Autora: Beca Casal (*)
Quando se vive e respira em função de um sonho, de um objetivo, a morte deste sonho, ou deste objetivo, leva consigo um pedaço muito importante de nós. E foi assim que, em setembro de 2023 eu morri.
Nota ao leitor: não se preocupe, estou longe de pretender encarnar a persona feminina de Brás Cubas e transformar esta leitura em uma versão contemporânea e desinteressante de Memórias Póstumas. Prossiga com tranquilidade.
Não foi uma morte rápida e indolor, entretanto. Pelo contrário, agonizei o fracasso por meses a fio antes de sepultar aquele sonho que norteou os meus dias por três longos anos. E quando finalmente me vi frente a frente com sua lápide, pude então parir e renascer uma nova versão de mim mesma. Mas não sem antes passar por todas as fases do luto.
Primeiro veio a negação. Eu simplesmente não podia acreditar no que estava acontecendo. Tinha de haver uma saída, uma alternativa, uma forma de negociação... Passado um ano inteiro desde aquele fatídico dia, chega a ser difícil conseguir me lembrar em detalhes o que vivi, tamanho foi o choque que senti ao ouvir aquele não.
Então veio a raiva. A tentativa infrutífera de tentar encontrar culpados por tudo aquilo. Culpei a mim, culpei a outros, culpei a agente que me atendeu, culpei a minha honestidade, culpei a Deus e o mundo pelo meu infortúnio.
A barganha andou lado a lado com a raiva, ao passo em que eu tentava encontrar meios desesperados de prosseguir com os meus planos, mesmo contra todos os indícios de fracasso. Se eu tentasse mais um pouco... se me esforçasse mais... se tivesse mais dinheiro... se corresse contra o tempo... se... se...
A depressão veio quando me faltaram forças para prosseguir. Quando todas as esperanças se foram e viver significava apenas acordar sem vontade de levantar da cama, preencher meus dias com o máximo de atividades possíveis e dormir com vontade de não acordar novamente. Acho que essa foi a fase mais longa e dolorosa do luto pelos meus próprios sonhos.
Por fim, a aceitação chegou de mansinho quando percebi que acordava ansiosa para viver o novo dia, quando novos sonhos e novos planos passaram a fazer parte dos meus pensamentos, quando eu finalmente deixei de pensar "era para eu estar naquele lugar agora"...
Eu precisei vivenciar todas as fases do luto para finalmente renascer, finalmente florescer novamente, finalmente ver o raiar de uma nova primavera, finalmente me libertar para a possibilidade de encontrar novos sonhos pra sonhar.
A superação, no entanto, não foi mérito único e exclusivamente meu. Foi um trabalho coletivo, que se iniciou no abraço carinhoso das amigas, encontrou força na confiança profissional que me foi depositada e culminou na descoberta de um amor pra vida toda.
No final das contas, o amor me salvou de mim mesma, tornando possível dizer que sim, tal qual cantou Belchior, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.
*BECA CASAL
Segundo suas próprias palavras:
"Escritora e poetisa sul-mato grossense, Beca Casal é romântica e sonhadora.
Formada em Tecnologia em Processos Gerenciais pela UFMS (2021), trabalha com marketing para artistas.
Publicou recentemente "Vermelho Invisível", seu 4º livro de poesia autopublicado pela Amazon.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Deixar o povo curioso é muita maldade....
ResponderExcluir