domingo, 5 de março de 2023

O papel do vínculo em um encontro


 Autora: Cristina Motta(*)

Na psicoterapia com um olhar de homem a abordagem da psicologia humana existencial fenomenológica, possui como fundamento o cuidado e  tem como seu ponto central a preocupação de como se pode ter acesso à realidade existencial do paciente. Seu objetivo principal é compreender as possibilidades únicas de existir de cada um, na forma como este ser experimenta as suas relações com as pessoas e coisas que lhe vem ao encontro do mundo. Esta abordagem contempla vários autores importantes como: Rolo May com o existencialismo, Viktor Frankl com a logoterapia, Jacob Levy Moreno com o psicodrama e Carl Rogers com a Abordagem Centrada na Pessoa. 

Para Carl Rogers, na relação de ajuda, o que deveria se fazer na prática é facilitar o outro para que ele possa encontrar em seu mundo interior, seus próprios recursos e para que isso aconteça é necessário oferecer uma relação acolhedora, compreensiva e honesta. Isto é o que acontece nas sessões de terapia. É nesse momento terapêutico, que se constrói uma relação entre estas duas pessoas paciente-terapeuta. É neste instante, no aqui e agora, afetando e sendo afetado, que a liberdade com amorosidade é possível e permite um campo de possibilidades imprevistas para a mudança e transformação da pessoa no sentido de construir autenticidade. É neste vínculo saudável onde um está aberto e disposto a ajudar e o outro pode mostrar-se disposto a ser ajudado, que dá a oportunidade de criar um relacionamento modelo, que talvez nunca tenha sido experimentado antes. Um verdadeiro agente de troca, a relação genuína da experiência da intimidade. Se esse tipo de encontro é possível, o paciente poderá utilizar-se desta experiência e levá-la para outros campos do seu relacionamento.

Para Jacob Levy Moreno, além do vínculo, também é importante o que ele denominou de fator tele, que garante no encontro que há uma correta percepção recíproca, uma relação de espontaneidade, criatividade, percepção e sensibilidade. Ou seja, sozinha ela não tem existência própria pois a percepção de intimidade é mútua dos indivíduos. É na relação existencial, em que a confiança está em primeiro lugar, que será possível realizar a intervenção. Intervenção essa, que só terá eficácia se o paciente confiar no seu terapeuta, e que só ocorre se houver uma comunicação verdadeira entre dois seres que existem. Apenas assim, quando esta condição indispensável acontece, se faz possível atuar com a psicoterapia de forma curativa no sentido mais profundo da palavra.

O encontro genuíno com a outra pessoa movimenta sempre a relação com nosso próprio mundo, nosso conforto e permite questionar, nos aventurar e nos enriquecer diante desta nova relação, isto é, quando o psicólogo pode olhar para seu paciente não como um objeto que deve ser reparado, mas sim, como uma pessoa que pode se utilizar da sua atenção e confiança humana.

 REFERÊNCIAS

AMATUZZI, Mauro Martins. Rogers: ética humanista e psicoterapia. Campinas, São Paulo, Brasil: Alínea, 2010;

DE BARBIERI, Alejandro. Lo que cura es el vínculo. Miscelánea Comillas. Revista de Ciencias Humanas y Sociales, v. 63, n. 123, p. 497-509, 2005;

LESSA, Jadir Machado; SÁ, Roberto Novaes de. A relação psicoterapêutica na abordagem fenomenológico-existencial. Análise Psicológica, v. 3, n. 24, p. 393-397, 2006; e

PERAZZO, Sergio. Ainda e sempre psicodrama. Editora Agora, 1994.

* CRISTINA MARQUES  MOTTA










-Psicóloga clínica; CRP-PR 08-33015

-Graduação em Psicologia pela PUCPR – 2021 e

- Em andamento MBA em Constelações Sistêmicas pela Faculdade de Ampere – FAMPER  

Nota do Editor:

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