sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O inimigo agora é "O outro"

Rafael Canto(*)

Detesto discutir sobre política. De verdade. Por que hoje em dia é quase certo que uma conversa se transforme em uma discussão, e não do tipo de argumentação acalorada, mas amigável. Brigas, ameaças, berros e em alguns casos até agressões. 

Não se preocupe, não falarei sobre política hoje e se depender de mim, nunca falarei sobre esse tópico aqui.

Apenas abordei inicialmente tal ponto por termos há pouco tempo  por um momento de eleições, onde pela primeira vez se tornou evidente a forte dualização na mente das pessoas.

Cada vez mais a empatia e compreensão diminuem no coletivo social, e assim, no indivíduo de maneira geral; e me parece gritante a maneira com que se apegam em sua crenças particulares, sejam aprendidas com o tempo por experiência própria, passadas pela geração anterior ou fruto de meio em que o ser humano orbita naquele momento específico da sua jornada. 

Observo muito em conversas casuais e momentos que deveriam ser de descontração e relaxamento, que de uma hora para outra se transformam rapidamente em discordância de opinião onde o "lado A" tem um ponto de vista ou opinião e o "lado B" discorda ferozmente e de tal maneira que o próprio diálogo ou convivência se mostra insustentável. 

Como se a capacidade de compreensão e raciocínio houvesse se deteriorado ao longo dos anos, e fosse extremamente difícil dizer " Eu te entendo" e cada vez mais importante estar certo do que estar bem.

Nós somos criaturas sociais e nos organizamos em grupos que partilham características em comum.Isso isso está dentro de nós, no DNA, na cultura, na nossa história, seja para o bem ou para mal. 

Todos temos opiniões, e nem sempre temos todos os fatos.

Quando conheço amigos dos meus irmãos, namoradas ou apenas alguém aleatório, estou pronto e com a mente aberta para tentar compreender argumentos diversos por mais estranhos que eles me sejam; ouço com atenção e caso não concorde, respondo: Eu entendo, embora não concorde com ponto x, y, z. Entendo como você chegou neste ponto de raciocínio, mas já tentou observar por esse ponto? 

Não é uma disputa e não existem vencedores. Coxinha ou mortadela, a separação em grupos distintos ocasiona em afastamentos de vizinhos, amigos, familiares e compatriotas, dificultando ainda mais a nossa funcionalidade como sociedade num todo. E para deixar mais claro e objetivo, o problema não está em apenas um lado, e sim na mente das pessoas envolvidas. 

Vivemos num mundo onde o tempo passa rápido, informação vem ao toque na tela de celular pela internet, tudo é mais fácil, veloz. Apenas não é mais simples.

E já observei o excesso de opções e informações deixarem pessoas atordoadas e perdidas, diferente de uma época em que se nosso interesse era atraído por um determinado assunto, nós nos aprofundávamos e informávamos se possuíssemos acesso e recursos.Hoje uma mera olhadela ou espiada em algo que nos agrada passa a fazer parte do nosso coletivo de verdades pessoais, verdades sagradas talhadas em pedra, inquestionáveis e intocáveis. 

Não se esclarece tanto se determinados detalhes de algum assunto é verídico ou não, e pior, vilanizar o outro por pensar alternativamente hoje em dia é lugar comum. 

Gosto quando encontro pontos de vista diferentes do meu, me divirto exercitando a compreensão de fatos a argumentos ainda não vistos, amplio meus horizontes e se for possível expando a visão de outros se a conversa for racional e civilizada. 

Todos tem pontos de vista, mas nem sempre se tem todos os fatos. Preste atenção nas suas atitudes, sua postura e suas palavras. Olhe para o outro e tente ver você mesmo. 

E caso você não concorde, vamos conversar. Amigavelmente de preferência. 

*RAFAEL CANTO

















-Fotógrafo e escritor:
-Estudou biblioteconomia na UNIRIO.

Nota do Editor:


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