Autor: Rodrigo Prando (*)
Há, nos tempos que correm, inúmeros e infelizes exemplos da relação entre educação, mais especificamente a escola, e a violência. Os noticiários trazem à tona casos nos quais crianças e jovens, em sala de aula, no intervalo ou nas proximidades das escolas agridem e são agredidos; há, não raro, toda a sorte de abusos psicológicos; e, não menos importante, os professores que são, verbal e fisicamente, destinatários da violência, seja de seus alunos e, pior de seus pais ou responsáveis.
Ficamos, assim, atordoados quando uma professora, com mais de 70 anos, foi esfaqueada e morta por um jovem aluno. Um misto de comoção, dor, revolta e medo quando, de forma terrível, crianças foram mortas a golpes de machado. Seguiram-se semanas nas quais outros ataques foram tentados e frustrados pelas forças policiais ou pela própria comunidade escolar. Temos, aqui, que admitir que a escola não é uma ilha de fantasia no bojo de nossa sociedade. Noutras palavras: se violência há, na escola, é porque nossa sociedade é, culturalmente, violenta. Nossos dados atinentes aos assassinatos, estupros, abusos sexuais, mortes no trânsito, entre outros, são considerados normais, mas, em outros países, seriam traços de uma evidente patologia, de uma sociedade em estado anômico.
Não bastassem os elementos concretos de violência, temos, ainda, a força das redes sociais que, de forma rápida e viral, espalham boatos de que em determinado dia outras tantas escolas ou universidades serão atacadas. Com isso, instaura-se o pânico com evidentes prejuízos didáticos e à saúde mental de alunos e professores. Em maior ou menor grau, os pais exigem mais segurança, se possível, armada, seja particular ou realizada por policiais. Diante do medo, da incerteza, dos boatos, recorre-se, quase sempre, às ações vinculadas à presença ostensiva da proteção, uma agenda importante, é claro, mas insuficiente para o quadro em tela. A situação ora vivenciada cobra, de todos, socialmente, não respostas simples. Em situações e problemas que são, evidentemente, complexos, as respostas e soluções simples, são simples e, geralmente, equivocadas ou incompletas.
Há anos estamos aceitando ou quando não valorizando a violência como forma de resolver os conflitos. Estamos, sem saber, atacando a política e os políticos e isso implica na retirada do diálogo como forma de se equacionar as situações conflituosas. Negar a política é assaz perigoso, já que, sem ela, sobra-nos o argumento da força e não a força do argumento. Se o problema da violência não está restrito à escola, mas é social, cabe, obviamente, ter a atenção ao processo de socialização de nossas crianças e jovens. Há, neste caso, um importante papel a ser desempenhado pela família, como agente de socialização primário. Os pais ou responsáveis devem, sempre, estar atentos aos comportamento de seus filhos, se estão assustados, como medo, agressivos. Importante que saibam e acompanhem suas atividades reais e as virtuais, ou seja, de forma bem clara: quais redes sociais, sites e fóruns de discussão estão participando? Verificar, com frequência, suas mochilas e material escolar, seu livros e cadernos para acompanhar não apenas a evolução escolar, mas, também, frases, recados e desenhos que denotem qualquer tipo violência e abuso. É fundamental que saibamos, na condições de pais e responsáveis, se os nossos filhos são agredidos, são agressores ou espectadores destes eventos.
As redes sociais estão, no momento, sendo cobradas pela sua responsabilidade no compartilhamento, na disseminação, de discurso de ódio, ataques à democracia e às instituições e dando visibilidade aos ataques criminosos que, quando divulgados, podem gerar um efeito contágio e, com isso, novos ataques na busca de superar, em número, os ataques anteriores. A mídia profissional – jornais, rádio e televisão – já compreenderam que fotos, cenas dos ataques e os nomes dos agressores são estímulos que devem ser evitados. Voltando aos boatos de que novos ataques são planejados, é muito complicado, difícil mesmo, encontrar a origem destas mensagens nesta selva virtual, todavia, contribui-se ao não compartilhar mensagens com teor de boatos e de discurso de ódio. Tais mensagens devem ser encaminhas à direção das escolas e às autoridades competentes para que possam investigar.
Esse breve escrito não pretende, nem de longe, esgotar um tema tão complexo cujos impactos recaí sobre um espaço que deveria ser sagrado: a escola. A escola deveria, apenas, ser o espaço do ensino e aprendizagem, da sociabilidade, das trocas de conhecimento, de elementos lúdicos, da vida sendo desenvolvida numa comunidade segura e afeita ao diálogo. Infelizmente, temos uma violência no bojo da escola, uma violência intrínseca à sociedade brasileira. O problema é enorme e podemos, individual e coletivamente, dar singelas contribuições. Mudemos nosso olhar. Observar é mais difícil do simplesmente ver. Observar é treinar o olhar para aquilo que não é imediato, evidente, superficial. O ser humano, dotado de seus valores e crenças, as demonstra, em grande parte das vezes, por meio de seu comportamento. E esse comportamento é socialmente construído.
*RODRIGO AUGUSTO PRANDO
-Graduação em Ciências Sociais pela Unesp - Araraquara (1999);
-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);
-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);
-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;
-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);
-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);
-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;
-Desenvolve pesquisas e orienta nas áreas de empreendedorismo, empreendedorismo social, gestão em Organizações do Terceiro Setor, Responsabilidade Social Empresarial, história e cultura brasileira, Pensamento Social Brasileiro e Intelectuais e poder político e cenários políticos brasileiros.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Complexo! EDUCAÇÃO virou um tema político, e onde há política; não haverão soluções. Educar uma criança é um trabalho hercúleo! Educar uma nação demanda tempo e dinheiro, mas; com nossa política, cultura e exemplos atuais estamos fadados ao fracasso financeiro e moral
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