sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

A temível lenda da verdade que libertará…


 Autor: Jacinto Luigi de Morais Nogueira (*)

Era uma vez um País que queria acreditar num Salvador da Pátria.

Era uma vez um Salvador da Pátria que sabia dizer tudo que o povo queria ouvir e ansiava por acreditar. É assustador, mas esta parte da lenda já aconteceu outras vezes, naquele País, e ainda se repete.

Este mesmo povo já estava cansado de ser enganado, de ver tanta corrupção e de saber que o futuro dos seus filhos estava constantemente em risco. E, arrebatados como que pela adoração de um mito, elegemos o homem que sobreviveu a uma facada.

A primeira VERDADE é que não havia verdade… A verdadeira e impactante bofetada da "DESCONFIRMAÇÃO". A verdade é que, dois anos depois, muito pouco ou quase nada mudou. Quiçá tudo piorou por chance perdida de melhorar. As promessas não se realizaram e, em contradição ao que vemos diariamente, novas estórias surgem, agora misturadas com conspiração, ódio, manipulação e desinformação. Já é cômico, por vezes aterrador, ver o Ministro da Economia, que lá permanece por motivos cada vez mais óbvios, tentar explicar os não-acontecimentos.

Falácias nem sempre são percebidas e ávido por acreditar em algo diferente, talvez, até compelido pela vaidade de não admitir que havia sido enganado, passei quatorze meses justificando para mim e amigos, atos e palavras de um senhor que flerta com a pior das loucuras.

Ainda hoje, depois de superada minha dissonância cognitiva diante de uma falsa direita honesta - existem sim direita honesta e políticos honestos -, no início da pandemia de Covid-19, e em desesperança completa de ver este Brasil progredindo alguma vírgula sequer na luta contra a corrupção, vejo pessoas de vários níveis sociais, com diversas formações e em todas as idades justificando as decisões e "ideias" de um governo que, se um dia teve algum propósito de corrigir rumos, perdeu-se completamente nos desvios de conduta dos próprios integrantes e de familiares.

Pior ainda. A mim me parece que exista é uma tentativa orquestrada e bem articulada com outros poderes para destruir qualquer estrutura ou instituição que tenha a hombridade de combater a corrupção neste Brasil. Afinal de contas, somos este País que somos graças a anos de estruturação de um sistema que acolhe como normal a impunidade de criminosos ilustres.

Vale aqui citar Fernando Pessoa: …  Ora o público não quer a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade…

E assim, pessoas que combatiam o "lulismo", hoje seguem, defendem e esbravejam o "bolsonarismo". Minha hipótese: a verdade não liberta quem não quer enxergá-la. "Bolsolulistas" têm percepção seletiva, exposição seletiva e memorização seletiva. Isto é distante de uma razão respeitável. Para mim é um tipo de escravidão consentida. É difícil até de argumentar.

Em verdade, nem sei quantos buscam a real liberdade. A liberdade não se vende nem se deixa humilhar. A liberdade não se corrompe. A liberdade assume sua própria autonomia. A autonomia democrática de um cidadão que de fato existe em sociedade e que acredita nas decisões do seu povo. A liberdade assume o desenvolvimento por mérito próprio e por associação a outros seres livres. Assume a evolução de suas famílias. Mulheres e homens livres cooperam com plena consciência para construírem fortes instituições que garantam dignidade e a manutenção de uma Nação verdadeiramente livre.

A verdade é que o crime precisa parar logo de compensar no Brasil. A verdade é que a corrupção mata pessoas inocentes todos os dias; a verdade é que um País que tolera e protege criminosos ilustres e seus crimes jamais se desenvolverá efetivamente; a verdade é que, com esta impunidade, nossos filhos um dia serão humilhados se não aderirem ao sistema corrupto.

*JACINTO LUIGI DE MORAIS NOGUEIRA



 







-Médico formado em 2003 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; 

-Anestesiologista especializado no SANE-RS / Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / IC-FUC.; e

- Profissional liberal.

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