Autora: Clarissa Lago(*)
Eis um sentimento que não mente é a angústia. É típico sentimento que aponta para a verdade do ser, na qual o sujeito insiste em muitas vezes não enxergar.
Há mais de 20 anos escutando pessoas em meu consultório, sempre clássica a seguinte frase: "estou angustiado, uma dor no peito e não sei o que significa, não sei o que é."
Pois bem, como a psicanálise opera com o inconsciente e acredita que o inconsciente é o saber, nesse "não saber" - a negativa - é um pressuposto de que o sujeito já sabe o que lhe angustia, mas, tem profunda dificuldade em expressar, de colocar para fora e por isso as resistências ao tão famoso blá blá blá da psicanálise que é sempre tão produtivo.
Agora, encara uma psicanálise, o sujeito que se implica no processo e crê que sua angustia é algo produtivo, algo que ao invés de lhe paralisar, irá lhe colocar para andar, produzir, operar, até porque ao encarar uma psicanálise é também se dar conta de que não há vida sem sofrimento mas, a grande questão é saber o que fazer com o "isso".
Ninguém vai parar de sofrer porque faz análise, ninguém vai parar de fazer sintoma porque faz análise ao contrário, um percurso bem feito de uma análise é árduo, duradouro, talvez interminável enquanto vida existir e o grande barato dessa hystória é que o sujeito torna-se capaz de fazer as pazes com os seus próprios sintomas, não se colocando mais no papel da Chapéuzinho Vermelho - oh, pobre vítima que de forma inconsciente desejava ser "comida" pelo lobo mal; mas sim, ao contrário, em um percurso de análise é possível o sujeito circular em qualquer um dos papéis da estória, reescrevendo sua própria hystória inclusive sendo o próprio lobo mal se assim um dia desejar ser, desde de que pague o preço para isso e consiga sustentar o seu próprio desejo.
Por isso acho fantástico, quando escuto de alguns analisantes "a psicanálise é para os fortes! Só os fortes sobrevivem" - é verdade. Psicanálise não é psicoterapia, a psicanálise é pautada em uma ética do desejo. E isso faz toda a diferença.
Um dos ditos populares que dói escutar é o "Freud, explica!" ; Não!!! Freud, nunca explicou nada!!! O método de Freud e que até hoje rege é a associação livre, cabe ao analisante falar....falar...falar...e ao analista escutar em sua posição de objeto pequeno a; pontuando sempre que necessário. Pontuando sim!
Analistas pontuam! Outra caricatura grotesca é a do psicanalista "mudo" - sempre digo em sala de aula e até em conversas informais com leigos : " se vocês forem a um analista e ele ficar mudo a sessão inteira, troque correndo de analista! " . Tanto Freud depois Lacan, em seus escritos estão claros ao dizer que a direção e o tratamento é conduzido pelo analista; ainda que exista o par , a díade analista - analisante - onde ambos estão ali, em operações inconsciente, por isso sabemos: para cada analisante, um analista.
Portanto meu caro leitor, escutem o que a angustia de cada um de vocês tem a vos dizer ; não a deixem de lado. A angústia sempre aponta para algo, alguma descoberta que anda "louca" para sair e gritar!
E ao sair e gritar...escutem também os gritos da loucura, afinal já nos disseram que os poetas, as crianças e os loucos, não mentem! Pensem nisso! Evoé 🎉
*CLARISSA LAGO
-Psicanalista;
Graduada em:
-Psicologia pela Universidade Salvador (UNIFACS) - 2002;
-Pedagogia - Licenciatura Plena e Habilitação em Educação Orientação Educacional & Vocacional pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL)- 2001 ;
-Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) - 2007;
-Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) - 2002;
-Atualmente exerce o ofício de psicanalista e supervisora clinica em psicanálise
Twitter: @LagoClarissa
Facebook: Clarissa Lago Psicanalista
Celular/ WhatsApp: 71 99990-6143
Consultório: 71 3354-9162
Nota do Editor:
Parabéns pelo texto!! Claro e objetivo ao falar de algo nada fácil : angústia!!!
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