sábado, 27 de maio de 2023

A Educação no Brasil: um "eterno" caso de descaso!


 Autor: Luiz Eduardo Lima(*)

Educação é uma palavra que guarda em si uma ideia muito abrangente, que envolve várias ações e funções, como aprender, ensinar, criar, aprimorar, evoluir, desenvolver, pesquisar, servir e vários outros aspectos que não se fazem necessários nesse momento. Por outro lado, é preciso dizer que a educação, em certo sentido, é também uma necessidade humana. Aliás, é uma necessidade intrínseca da própria vida, seja ela humana ou não, porque todas as espécies vivas procuram evoluir melhorando suas em suas possibilidades de viver, se adaptando as circunstâncias impostas pelo ambiente, aprimorando e diversificando suas atividades.

Assim, pode ser dito que a Educação é um processo natural que visa conduzir os indivíduos e consequentemente suas respectivas espécies a sobreviverem em condições mais favoráveis. Isto é, a vida está progressivamente se educando e consequentemente aprendendo sempre mais para poder se adaptar mais e viver melhor. A presa precisa aprender a ser mais capaz de fugir do predador. O predador necessita melhorar sua estratégia de captura da presa. O parasita tem que se adaptar sempre mais e melhor ao hospedeiro, porque o hospedeiro sempre quer ser mais capaz de se livrar do parasita. Deste modo, é óbvio que os seres humanos também precisam aprender mais para viver melhor.

Pois então, a vida é um complexo de comportamentos encadeados onde os organismos interagem e procuram se beneficiar progressiva e mutuamente da interação, aprendendo e conquistando novos mecanismos que visam garantir a sobrevivência individual e continuidade da própria vida como um todo. Infelizmente parece que muitos dos seres humanos não se aperceberam desse fato e assim, ainda carecem bastante dos valores educacionais, que por óbvio, auxiliariam a minimizar os seus respectivos problemas e, em última análise, a transformá-los em seres humanos mais capazes, com chances maiores de sobrevivência e certamente mais felizes.

Enfim, existem vários exemplos que poderiam ser dados para demonstrar que a Educação tem uma conotação vital e que condiciona sempre ao bom, à condição melhor e que assim permite que os organismos vivam mais completa e realmente. Em última análise, a educação pode ser entendida como o contingente de situações que possibilitam aos indivíduos maiores oportunidades de seguir em frente com menores dificuldades e maiores facilidades. Nós, os seres humanos, deveríamos ter total consciência dessa realidade e, por isso mesmo, deveríamos priorizar a Educação antes de qualquer outra atividade.

Vejam bem, a Educação não é algo que se refere necessariamente ao bem, mas sim, que é intrinsecamente associada ao bom. Obviamente, o bem é oportuno e conveniente, mas não é necessário no processo da educação. O bem sempre traz vantagens, mas não as condiciona. E aí que entra a Ética, quando o bem é favorecido pelo bom e a boa condição torna-se também benéfica. A maldade não existe na natureza, porque na natureza tudo é primitivamente bom e fica melhor ainda, quando se faz bem, ou seja, quando se atua para ficar melhor.

O mal social não é necessariamente o contrário do bem, mas é a falta de detalhes e aperfeiçoamentos melhores para se alcançar um objetivo coletivo benéfico. É quando se sabe que algo podia ser melhor para todos e não está sendo, porque ninguém se esforça na direção da melhora comum. Certamente a Educação é uma das coisas, a principal delas, que melhora a comunidade. Assim, a Ética enfatiza a necessidade educacional e traz vantagens para a Educação, haja vista que a ética vislumbra o bem viver coletivo.

Educação e Ética são "primas-irmãs" que trabalham juntas para garantir sucesso efetivo e eficiência operacional num ambiente benéfico, prazeroso, contagiante e sobretudo bondoso. Quando falta a Ética a Educação fica capenga e a maldade sobressai. O educado e não ético é um ser humano perigoso, que oscila entre o bem e o mal, sem nenhum constrangimento e esconde o seu verdadeiro eu. Quando ocorre o contrário, o ético pouco educado, o bem que é produzido pela Ética muitas vezes mascara a falta de Educação e o indivíduo, embora pouco educado, muitas vezes aparente ter boa Educação, mas fica visível sua carência nas diferentes atitudes e situações sociais.

Se pensarmos, do ponto de vista estritamente político, poderemos observar que a Educação é uma questão essencial e por isso mesmo deveria ser uma prioridade nas ações políticas. Na verdade, todas as coisas dependem em grau maior ou menor da educação. Entretanto, os políticos se contradizem não só nas suas palavras, mas, principalmente, nas suas posturas, pois rejeitam o bom e o bem, quando deixam de lado a Educação. Alguns deles chegam mesmo a repudiar a Educação e esses sim, conduzem voluntariamente a sociedade para o mal. Mas, infelizmente, esse não é um atributo exclusivo dos políticos. Na verdade, esta é uma característica bastante comum do ser humano, que, talvez, por pura "sorte", o restante da natureza aparentemente não conhece.

Talvez, para evitar esse lamentável erro humano, os governos tendem a desenvolver programas de educação, entretanto a Educação não deve ser um programa de Governo e muito menos de Partido, como querem alguns infelizes, mas deve ser sim um fundamento social obrigatório do estado, visando produzir seres humanos melhores. Como já foi dito, a Educação é uma necessidade para que o indivíduo fique progressivamente melhor e para que ele também possa produzir boas coisas para sua comunidade.

No caso brasileiro, não se educar é mais terrível ainda, porque passa a demonstrar toda a ingenuidade, inoperância e incapacidade humana do cidadão que vive nesse país continental e que não procura agregar valor a si mesmo, porque é incapaz de compreender que pode e deve contribuir para que o país fique melhor. Esse tipo de cidadão está tão cego, que não entende que sua melhora pessoal, também significa a melhora da comunidade em que ele está inserido e da sociedade como um todo. É degradante o estado que permite que essa condição lamentável se reforce e se perpetue.

Então, para suprir essas carências crônicas dos indivíduos da nossa espécie e, em particular, os brasileiros, os governos deveriam trabalhar a Educação e a partir daí pensar nas demais necessidades. Mas, não é bem assim que as coisas acontecem. Aqui no Brasil, os governos, em qualquer das três esferas do poder, existem apenas para continuar sendo governo e fazem questão de não discernir entre certo e errado ou entre bem e mal. Deste modo, os governos travestem a necessidade educacional por um faz de conta, que apenas tenta justificar o injustificável e assim, premiam a ineficiência racional de quem busca manutenção desse eterno status quo. Por conta disso, a Educação não é uma questão importante para os governos e consequentemente acaba também não sendo para a sociedade.

Ou seja, troca-se sempre de roupa, mas nunca se toma banho e assim, embora o indivíduo esteja externa e aparentemente limpo e educado, na verdade ele continua sujo e progressivamente mais mal-educado. Em suma, se faz uma maquiagem da educação e nunca se tenta educar realmente. O pior de tudo é que a maioria das pessoas não consegue ou não quer enxergar o que acontece e a situação segue sem nenhuma restrição, como se a falta de educação fosse uma normalidade biológica e social dos seres humanos nascidos no Brasil.

É claro que existem algumas pessoas sérias que percebem essa maldade dos poderes constituídos. Essas pessoas se dedicam acima do descaso oficial, acabam por suplantar os problemas e escapam das armadilhas, mas isso acontece apenas com uma minoria privilegiada de senso e de intelecto, que infelizmente não é tão comum na nossa espécie, mormente aqui no Brasil. Lamentavelmente a maioria das pessoas é ludibriada e segue ignorando a maldade daqueles seres humanos que planejam essa trama terrível.

Há tempos venho percebendo que esse tipo de ser humano maldoso e oportunista, opera seu plano de maneira sórdida e inescrupulosa e alguns dos incautos, totalmente envolvidos e embriagados, além de não perceberem, muitas vezes, ainda aplaudem e defendem vigorosamente muitas das ações nefastas. Infelizmente, o poder de persuasão do mal é fantástico e muito poderoso. Como disse Edmund Burke: "para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada" e assim a caravana segue seu caminho sem problemas e a humanidade piora, pois se dirige na contramão da própria natureza.

A escola é um lugar genial que a humanidade inventou para educar e instruir melhor os homens, fazendo com que eles possam, progressivamente, tentar superar as suas carências pessoais, dificuldades morais, deficiências comportamentais e assim melhorar sua condição de vida. É fabulosa a ideia de uma entidade como a escola, mas a inobservância, talvez genética, do homem, ainda não permite total viabilidade funcional dessa grande ideia, pelo menos aqui no nosso país. A escola tem que cumprir o seu verdadeiro papel ideológico e a sociedade tem que se manifestar em prol desse compromisso.

Em que pese a boa intenção, ainda há pouca ação e pouco interesse na escola e na educação, tanto nos humanos que deveriam ensinar, quanto naqueles que deveriam querer aprender. Aliás, em todo o arcabouço da escola há falhas, muitas delas grotescas e nem é exclusivamente por falta de recursos infraestruturais ou econômicos. Na verdade, o problema está na pessoa humana, mormente aquelas que administram a coisa pública e muitas que, infelizmente, atuam exatamente dentro das escolas.

A maioria das escolas são semelhantes a "ilhas utópicas", porque se constituem numa ideia boa, cercada de maldade e de incompetência por todos os lados. Há mais dirigentes, funcionários, professores e alunos ruins do que bons e há mais antiéticos do que éticos. Deste modo, a escola não consegue reagir as ações governamentais e nem suplantar as barreiras que lhes são impostas e a Educação esperada e necessária não consegue se fazer a contento.

Obviamente existe quem aproveite o pouco que existe de bom, mas esse pessoal, como toda exceção, consiste num grupo pequeno. Há necessidade de virar esse jogo, mas isso só acontecerá quando o estado assumir o seu dever de trabalhar pela Educação, quando a mídia deixar de ser pilantra, quando sociedade quiser se envolver seriamente na questão e quando o cidadão brasileiro quiser realmente trabalhar para aprender e ensinar aquilo que é bom e o que servirá para o bem de todos.

Lembro dos primórdios de minha vida de estudante e vejo que eu também era um dos muitos quase totalmente perdidos, mas acordei a tempo, sobrevivi ao colapso e evolui, mas vi muitos perecerem. A família é fundamental nessas horas, pois é muito fácil convencer e enganar, haja vista que tem que haver esforço pessoal para se educar. Se a família não se faz presente, a coisa acaba degringolando e aí não há retorno. Sem apoio familiar, sempre é muito mais fácil convencer o indivíduo imaturo de que outros valores podem ser melhores.

Hoje, com a desagregação das famílias pelos mais diversos motivos, é tão mais fácil ficar do lado errado, que o número dos que se afogam na idiotice ou na maldade é cada vez maior. Por sua vez, os governos, além da mídia, reforçam essa situação caótica brincando com a formação dos indivíduos a com a Educação das pessoas, inventando e valorizando coisas fúteis, ilógicas e totalmente desconexas do verdadeiro interesse da humanidade. Ora, como fazer para garantir melhor qualidade de vida para quem não quer saber de educação, não tem nenhuma ética e ainda é orientado pelos governos e pela mídia para seguir nesse caminho infeliz?

Vivemos tempos efetivamente difíceis e muito perigosos, particularmente no Brasil. Deste modo, precisamos de um choque de educação na conduta do país. Necessitamos entender que qualquer projeto, a princípio vai sempre parecer ruim para algum grupo, porque a Educação só se concretizará depois de passar por uma geração inteira, ou seja, o projeto só poderá se complementar depois de, pelo menos, 20 anos de aplicação. Qualquer resultado analítico inicial será sempre aparente, incerto e pouco efetivo.

No entanto, aqui no Brasil, a cada 4 anos os governos inventam um projeto novo e todos morrem prematuramente no final desses 4 anos, haja vista que logo vem outro governo e propõe um novo projeto, uma "nova maneira de fazer". Assim, nunca se caminha para frente, porque sempre se está começando algo "novo". Não há tempo nem de avaliar se o projeto é realmente ruim, porque logo vem outro e que sempre é aparentemente pior. Os interesses de governos, sempre são maiores do que os do Estado. Pois então, Darci Ribeiro tinha razão quando dizia que: "no Brasil a crise da Educação não é uma crise, mas sim um projeto".

Depois, ainda existem aqueles que se fundamentam em ideias tendenciosas, de "grandes educadores" e exemplos externos, advindos de outros países, que não têm nenhuma proximidade nem relação com o Brasil ou com a nossa realidade geográfica, histórica ou cultural. Darci Ribeiro também dizia que: "precisamos abrasileirar o Brasil", mas os governos e alguns "gênios" da educação, ainda não entenderam isso. Falta brasilidade no cidadão brasileiro, principalmente nos brasileiros que detêm algum tipo de poder, que na grande maioria das vezes, esquece que é brasileiro e quer, porque quer, que o país faça ou haja de maneira semelhante ao país "A", "B" ou "C".

Meus amigos, acredito que não exista nenhum país no mundo que, se quer, possa ser efetivamente bem comparado com o Brasil, por conta de nosso tamanho, nossa imensa diversidade e nossas grandes dificuldades. Qualquer modelo educacional que esteja sendo desenvolvido por outro país, por melhor que possa ser naquele país, dificilmente terá sucesso no Brasil, porque realidades diferentes, necessitam desenvolver modelos educacionais diferentes.

Por favor, parem com essa história de ficar sugerindo modelos, como a Educação Finlandesa, Coreana, Japonesa ou outra qualquer como exemplo para ser aplicado no Brasil, porque isso não faz nenhum sentido, além de ser uma falácia perigosa que nos encaminha ainda mais para o caos. Comparações malfeitas só servem para aumentar a disparidade entre si mesmas. Temos que criar um modelo de educação à brasileira, apesar do interesse contrário dos "gênios da educação", dos governos e da mídia.

Quando será que vamos sair da crise eterna educacional e veremos o país deslanchar, deixando a rabeira histórica que ocupamos nos exames de qualidade educacional? Quando será que iremos arrumar a casa e colocar gente séria e competente trabalhando com educação? Quando será que "tomaremos vergonha na cara" como sugeriu Capistrano de Abreu, ainda no final do Século XIX? Quando será que vamos parar de brincar com coisa séria e começaremos a trabalhar para ter Educação de verdade no Brasil?

Por fim, quando será que o setor que, necessariamente, abrange, em algum momento, direta ou indiretamente TODAS AS PESSOAS nascidas e viventes nesse país (na atualidade cerca de 220 milhões de pessoas) e que envolve diretamente quase metade desse contingente por toda vida, deixará de ser uma grande piada para alegrar os outros países da Terra e satisfazer os interesses de alguns malfeitores poderosos do próprio país?

* LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA


Biólogo (Zoólogo);
Professor;
Pesquisador;
 Escritor;
Revisor; e 
Ambientalista












Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. Como educador em continuo tentando fazer a minha parte.

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  2. parabéns pelo texto maravilhoso, sou sua fã incondicional e vc sabe disso, mas realmente , enquanto os políticos acharem que tem que criar tudo novo a Educação vai cada vez mais por água abaixo, em meus 32 anos na Educação Caçapavense, em que 11 trabalho na Secretaria de Educação, vejo que, cada prefeito/secretária que entram, quer deixar "seu legado" sem mesmo saber o que está fazendo , sem dar continuidade para o que está dando certo; e a falta de investimento, baixo salário dos professores, pais e responsáveis que não participam, entre tantos outros assuntos estão sempre presentes nos debates sobre as deficiências da educação no Brasil.

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