domingo, 17 de fevereiro de 2019

MEDO – Afinal, que Diabo é Isso?



Autor:Luís Lago(*)



Para início de conversa, ter medo não é privilégio nosso; do ser humano. Portanto, não devemos nos sentir honrados por essa sensação que nos invade (algumas vezes nos paralisa) quando nos defrontamos com algo real, ou imaginário, que ameace nossa integridade física e/ou psíquica. Em outras palavras, o medo é um estado de alerta demonstrado diante do que julgamos nos ser nocivo a nossa sobrevivência.

Como animais que somos, em nada nos diferenciamos do ponto de vista neuro-fisiológico de todos os nossos companheiros de caminhada. Os circuítos neuronais – com suas maravilhosas sinapses – ocorrem seja em um simples camundongo, ou em um gato, ou em um cão, ou em um macaco, ou em um elefante, ou em um leão, ou em qualquer outro animal existente na face de nossa Terra.

Assim como nós, seres "humanos" (que, segundo alguns boçais,são "superiores" a todos os demais seres viventes); assim como nós, esses nossos amigos, mansos ou ferozes, são invadidos pela mesma sensação orgânica-psíquica, ou seja, pelo que foi e é rotulado de medo.

Fácil compreender que o medo que todos carregamos a tiracolo, nada mais é do que uma herança bendita, ou maldita, que nos foi delegada por nossos ancestrais. Naqueles bilhões de anos atrás não faltavam raios e trovoadas, temporais monstruosos, tremores de terra, explosões vulcânicas, como não faltavam degelos, avalanches, enchentes, ondas colossais, tsunamis, e vai por aí afora, sem falar nos terríveis predadores para cada um dos elos da cadeia das espécies de outrora. 

Aqueles que possuiam alguma habilidade, por mais ínfima que fosse – algum jogo de cintura – procuravam fugir para algum buraco, alguma toca qualquer, para o que se poderia ser considerada hoje como "caverna". 

E tudo era novo para todos. Tudo era uma fuga constante, pois tudo era eminentemente ameaçador. Tudo gerava a sensação que a morte estava ali pertinho; com seu hálito fétido. A reação era um intricada sensação complexa, inexplicável, incognoscível, que provocava semi-paralisia física, antecipada ou sincrônicas à tremores generalizados, ou à palpitações, ou sudorese, e tudo o mais que invadia aqueles seres da Era primeva, exordial. (Nos referimos àqueles seres que foram nossos ancestrais. Que foram – e cabe aqui destacar, ressaltar, a massa modelar do que somos hoje. 

Porém, existe uma diferença, digamos, sutil da resposta comportamental de outrora para a que é emitida nesses dias "inteirados" e, ou "modernizados", de hoje. 

― Que diferença é essa?

O Homem ao racionalizar sua reação diante das ameaças à sua frágil inteireza física, acabou engendrando mecanismos psíquicos de defesa, e entre esses, a capital recorrência à crenças em entidades que viessem lhe socorrer, lhe amparar na vida e na hora da morte, ou após a mesma. No entanto, a incontável gama de religiões criadas por ele, não foi capaz de lhe poupar dos dissabores da instalação de vários tipos de fobia, dos diversos graus de ansiedade, e das sutilezas do Pânico. 

Em que pese o Homem de hoje viva uma era de conquistas espaciais, e conviva com uma altíssima tecnologia; em que pese esses desmedidos avanços, ele ainda carrega dentro de si pedaços do que foi outrora: pratica a dissidia, saqueia, fere e mata o seu próximo. E se afunda no mesmo medo.

*LUIS LAGO




















-Psicólogo graduado pela Universidade Santo Amaro(1981);
- Especialização  em Terapia Comportamental; e 
- Atuação clínica por 15 anos. 
-Atualmente é Jornalista e  Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")

Nota do Editor:

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