novidade, interação e entretenimento. São incontáveis, em suma, os elementos que levam o educando a dispersar sua atenção, restando ao educador, por conseguinte, o gosto amargo do insucesso e da impotência.

Em suma, atuar como professor tornou-se muito mais que um sacerdócio, mas um sacrilégio. Tornar-se educador agora é uma tortura, missão quase impossível, coisa para idealista, cujo dom não é somente o de ensinar, mas o de lutar na contramão do mundo. No entanto, ser professor é ainda, e apesar de tudo, um convite à satisfação suprema. Porque, como já o disse a grande escritora Lygia Fagundes Telles, "vocação é a felicidade de ter como ofício a paixão".



POR MARIA ELIZABETH CANDIO

















-Mestre em Letras pela USP, Universidade de São Paulo (2007), com dissertação de mestrado em Estudos Comparados de Literaturas em Língua Portuguesa;
-Possui graduação em Letras e Tradutor-e-Intérprete pela Faculdade Ibero-Americana (1982);
-Pós-graduação Lato Sensu em Literatura Brasileira-Fase Modernista (1985);
-Leciona há 36 anos na área de Letras,com ênfase em Língua Portuguesa,Língua Inglesa,Técnicas de Redação,Português Instrumental,Inglês Instrumental,Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa e
-Tem experiência em Ensino Fundamental,Médio e Superior e um livro de poemas publicado,Canção Necessária (1986).


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Um comentário:

  1. Caríssima, não existe um dogma neste quesito educação em se tratando de Brasil; nada do que pensamos parece ser definitivo e incontestável. Ser Professor com "P" maiúsculo está sendo uma tarefa para poucos, muito poucos.

    Nossos alunos fincados na premissa de que devem serem protegidos a qualquer custo das anomalias da vida cotidiana ganharam um ALIADO poderoso na vagabundagem escolar que é o POLÍTICO.

    Pais de hoje OCUPADÍSSIMOS com os deveres de provimento do lar abriram mão da EDUCAÇÃO (item que décadas atrás eram deles), e deixaram nas mãos dos professores a dupla tarefa de educa e ensinar.

    Salvo raras exceções, os Professores com "P" ainda conseguem EQUILIBRAR esse injusto bojo da modernidade brasileira onde ao ALUNO é dado o DIREITO ESQUERDO de se manifestar, repudiar, odiar e simplesmente nada fazer se a matéria não for de seu agrado.

    Meu pensamento sobre nossa educação atual é triste e injusto pois acredito que os Pais abriram mão de educarem seus filhos, os Alunos não querem nada com nada, os professores desistiram e querem metade e o POLÍTICO, bem; o político nesta equação satânica, se ELEGE e REELEGE por décadas...

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