domingo, 21 de maio de 2023

Aspectos Sociais da Saúde Mental


 Autor: Mateus Santos(*)

Saúde mental não é senão a interface entre um conjunto de fatores biopsicossociais em harmonia, que apesar da presença de oscilações naturais, pode-se sentir as emoções, ser atravessado por elas e ter compreensão sobre formas de viver em consonância com o que se é. Pensando nisso, poderia a lógica individualista dar conta da produção de saúde mental na sociedade? Levantando este questionamento, cabe refletir sobre o discurso de priorização máxima de si e suprimento de demandas especificamente individuais que não darão conta da inter-relação, sendo esta uma condição inerente ao ser humano.

O ser humano é relacional mesmo antes do nascimento, posteriormente apesar do ganho de autonomia e independência, permanece atravessado por relações e trocas. Diante disso, o senso de comunidade, o compartilhar de experiências e apoio mútuo tem propiciado avanços sociais e culturais, do mesmo modo que a ausência do senso coletivo, além do prejuízos na sociedade, tange atravessamentos na individualidade das pessoas.

Importante demarcar a diferença entre a individualidade e o individualismo, sendo que a individualidade preconiza a compreensão de um espaço subjetivo acerca de si, onde é possível ter compreensão dos desejos, necessidades, bem como das próprias características que compõem cada indivíduo. Enquanto o individualismo, tende a uma lógica solitária e egoísta, sendo priorizado os próprios desejos incondicionalmente, independentemente dos impactos deste. No discurso neoliberal, por exemplo, ambos (individualismo e individualidade) tendem a se misturar, havendo a potencialização de condutas antissociais, a criação de hostilidade nas relações e a ilusão de um autocuidado, que posteriormente retorna para si em forma de isolamento, ambientes hostis e de pouco apoio mútuo.

Adentrando ao neoliberalismo, que carrega consigo a competitividade como filosofia, concerne na potencialização do individualismo. Portanto a lógica competitiva e individual, tem como uma de suas consequências a exaustão no cotidiano. E problemas de ordem social e implicados na desigualdade, tendem a uma culpabilização dos indivíduos que muitas vezes podem adoecer de diversas formas. Com o adoecimento sendo medicalizado, também acaba se medicalizando um problema que na realidade é social, no entanto de maneira equivocada.

Entre "ansiosos" e "depressivos", existem muitas camadas de sofrimento que perfazem ansiedades e depressões. Não se pode ignorar os aspectos individuais e subjetivos dos fenômenos. Mas há de se tensionar a compreensão em torno da multifatorialidade dos fenômenos.

A integralidade do ser humano, dentre aspectos biológicos, psicológicos, sociais, que estão em permanente diálogo, precisa ser considerada. Por tanto, pensar em saúde mental e se ater a recortes específicos do ser é negligenciar a proporção da existência, a história e forma de se relacionar com a mesma. Cuidar da saúde mental é algo amplo, que pode ser feito de diversas maneiras, que vai da garantia e acesso a direitos básicos, construção de relações saudáveis e por fim o acompanhamento profissional, com a psicoterapia, por exemplo.

* MATEUS VITOR DOS SANTOS - CRP 06/166311

















Psicólogo e Psicanalista;

Graduado em Psicologia pela Universidade Paulista - UNIP (2020);

Pós-graduado em Psicanálise pela Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI (2021); e

Pós graduado em Cuidados Integrativos pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP  (2022).

Nota do Editor:

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