segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O Covid -19 é só a cereja do bolo


 Autor: Alberto Schiesari(*)


Quantos dias a Lesma 1 demora para chegar ao topo de um muro com 3 metros de altura, se ela, a cada dia, sobe 30 centímetros e depois desce 20? E se uma outra, a Lesma 2, subir 20 centímetros e descer 30?

Quem já foi questionado sobre lesmas escalando muros sabe como calcular. 

O caso do Brasil e sua Economia é exatamente o da segunda lesma. A cada suado centímetro que nosso país avança, impulsionado pela ingenuidade da honradez de cidadãos de bem, retrocedemos 11 milímetros com o "esforço" feito dolosamente com safadezas de mentes inescrupulosas. 

A pergunta que todos se fazem neste período de Covid-19 é: "Quanto tempo ainda demora para o Brasil ter atividade econômica normal?" A resposta é fácil: enquanto nosso muro for escalado por uma Lesma 2, com ou sem covid, nossa recuperação nunca acontecerá. Pois cada real que for produzido pelos muitos cidadãos do bem terá que se transformar em dois reais que "precisam" ser distribuídos entre os poucos cidadãos do mal. Estes são poucos, mas é deles que dependem as medidas econômicas a favor dos necessitados, que nunca são tomadas. 

Se evoluirmos e nos convertermos em uma Lesma 1, a resposta é: de uma a duas décadas. É o prazo que foi necessário para os países que tiveram vergonha na cara e optaram por fazer as coisas da forma correta e honesta, como a Coreia do Sul fez algumas décadas atrás. 

As premissas para que consigamos nos transformar na Lesma 1, são mudanças radicais que obrigatoriamente precisam ocorrer em nosso país. Quais são essas mudanças? No que se refere à Economia, as prioridades absolutas são expostas a seguir, sendo importante explicitar que nenhuma delas foi prioritária nos últimos 20 anos. Inúmeras medidas lesivas aos cidadãos de bem foram planejadas, aprovadas e entraram em vigor em nome da "democracia", da "probidade", da "defesa dos pobres", e de tantas outras palavras-chave que seduzem eleitores ingênuos. 

Mas medidas corretas foram esquecidas, atropeladas e abandonadas em gavetas fechadas por interesses indizíveis, disfarçados com o rótulo de "ideologia", e sob o signo da sanha pelo poder. 

Os responsáveis por gerir as finanças nacionais precisam ter o objetivo, a vontade e a coragem de apresentar, defender e implantar projetos nos quais a prioridade seja a justiça social. Isso significa distribuição justa de renda. Eles não podem ser meros agentes políticos que buscam o apoio de quem quer receber algo indevido em troca. Distribuição mais justa da renda não é apenas dar esmolas mensais aos carentes, ainda mais se forem incertas e dependentes de boa vontade política. 

O rateio equitativo e justo dos recursos de nosso país não pode ser acompanhado – como sempre o foi e ainda é – de medidas que proporcionam benesses imorais a algumas camadas sociais privilegiadas. Estas são verdadeiras confrarias mal intencionadas que precisam ser punidas e extintas o quanto antes. Os economistas sabem dividir, mas a divisão de verbas feita até agora só multiplica indevidamente a riqueza de quem não merece, e diminui os recursos de quem é carente, pois é inferior ao necessário para uma vida digna. 

As regras dos projetos e planos econômicos em nenhuma hipótese podem ter exceções que protegem e ampliam a proteção dos próprios autores e do seu círculo de interesses. Além disso, os agentes econômicos, que se encontram no topo da pirâmide administrativa, não podem se deixar levar por pressões de qualquer natureza, vindas de qualquer origem nem de qualquer poder de fato ou de direito. 

Pressões desse tipo somente beneficiam segmentos específicos da economia, deformam a justiça social a seu bel prazer, em seu próprio benefício. São usadas para enriquecer uma pequena minoria de privilegiados que têm o poder e a falta de dignidade para advogar a aprovação de projetos que beneficiam eles mesmos, em óbvio detrimento (melhor dizendo: sofrimento) dos milhões de famílias e cidadãos necessitados. 

A negativa ou o aval aos projetos e medidas não podem ser dados por quem tem os polegares criminosos que se voltam para baixo ou para cima levados não pela justiça social, mas pelas cifras envolvidas.

É extremamente importante lembrar que as verdadeiras razões que nos fizeram mergulhar na crise que ora vivemos teve início há muitos anos, bem antes do surgimento do COVID-19. 

Antes da preocupação com o vírus, até o início de 2020, o contexto brasileiro era muito diferente do que em outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Nesse momento já estávamos há mais de cinco anos com a economia extremamente débil. Fraca demais para alcançar patamares de produção de bens e serviços que os milhões de desempregados anseiam para ter seus empregos. Pois trabalhando recebem salários, e podem prover o que sua família precisa para viver dignamente. São contribuintes que formam a engrenagem da Economia. Mas isso hoje não ocorre. 

A "esmola" mensal que até o momento nossos governos insistem em denominar e adjetivar com palavras e frases criadas por marqueteiros do mal, têm facetas propositalmente não exibidas, que precisam ser mencionadas.]

É esmola para o bolso dos que decidem a respeito dela. Oficialmente ganham dezenas de salários mínimos, quantia mais do que suficiente para uma vida digna. Mas com frequência imoral criam mecanismos para que o valor que recebem seja cada vez maior, obviamente desrespeitando o teto constitucional. Não se conformam apenas com vida digna: exigem opulência. 

Para os que recebem os benefícios: sim, qualquer centavo é extremamente bem vindo para quem precisa comer, apesar de viver uma vida indigna. Mas os que decidem sobre isso usam esse recurso só como máquina de propaganda, visto que os valores verdadeiramente necessários são muito superiores. A diferença entre o "esmolado" e o necessário é criminosamente redirecionada para finalidades escusas, como, por exemplo, pagar valores elevados, bem superiores aos benefícios, para ativistas mercenários sem escrúpulos. 

Quem tem a caneta na mão reclama e chora o valor total de alguns bilhões de reais que a economia dedica ao auxílio emergencial. Reclamam para pagar quem tem fome. 

Mas não há limites para o desembolso cujo destino é o azeitamento da máquina de propaganda e a manutenção da estrutura que dá suporte ao poder. Fazem isso sem chorar e sem reclamar. Pior ainda, na surdina. Ou abertamente, se orgulhando de algo absolutamente nefasto. 

Isso só eterniza a vulnerabilidade que os necessitados têm em relação aos poderosos. Essa dependência é uma das táticas que lastreiam a estratégia para se manter no poder. 

A verdadeira função dos desembolsos que o Estado precisa fazer para seus cidadãos deve ter como função equalizar quem tem condições diferenciadas de vida, como doentes, mães solteiras, aposentados, desempregados que “estragam” as estatísticas de pleno emprego. Consumir com o dinheiro recebido do estado faz com que os necessitados sejam também contribuintes. Fazem a Economia girar e isso traz dividendos de volta para o Estado. 

Essa justiça social não é favor, é obrigação dos governantes e de seu séquito de técnicos. 

Mesmo em épocas de crise há segmentos da economia que estão em excelente forma. Como sempre foi e ainda será por muito tempo, os bancos sempre ocupam o lugar mais alto do pódio que ostenta as empresas que tiveram desempenho satisfatório para os poucos acionistas majoritários. Esse desempenho obviamente é sentido de modo inversamente proporcional pela maioria formada pelos clientes. O primeiro grupo sorri e festeja à larga quando recebe os dividendos. O segundo grupo chora lágrimas de sangue quando paga os juros mais elevados do planeta. 

A agricultura e a pecuária têm vivido uma temporada de fartura comercial desde há muito tempo, graças às exportações, e não ao consumo interno. Este decresce dia a dia, pois o poder aquisitivo dos brasileiros tem caminhado ladeira abaixo há anos. 

Outros setores a citar como "imunes" à crise são aqueles que têm tratamento especial no regime de tributação, completamente amparado por medidas do Executivo e do Legislativo, sempre com suporte do Judiciário. 

O Brasil consegue pinçar o que há de pior nos exemplos da Venezuela, Cuba, Coreia do Norte, Filipinas e outros países marcados pela desigualdade e injustiça sociais, pelo poder concentrado nas mãos de poucos, e pela Economia estagnada. 

A Venezuela chegou a ser o país mais rico das Américas, considerando o PIB per capita. Hoje, os cidadãos venezuelanos que ainda restam depois que mais de 5 milhões deles fugiram de sua pátria, são miseráveis. Exceto os donos do poder e quem dá suporte a essa situação, notadamente dentro dos três poderes e das forças armadas.

Hugo Chávez destruiu seu país apenas para se vingar de quem o manteve preso na época em que ainda era um ninguém sem poder. Aqui no Brasil há casos análogos, entre os que têm poder e entre os que já o tiveram e/ou ainda querem ter novamente. 

A economia brasileira há tempos está sendo conduzida por interesses escusos, eivada de intenções e objetivos não explicitados, prejudiciais aos necessitados, e benevolente com interesses setoriais e ideológicos indevidos. 

É fácil prever nossa fotografia daqui a vinte anos. Basta olhar hoje a miséria da Venezuela. Miséria material dos cidadãos decentes e miséria moral dos donos do poder. É a estrada certa para conduzir uma nação à destruição econômica. E moral. 

É assim que o COVID-19 se instalou como a mais nova tinta a causar estragos no quadro da vida dos brasileiros. Infelizmente ele desviou a atenção do povo e da imprensa: quem hoje reclama do desemprego? Lembrar que ele continua com índices tão altos quanto os que haviam antes do vírus. 

O Covid-19 foi apenas mais um punhado de pimenta numa receita que já estava desandada, muito salgada, azeda, muito picante e muito amarga há muito tempo. 

*ALBERTO ROMANO SCHIESARI


















-Economista;
-Pós-graduado em Docência do Ensino Superior;
-Especialista em Tecnologia da Informação, Exploração Espacial e Educação STEM; 
-Professor universitário por mais de 30 anos;
-Consultor e Palestrante.

 Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

2 comentários:

  1. Meus APLAUSOS ao economista Alberto pelo EXCELENTE artigo. Didático, oportuno. Meus APLAUSOS ao editor Raphael pela criação desse Blog, no qual podemos saborear textos como o desta Edição. ABRAÇOS a ambos, meus Amigos.

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  2. Meus APLAUSOS ao economista Alberto pelo EXCELENTE artigo. Didático e oportuno. Meus APLAUSOS ao editor Raphael pela criação do Blog no qual podemos saborear textos como o atual. ABRAÇOS a ambos, meus Amigos.

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