Autor: Rodrigo Augusto Prando(*)
O ano de 2020 foi assaz impactante. Fomos, todos, em maior ou menor grau, atingidos pela pandemia. A normalidade de nossa vida cotidiana foi suspensa e estamos em compasso de espera de uma vacina. Sociologicamente, a crise sanitária advinda do coronavírus conjugou-se às crises econômica, política, de liderança e educacional. A situação de crianças e jovens, portanto, alunos e de professores merece especial atenção.
A educação é, no campo da Sociologia, tema fundamental, visto que a escola é instituição socializadora e, por isso, capaz de moldar formas de sentir, pensar e agir, que levamos por toda a vida. A pandemia, em meados de março, logo após o carnaval, nos levou à necessidade de afastamento social, obviamente, para evitar a contaminação de um vírus cuja dinâmica era, ainda, desconhecida e que levava, especialmente na Europa, a milhares de óbitos. As escolas – públicas e particulares -, instituições do ensino superior, entre outras, tiveram suas atividades pedagógicas presenciais interrompidas.
Literalmente, de uma hora para outra, estudantes e professores, bem como diversos profissionais da educação, tiveram que se adaptar às aulas remotas, não presenciais, conjugando aulas síncronas e assíncronas.
Particularmente, os professores defrontaram-se com ferramentas tecnológicas que não conheciam, alguns, até, sequer tinham familiaridade com computadores, vídeos, áudios, enfim, uma ampla gama de tecnologias, sensações e incertezas postas na ordem do dia. Professores, em grande parte, formados para as aulas presenciais e que, pedagogicamente, levaram em conta a importância da relação pessoal com seus alunos, foram obrigados e alterar, substancialmente, suas estratégias de ensino.
Educar, formalmente, nas escolas e universidades, reclama planejamento, seguir um plano de ensino, com objetivos claramente definidos, com ações avaliativas, enfim, educar é uma ação social racional e que demanda tempo para o planejamento e execução.
Por isso, a pandemia promoveu uma ruptura em nossas práticas educacionais.
Aqui, em casa, fomos, minha esposa e eu, professores universitários e temos um filho de seis anos, com a alfabetização e as primeiras leituras sendo realizadas ao longo deste ano.
Confesso, caro leitor e cara leitora, que em dias de aulas síncronas, ao vivo, de minha esposa, do meu filho e minhas a situação foi, no mínimo, terrível. Claro que, em nosso caso, temos computadores e internet estável e com boa velocidade para nossas tarefas escolares e acadêmicas.
Entretanto, milhares de professores e estudantes não tem as mesmas condições. A estrutural e histórica desigualdade de renda e de oportunidades que nossa sociedade apresenta se agudizou neste cenário pandêmico. Pobres, moradores da periferia e negros foram mais contaminados, morreram mais e, infelizmente, estarão no grupo dos mais prejudicados no aspecto educacional pós-pandemia. Para quantificar essa realidade, em matéria do jornal O Estado de S. Paulo, em 2510/20, temos que: "pelas métricas dos pesquisadores, os alunos mais pobres são 633% mais afetados pela falta de oferta de atividades escolares que os mais ricos".
A educação no cenário pós-pandemia terá que ser tratada com especial atenção pelas instituições governamentais, pelas famílias e por toda a sociedade brasileira. O ano foi de enorme dificuldades, mas pode ser de grandes aprendizados. A educação, mais do que nunca, deve e pode fazer a diferença, desde que seja prioridade individual e coletiva.
(*) RODRIGO AUGUSTO PRANDO
-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);
-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);
-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;
-Desenvolve pesquisas e orienta nas áreas de empreendedorismo, empreendedorismo social, gestão em Organizações do Terceiro Setor, Responsabilidade Social Empresarial, história e cultura brasileira, Pensamento Social Brasileiro e Intelectuais e poder político e cenários políticos brasileiros.
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