sábado, 30 de março de 2019

O que queremos para nossos filhos?


Autora: Márcia de Carvalho(*)

Vivemos em uma sociedade onde os pais tentam fazer as coisas pelos filhos, como dar comida na mão, cortar o pão, preparar o lanche, fazer as lições de casa por eles e até "enfrentar" os colegas e professores para defender qualquer situação que os deixaram chateados, frustrados ou magoados. Não estou falando de crianças pequenas, mas sim as que já estudam no ensino fundamental.

Essa geração está crescendo cheia de "mi mi mi", sem autonomia, sem freios, sem limites e sem deveres. 

Nas salas de aula, professores fazem papel de tudo... psicólogo, pai, mãe, médico, terapeuta, investigadores de materiais perdidos e cada vez menos de professor, pois ao invés de ensinarem os conteúdos básicos como continhas, situações problemas e interpretação de texto, eles precisam ensinar boas maneiras e valores que deveriam vir de casa.

Fora que essa mesma geração está aprendendo a não ter esforço nenhum para conseguir o que querem. Acredito que não seja isso que os pais estejam querendo na verdade.

Acredito que assim como eu, tiveram vidas difíceis e querem dar o melhor para seus filhos. Mas como achar um equilíbrio nisso tudo, neste mundo onde toda hora temos novidades simultâneas, informações em tempo real e respostas com apenas uma palavra ditada para o celular. 

Não podemos dizer mais nada que os contradizem e muito menos chamar-lhes atenção. Na mesma hora aparecem até vizinhos, estranhos, outros pais defendendo-os, reivindicando, reclamando e brigando com quem quer que seja, independente da situação. Tudo hoje é rotulado como bulling, agressão verbal, ofensa e exposição da criança.

Esses pequenos estão cheios de direitos, mas esquece, ou os pais não os ensinam, que também existem deveres. Acreditam na versão dos filhos como verdade absoluta e esquecem que sempre existem outras versões para a mesma história. Muitos deles, pais ou filhos se mostram ingênuos ou vendados diante das situações que o tiram da zona de conforto. Acreditam que o melhor é criar o filho em uma redoma de vidro, fazer e lutar por ele.

Nos dias de hoje o número de crianças depressivas e que chegaram ao suicídio tem aumentado demais. Não dá para achar isso normal, pois nunca será. A maioria dos pais tentam suprir a ausência, o tédio e as decepções que os filhos tanto se queixam com bens materiais, recompensas por atitudes que não merecem recompensas, dando tudo que o filho quer e fazendo todas as vontades, mas isso não os torna mais feliz. 

Lembro-me de uma das minhas primeiras reuniões pedagógicas na carreira do magistério, onde li um texto para os pais sobre a borboleta. No texto dizia que a borboleta queria sair do casulo, mas estava com tanta dificuldade, que um homem que a observava, cortou o casulo com a intenção de ajudá-la a sair dali. O que este homem da história não sabia, é que a borboleta precisa passar por esse sofrimento para fortalecer suas asas. O final você já imagina né? A borboleta não conseguiu voar e acabou morrendo. 

Triste, mas é o mesmo que fazemos com nossas crianças nos dias de hoje. Fazemos por eles, mas cada um tem um motivo para se ausentar da culpa rs... Um é para a criança ficar quieto, outro para compensar a falta que sentem dos pais, outro é para parar de brigar com o irmão ou na escola, mas não é assim que deveríamos preparar as crianças para o futuro, pois nós não duraremos para sempre.

Devemos ensinar os valores e autonomia! A escola ajuda, a igreja contribui, mas educação para formar o caráter, respeito ao próximo e solidariedade tem que vir e ser exemplo dentro de casa, pois somos o primeiro modelo de homem e mulher para eles. Nós pais, que damos exemplos que se fortalece na infância e que levam para o resto da vida. Sermos permissivos não tornará a vida dos nossos filhos mais fáceis que a nossa, pelo contrário, farão bater a cara e sofrer mais quando forem caminhar sozinhos na estrada da vida. 

Nenhum diretor, nenhum professor, nenhum chefe deixará fazer o que querem, na hora e do jeito que querem. Nenhum deles irá chama-los de príncipes e princesas, não farão elogios e nem os defenderão em situações problemas. O que fazer então? Chorar? Não precisa, mas ainda dá tempo. Sempre dá tempo de dar o exemplo e fazer o que de verdade é melhor para eles, mas o problema é que dói, muitas vezes dói mais em nós dos que neles mesmos, mas vale a pena. 

Educar o filho tem que ser para o mundo. Aprender a conviver e viver em grupo com pessoas diferentes, que tiveram outra criação e crença, ter compaixão, se doar a quem precisa, ser solidário, se colocar no lugar do outro, pensar e ensiná-los a pensar: "... e se fosse comigo?"

A vida é uma via de mão dupla e o que transmitimos sempre recebemos. Uns dizem que isso é a lei do retorno, é justiça divina, a semeadura, mas não importa. O que importa é olharmos para eles no futuro e sentirmos orgulho do SER HUMANO que se tornaram. 

*MÁRCIA DE CARVALHO













-Pedagoga formada pela Universidade do Grande ABC, Santo André, SP;
-Especialista em Ensino Fundamental, problemas de aprendizagem, com Especialização pela Faculdade Campos Eliseos em Direito Educacional, Educação Especial e
-Especialização em Novas Metodologias pela PUC;
-Professora há 20 anos, lecionando desde a educação infantil em colégios particulares e há 5 anos no ensino público do Município de São Paulo já Lecionou em cursos de especialização na área da Educação como convidada de  algumas Universidades.

Nota do Editor:
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