domingo, 6 de fevereiro de 2022

Educação com afeto


 Autora: Maria Thereza Pompa Antunes (*)

Com algumas décadas de experiência na área acadêmica, sendo apresentada como professora e, na maioria das vezes, com o pronome de tratamento que muito me honra – Professora Doutora, pois representa uma merecida conquista, por outras tantas vezes me identifico como educadora.

Educar é mais que transmitir conhecimento, educar é preparar para a vida. Senso comum? internalizamos? Praticamos?

Isso posto, eu sempre guardei muita vontade de escrever sobre o tema: Educação com afeto.

Nessa oportunidade (obrigada Werneck!!!) escrevo esse ensaio que, dada à minha trajetória, não me resta nenhuma dúvida de que ele é uma semente para uma pesquisa cientifica que pretendo (desejo fortemente) realizar.

Mas por que apenas agora decidi por escrevê-lo?

Nada é por acaso, porque mesmo quando podemos até pensar que a coisa esteja acontecendo por acaso, existe um fenômeno denominado por serendipidade que é uma casualidade feliz, inesperada. Mas, ao mesmo tempo, como tão bem observado pela escritora Ana Maria Gonçalvez, quando a serendipidade ocorre, você está preparado, embora você possa nem ter consciência que esteja. O fato é que para que ela ocorra, você tem que estar preparado, caso contrário, ela passa despercebida e, obviamente, você não se aproveita dessa oportunidade (acaso?)

No meu caso, escrevi isso tudo até agora para contar a vocês que a serendipidade para que eu efetivamente me decidisse por escrever sobre esse tema, ocorreu recentemente, relendo, um dos livros sobre a vida de Arthur Shopenhauer.

De todos os filósofos é o que mais admiro, e o que mais me intriga. Arrisco-me a dizer que, para uma não filósofa, conheço bem a sua obra (Data Venia), e me surpreendeu sobremaneira uma passagem desse livro que faz referência ao afeto que Shopenhauer, ainda menino, nutria por um de seus professores.

Uma relação que denotou sentimentos de afetividade, amorosidade, delicadeza, doçura, amizade, simpatia, amparo, valorização, identidade, empatia, dentre outros.

Os últimos dois anos têm nos impulsionado a novas formas de ver, sentir, ser e ter em todas as esferas da vida, qualquer que seja o seu tempo e o espaço que ocupemos na sociedade.


Ninguém além de somente nós, nos impusemos uma habilidade de adaptação, por vezes recorrendo à teoria de Darwin, procurando, sob o álibi da pandemia, um sentido para aquilo que talvez continue não fazendo muito sentido, como talvez nunca tenha feito: inclusão; aceitação, crenças, linguagem inclusiva. É necessário mesmo tudo isso ou basta nos fazermos perguntas aparentemente tão simples?

Me respondam:

- Qual é o significado de educador para você?

- Você se entende como professor ou como educador?

- Existe espaço para a educação com afeto?

- E os nossos alunos? Que se coloquem no lugar do pequeno Arthur, como eles nos enxergam?


Respondendo por mim, já faz alguns anos que em sala de aula faço uso da adaptação de um refrão de uma música do Marcelo D2 (músico, compositor e produtor).

Contextualizando, não sou unanimidade (graças a Deus!), toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar, como bem colocou Nelson Rodrigues; e já tive alguns ou muitos entraves em sala de aula; alguns alunos entendiam o meu posicionamento, outros se surpreendiam e outros definitivamente não aceitavam.

A minha resposta a eles vem a seguir:

E eu me desenvolvo e evoluo com meus alunos
Eu me desenvolvo e evoluo com a minha professora
Mas eu me desenvolvo e evoluo com meus alunos

Eu me desenvolvo e evoluo com a minha professora

 

No original da letra (Loadeando, 2003):

E eu me desenvolvo e evoluo com meu filho
Eu me desenvolvo e evoluo com meu pai
Mas eu me desenvolvo e evoluo com meu filho
Eu me desenvolvo e evoluo com meu pai

Em resumo: é uma música cuja letra fala sobre troca numa relação entre duas pessoas em que existe, por definição, uma hierarquia, e eu questiono: pode haver uma hierarquia com afeto?

A opção pelo enfrentamento, pelo embate, pela polêmica (insisto que toda unanimidade é burra) leva à reflexão, desenvolve a visão crítica, à busca sincera pela verdade, e o afeto conduz ao amor pela vida e pelo próximo. Essa opção é na minha modesta opinião, a melhor maneira de preparar alguém para a vida. Não há necessidade de se recorrer a modismo, ideologias, leis, normas e crenças, normalmente efêmeros e eivados de preconceitos. Ao contrário do que apregoam os poetas (Camões, Petrarca, Fernando Pessoa, Caetano Veloso) Navegar é preciso, viver também é preciso.

Referências:

GONÇALVEZ, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.

SAFRANSKI, Rudiger. Shopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. São Paulo: Geração Editorial, 2011.

LOADEANDO, Marcelo D2. 2003.

* MARIA THEREZA POMPA ANTUNES










Mestre (1999) e Doutora (2004) em Ciências Contábeis pela FEA/USP, com 23 anos de experiência na área da educação atuando como docente, pesquisadora e gestora;

Graduação em Administração pela PUC/RJ (1984), com Especialização em Finanças pelo IAG/PUC/RJ (1985), e em Ciências Contábeis pela FEA/USP (2002);

Pesquisadora líder de projetos de pesquisa com fomento do CNPq e da CAPES, tendo participado de diversos congressos científicos nacionais e internacionais;

Autora de livros e artigos científicos publicados em periódicos indexados, nacionais e internacionais;

Membro de Conselho Editorial de periódicos nacionais e internacionais;

Parecerista e Palestrante com experiência internacional. Membro da Comissão Científico e Acadêmico do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC/SP); e

Sócia gerente da Findings Consultoria Ltda, especializada em gestão educacional e perícia contábil.

E-mail: teantunes@uol.com.br

WhatsApp: (11)-98338-4343

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6278852648499064


Nota do Editor:

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