sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O Narcisismo e o Fanatismo na Balança Eleitoral de 2022

Autor: Eduardo Costa(*)



Estou meio arredio a ler notícias. O ambiente é pesado, tenso e de baixo nível. As "news" falam mais do mesmo, mudando apenas o tom do discurso. O Bolsonaro é isso, o Lula é aquilo, o Papa é comunista, e vai por aí. Tudo saindo de observadores com análises rasas de problemas bem complexos. Textos educados, propositivos e fundamentados em análises e fontes confiáveis, esqueçam. Parece que todos se contaminaram com o vírus do narcisismo e só conseguem enxergar o que lhes é vantajoso.

Como em todo interesse com fundamentação em dinheiro, peca mais quem tem mais. Neste diapasão, Globo e UOL saem à frente nas distorções de interpretação de fatos como na reportagem sobre Flávio e Queiroz que gerou uma descompensada reação do presidente.

Na verdade, os grandes sites adotam o tom de agressividade, tanto na política, quanto no esporte, pois o tom de desprezo que tanto dizem atacar, é o que vende mais a matéria veiculada com toda sorte de anúncios relacionados, e as mídias sociais vão no mesmo caminho, sendo pautadas pelos grandes veículos de comunicação, pela forte manifestação coberta de ódio em reação aos temas noticiados. 

Dizer que estamos chegando ao fundo do poço e que acabaremos comendo uns aos outros, numa antropofagia sem fim, é crítica que só se faz verdade em alguns casos, minoria, mas que de fato chamam mais atenção e têm o seu conteúdo ampliado pela comunicação em linguagem de baixo nível.

Uma vez, ao postar no twitter, um colega leu meu "post"e comentou que ele era bom, mas muito educado e sem palavrão, dizendo que ninguém iria comentá-lo. Eu o respondi dizendo-lhe que não usava de violência verbal para constranger pessoas e fazê-las concordar comigo.

É isso que me cansa. Sempre que adentramos às agressões e xingamentos perde-se o conteúdo da discussão e passa-se a tratar o assunto de acordo com o credo de cada um que deixa argumentos de lado e parte para a publicação de dogmas num exercício sem fim de seus fanatismos.

Durante anos combati esta questão por onde trabalhei, tentando impedir ações que vinham de um esquema de aparelhamento estatal por sindicalistas. Hoje, eles continuam em campo mesmo já tendo vários de seus esquemas desmascarados por operações policiais. O que, no entanto, me deixa surpreso é que o fogo tenha uma nova participante: a direita brasileira. 

Fincados na eterna discussão de meios e modos, esquerdistas e direitistas se engalfinham diariamente nas mídias sociais e, neste caso, a direita perde. Primeiro, por ter sido vitoriosa em outubro/2018 e ficar debatendo situações que já teriam morrido se não viessem à tona trazida por quem venceu o jogo. Tal fato, transformou o governo Bolsonaro num ato de campanha eleitoral permanente. Só que, neste caso, trata-se de gente que há pouco estava no mesmo lado e, agora, querem se destruir mutuamente.

Quem perde com tudo isto? O país que poderia avançar mais em conquistas socioeconômicas, o presidente que perde apoio popular e naufraga nas pesquisas e o eleitor que acredita nas mudanças prometidas por ele durante a campanha.

É claro que Bolsonaro tem culpa de uma boa parcela de tudo que acontece a sua volta. Às vezes, aparece descompensado vociferando contra as mídias opositoras. Em outras, adota a ironia como forma de lidar com assuntos que lhes são mais espinhosos. De fato, esqueceu que ganhou a eleição e que governa para todos os brasileiros, que pode ouvir qualquer pergunta e respondê-las em voz baixa e no seu tempo pois todas as orelhas estarão a esperá-lo. Ele é o líder.

Nenhuma eleição é igual. O apoio que o presidente teve na bela campanha de 2018, não se reproduzirá em 2022, primeiro por que Lula não tem mais a força de antes, depois por que o atentado que o poupou de quase todos os debates, também já é coisa do passado. 

Se quiser disputar em 2022 com condições de ganhar inclusive de alguém de centro direita, o presidente precisará não perder para si próprio e, principalmente, se colocar como melhor opção deste espectro ampliando a comunicação com o povo além das "lives" e de suas reações irônicas contra tudo aquilo que não é espelho..

*EDUARDO PRAXEDES COSTA







-Psiquiatra e neurologista com mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental (UFRJ, 1995) atua em consultório no bairro da Tijuca, RJ;

- Advogado desde 2007;
-Autor do conto policial A Investigação(KDP Amazon) em e-book (agosto,2017) e está finalizando seu primeiro romance.


Nota do Editor:
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