segunda-feira, 28 de abril de 2025

O Amor e a Desilusão


 Autor: Elismar Santos (*)


O amigo que me possibilitou a história não pediu segredo; mas, a fim de manter a sua dignidade e o amor próprio, deixá-lo-ei no anonimato. Assim, contarei o milagre, mas não direi quem é o santo, como dizem as más línguas. O certo é que estávamos em algum barzinho, numa noite qualquer, quando ele veio com boa nova: "Estou apaixonado! ".

Como de praxe, ainda que sem tanta emoção, dei-lhe os parabéns, e já pularia para falar do Atlético e do Cruzeiro, quando ele resolveu continuar o assunto. Ainda que eu não mostrasse grande interesse, disse que era a mulher perfeita, que era trabalhadeira, que não tinha filhos, que queria ser advogada e que, embora fosse quinze anos mais nova que ele, tinha a cabeça de uma mulher vivida.

Pelos atributos físicos relatados, era mesmo uma bela moça, com todas as qualidades para fazerem um homem como ele feliz. Nunca tinha sido de se apaixonar e, se o fazia, logo emaranhava-se em outros braços e esquecia a pobre namorada. Mas agora era diferente; os olhos dele brilhavam, sua voz embargava-se e suas palavras saíam doces e melodiosas. Estava realmente laçado pelo amor.

Por curiosidade, resolvi adentrar no assunto puxado e perguntei-lhe mais algumas informações sobre a pequena. Ele não sabia ao certo com o que ela trabalhava; viajava nos finais de semana para Montes Claros e voltava na segunda-feira. Durante a semana, dizia cuidar da avó adoentada que morava sozinha numa casa afastada da cidade. Encontravam-se, às escondidas, no meio do caminho, entre a cidade e a casa da velhinha, porque ela dizia ainda não estar pronta para assumir o novo namorado. Fazia tempos, assim dizia ela, que fora apaixonada e não queria sofrer de novo.

Mas ele acreditava nela e até admirava tamanho recato, afinal, ele era um sujeito conhecido pela cidade e afamado pelos seus inúmeros namoros e mulheres iludidas. Agora era diferente, havia encontrado a mulher dos seus sonhos. Já se via casado com ela, com os filhos correndo pela casa e o cachorro latindo feliz no colo da empregada. Ela teria uma vida de princesa, acordaria à hora que quisesse e comeria do bom e do melhor.

Perguntei se ele não estaria se precipitando, se não estaria simplesmente apaixonado; afinal, mal sabia o nome daquela jovem, não fazia ideia de onde trabalhava, de quem era de verdade, dos seus sentimentos, nem das suas pretensões. Ainda lhe disse que talvez fosse melhor afastar-se um tempo e esperar que seu coração se acalmasse, para, então, entender o que ambos queriam.

Ele não aceitava o meu pensamento e já ia me dizer que tudo não passava de ciúmes, de medo de perder nossa amizade; quando, de repente, seus olhos perderam todo viço, adentrando numa profunda desilusão: toda sorridente, a mulher dos seus sonhos chegava no barzinho abraçada com um rico rapaz.

* ELISMAR SANTOS













-Professor de Língua Portuguesa;

-Poeta, Escritor e Locutor;

-Mora em São João da Lagoa, Norte de Minas Gerais; 

-Possui quatro livros publicados: Sanharó (Romance),
Mutação (Poesia), e
A Pá Lavra (Poesia e O Poeta e Suas Lavras (Poesia). 

Seus textos podem ser lidos também em www.elismarsantoss.blogspot.com

Nota do Editor:

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