Autora: Aline Teles(*)
"(...) O Brasil não é um país dual onde se opera somente com uma lógica do dentro ou fora; do certo ou errado; do homem ou mulher; do casado ou separado; de Deus ou Diabo; do preto ou branco. Ao contrário, no caso de nossa sociedade, a dificuldade parece ser justamente a de aplicar esse dualismo de caráter exclusivo, ou seja, uma oposição que determina a inclusão de um termo e a automática exclusão do outro" (p. 41), Roberto DaMatta em seu livro "O que faz o brasil, Brasil?", um dos mais importantes livros da Antropologia brasileira.
O trecho extraído do livro de DaMatta poderia encerrar o texto, apenas ele é o suficiente para descrever o que precisamos refletir.
De todo modo, é importante trazer à baila elementos atuais concretos para melhor elucidar o título. Quem já leu Raízes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda, obra capital da história e sociologia deste país, não se surpreende com os tempos que vivemos, a verdade é que não é fato novo, mas são novas pessoas e, portanto, é possível mudar a rota.
Sérgio Buarque de Holanda (1902/1982), pai do cantor e escritor Chico Buarque de Holanda, tenta elucidar a realidade brasileira e as causas de uma certa mal sucedida formação de um espírito progressista no seio das relações sociais da Civilização Brasileira. Ressalte-se que, não é preciso e, principalmente é inaceitável que se recusem a ler a obra porque o autor é pai do de Chico Buarque, e este tem uma posição política "X".
E é justamente sobre o "X" da posição política, não só do Chico, que tentaremos debater.
A eleição acabou há quase um ano. O cenário político é o pior que eu já vi em toda a era democrática do país.
Desde 2014 que o engajamento político tem crescido, no entanto, as manifestações partidárias eram tímidas de um lado, ainda. Na medida em que um bloco se fortalecia, o outro já consolidado começou a demonstrar a sua verdadeira face. Tais manifestações começaram a ganhar um contorno mais radical, culminando no país dualístico que estamos vendo.
O problema é que, não ouvir opiniões contrárias, ainda que não seja a título de convencimento, as pessoas tendem a aderir de forma cega e irracional uma ideia, uma doutrina, e caminham para um caminho extremamente perigoso, o caminho do Fanatismo.
Fanático é um termo cunhado no século XVIII para denominar pessoas que seriam partidárias extremistas, exaltadas e acríticas de uma causa. O grande perigo do fanático consiste na certeza, mas a certeza absoluta e incontestável que ele tem a respeito de suas verdades. Detentor de uma verdade supostamente revelada especialmente para ele pelo seu deus, o fanático não tem como aceitar discussões ou questionamentos racionais com relação àquilo que apresenta como sendo seu conhecimento: a origem divina de suas certezas não permite que argumentos apresentados por simples mortais se contraponham a elas. Parece alguém que conheço, na verdade parece o que tenho visto no Brasil.
A eleição do atual presidente, Jair Bolsonaro, desmascarou o Lulismo, esse movimento já consolidado, porém camuflado em algumas máscaras.
Outrossim, o escancaramento do lulismo e a ânsia por um movimento capaz de derrotá-lo desencadeou o Bolsonarismo. Um sustenta o outro, é a guerra do nós contra eles, e quem decide por não aderir nenhum dos dois movimentos é inimigo de ambos, só que tratado de forma igual pelos dois grupos.
Certa vez li uma pergunta do tipo "lulismo e bolsonarismo, qual a diferença?", ouso responder que o prefixo, porque o sufixo é o mesmo, com morfemas iguais e modo operandi idêntico.
Acredito que ciência ainda não tem respostas para explicar por que é tão fácil as pessoas se alinharem à um grupo que encontrou um judas particular e culpa-o por todos o caos universal.
É exatamente o que ocorre com lulistas, aparentemente Jair Bolsonaro criou a terra e é responsável por tudo, DE RUIM, que acontece nela.
Por outro lado, Bolsonaristas acham que Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, criou a terra e é responsável por tudo DE RUIM, que acontece nela. Sim você leu corretamente, é exatamente isso, o fanatismo não admite argumentos, por melhor que ele seja.
O extremismo político não respeita as contradições do jogo democrático e rejeita a ideia de saber lidar com o outro. "No caso do nazismo, a lei de que só o líder tinha razão e os judeus eram os culpados de todas as mazelas fazia que as reflexões sobre os problemas perdessem o sentido", disse a Professora adjunta do Bacharelado de Ciências e Humanidades e de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, Pós-Doutora pelo Departamento de Sociologia do IFCH da Unicamp com o Projeto Traumas de Guerra na Contemporaneidade, Ana Maria Dietrich.
O argumento racional faz parte do gênero humano, sendo condição para o fanatismo portanto, a irracionalidade. Vale ressaltar que, é possível ter votado em um ou outro sem precisar concordar e defender cegamente suas ações.
Por falar em argumento, gostaria de lembrar que: "o Lula tá preso babaca!" não é argumento; "cadê o Queiroz?" não é argumento.
Por fim, voltando ao grupo que ainda não aderiu à teoria dualística e enxerga erros e acertos em ambos os lados, a quem dão o nome de "Isentões".
Do ponto de vista racional, os isentões são aqueles que não abriram mão de suas convicções, que defendem ideias e não pessoas, pois estas são falhas, inclusive, eles.
Em uma era de "ismos", país dividido, crescente movimento dogmático em que a guerra é pra saber quem vai deter do poder de doutrinar, e não pela liberdade, respeito, urbanidade e democracia, devemos estimular nosso senso crítico, questionar, ouvir o outro lado, a fim de encontrar um equilíbrio entre aquilo que queremos acreditar e a verdade real.
Em tempo de lulismo e bolsonarismo a reflexão final é que não devemos escolher entre um e outro, mas juntarmos para combater ambos. A ideologia política é respeitável, o fanatismo político não.
"Afinal de contas, como se ligam as duas faces de uma mesma moeda? O que faz o brasil, Brasil"
Referências
[Online] // GALILEU. - https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/05/o-brasil-virou-o-pais-do-fanatismo.html;
[Online] // VEJA . - https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/fanatismo-existe-e-deve-ser-reconhecido-como-tal/;
DAMATTA ROBERTO O QUE FAZ O BRASIL, BRASIL? [Livro]. - [s.l.] : ROCCO, 1986;
HOLANDA SERGIO BUARQUE DE RAIZES DO BRASIL [Livro]. - [s.l.] : UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA , 1963;
Pinsky Jaime e Pinsky Carla Bassanezi [Online] e - https://www.tribunapr.com.br/blogs/opiniao/o-fanatismo-na-historia/.
*ALINE DA SILVA TELES
-Graduada em Direito pela Universidade Paulista (2018);
-Estagiária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo;
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
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