Atualmente nos deparamos com diversos tipos de assuntos que são verdadeiros problemas para as sociedades humanas, principalmente nos países em que a educação deixa a desejar, como é o caso do Brasil. Esses assuntos são aqueles que levantam opiniões estritamente baseadas em crendices e aceitação pela maioria, o que está errado, uma vez que sabemos que os conhecimentos só devem ser levados em consideração quando passam por uma análise estatística, empírica e baseada em evidências.
Enfim, esses assuntos são os precursores das já conhecidas fake news, ou notícias falsas que, cada vez mais, muitas pessoas tomam como verdades para si e, sem a menor responsabilidade, acabam replicando para a comunidade em geral, através das redes sociais.
A educação formal também tem seus problemas com a divulgação de falsos conhecimentos, nos casos das chamadas PSEUDOCIÊNCIAS.
Pseudociência é um conjunto de crenças ou afirmações sobre o mundo ou a realidade, que se considera, equivocadamente, como tendo base ou estatuto científico. Em outras palavras, é um conjunto de hipóteses, métodos e afirmações com aparência científica, mas que partem de premissas falsas e/ou que não usam métodos rigorosos de pesquisa.
Dentre as principais pseudociências conhecidas atualmente temos a astrologia (signos), numerologia, homeopatia, ufologia, criacionismo, lei da atração, psicanálise, alienígenas ancestrais, Terra plana, profecias apocalípticas, constelações familiares e a que eu, particularmente, acho a mais perigosa de todas, que é o negacionismo, ou seja, a escolha de negar a realidade empiricamente verificável como forma de escapar de uma verdade desconfortável.
Um exemplo de pensamento negacionista em crescimento nos dias de hoje é a escolha que algumas pessoas fazem de, em nome de crenças falaciosas, por vezes religiosas, não dar vacinas para seus próprios filhos, colocando-os em risco altíssimo de morte por algum parasita oportunista, como um vírus ou uma bactéria.
Quero deixar claro que, além de absurdo, isso também é crime.
E a verdade é que o problema das pseudociências acaba sendo o mesmo que o do fanatismo religioso. É sempre baseado em crenças e não em evidências obtidas por método científico. Podemos facilmente entender que, se algo é fundamentado apenas em crença, então passa a ser unicamente de visão subjetiva, podendo ser potencializado pela opinião de uma ou de algumas pessoas, mas não de todas e, sendo assim, não deveria ser algo imposto sobre a população. Muito menos algo em que governantes devem se basear para tomar decisões relativas a um país inteiro.
Já o método científico sim, vai atrás da verdade antes de qualquer coisa, mesmo que essa verdade demore a ser descoberta. A ciência não se baseia em "achismos", muito menos em crenças sobrenaturais. Na verdade, qualquer criança sabe agir sob o método científico, mesmo que intuitivamente. Esse método é baseado em etapas, que são as seguintes:
1) Observação e problematização
Quando enxergamos algo que desconhecemos isso estimula nossa curiosidade, característica, inclusive, bem comum aos mamíferos e, principalmente, aos primatas.
Como ainda não conhecemos nada sobre tal assunto, ele se torna um problema para nós. Alguns são problemas pequenos, até irrelevantes, porém, outros, podem ser problemas bem sérios, que necessitam de resolução.
No entanto, um problema, qualquer que seja ele, deveria nos levar à busca por respostas, mas, infelizmente, não é sempre assim que acontece. Nós, humanos, temos a tendência de dar valores sobre-humanos, ou até sobrenaturais, às questões que desconhecemos e é assim que nascem os deuses e as crenças.
Temos um problema em falar "não sei" quando não conhecemos algo. Quem nunca ouviu outra pessoa dizendo, sobre um assunto que desconhece: "Ah! Não sei o que é isso!Deve ser coisa de deus". Muito comum ouvirmos isso, mas trata-se de uma falácia sem precedentes.
Ainda bem que o método científico não é assim. A ciência não tem problemas em dizer “não sei” quando desconhece algo. Frente a um problema, a ciência ensina que devemos formular HIPÓTESES sobre ele. É importante frisar que hipóteses não passam de ideias ainda baseadas em "achismos", porém, as hipóteses devem ser passíveis de testes e experimentos, o que nos leva ao segundo passo do método científico.
2) Pesquisa e experimentação
Com a hipótese levantada é hora de recorrermos aos conhecimentos já existentes acerca dela. Pesquisando o que já se sabe daquele assunto, podemos realizar testes e experimentos focados em pontos específicos, evitando aqueles pontos de falhas, anteriormente encontrados por outras pessoas ou outros cientistas.
Sim, se você está fazendo uma análise embasada pelo método científico, você também pode ser chamado de cientista. É claro que cientista é uma profissão, mas também pode ser uma forma bem honesta de se levar a vida.
Ao final dessa etapa observamos que o teste da hipótese, muitas vezes, nos mostra resultados inesperados, que são exatamente aqueles que quebram as ideias subjetivas baseadas em pressuposições incoerentes ou, como ditas anteriormente, "achismos".
3) Conclusão e formulação da Teoria
Ao finalizarmos os testes e todos os experimentos planejados, chegaremos a algumas conclusões sobre a hipótese antes levantada. Os resultados podem confirmar ou não aquela hipótese, mas, de qualquer maneira, a conclusão nos levará a uma TEORIA.
A formulação de uma teoria é, portanto, a forma mais honesta de pontuarmos nosso aprendizado, pois as teorias são baseadas em evidências verdadeiras, que foram antes observadas e testadas.
Ainda assim, as teorias não são leis, ou seja, elas podem ser questionadas quando são encontradas incoerências em análises mais finas. Então, novos testes e experimentos deverão ser feitos e poderão mostrar resultados que derrubem a primeira teoria, levantando outra. De todo modo, as teorias continuam sendo os melhores pontos sobre os quais devemos basear nosso desenvolvimento intelectual.
Elas estão lá, disponíveis para todos aprenderem e estudarem profundamente. Elas não dependem da minha ou da sua crença, caro leitor. Elas são as melhores demonstrações de algo, queira ou não.
Ninguém pode dizer que não acredita em uma teoria, porque ela não se trata mais de algo baseado em crença. Se alguém acha que uma teoria está errada, deve então iniciar um novo processo de pesquisa e levantamento de dados, de modo que derrube a primeira e consolide uma segunda teoria, ainda melhor.
Caso contrário, se não for possível derrubar a teoria, isso significa que ela é a provável verdade sobre aquele tema e, sendo assim, devemos aceitá-la em nosso processo de aprendizado acima de qualquer outra opinião em relação àquele tema.
Até que se prove o contrário, o método científico é a forma mais honesta de educar pessoas.
Simples assim.
POR LUÍS FELIPE TUON
-Graduado em Ciências Biológicas pela UNICAMP e pós graduado em Educação Ambiental (nível Especialista) pelo SENAC – SP;
-É professor nessas áreas desde 2004 e coordenador pedagógico desde 2013.
-Autor de vídeo-aulas na área de biologia; e
-Dá palestras relacionadas ao tema Orientação Educacional e de Estudos.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Achei seu texto muito pertinente para este momento, em que, em nosso país, ainda temos pais que não vacinam seus filhos, expondo as crianças a riscos graves, como no caso do sarampo. Seu texto me remete a metáfora o "Mito da Caverna", de Platão, escrito há tanto tempo, mas o assunto é contemporâneo. A doxologia e a epistemologia são temas a serem debatidos, para que senso comum e senso crítico sejam compreendidos. É preciso estudar... é preciso Educação. Parabéns pelo texto.
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