Estamos sempre fazendo alguma coisa, nem que seja ficar sentado apenas sentindo as sensações do corpo, pensando ou tendo alguma emoção. É impossível ficar sem fazer absolutamente nada, pois para viver precisamos fazer pelo menos uma coisa: respirar.
Mas, por que será que deixamos de fazer coisas que precisamos, que sabemos que são importantes e que nos ajudariam a melhorar, e muito, as coisas em nossa vida? Por que será que não se trata apenas de decidir começar a fazer exercício e fazer, marcar um compromisso e cumprir, querer parar de fumar e jogar o maço de cigarro fora imediatamente?
Não é tão fácil assim porque querer não é poder!. Claro que querer algo, ter um objetivo ajuda e é muito importante, pois sem desejos e metas nossa vida não teria sentido nenhum. Mas, apesar de ser importante, querer é o primeiro passo. Digo isso porque o que move nossas escolhas e a forma como vamos, e se vamos atingir nossos objetivos, não é só a razão, é também, a fisiologia do nosso cérebro e, principalmente, nossas emoções.
Como já mencionei no texto O Homem Ainda Faz O Que O Macaco Fazia ( postagem do dia 20.09), nosso cérebro foi programado para satisfazer nossas necessidades de sobrevivência; sendo assim, nossos antepassados primitivos não pensavam antes de caçar para matar a fome, eles simplesmente faziam isso. Dessa forma, temos uma estrutura cerebral que faz com que sejamos impulsivos por natureza, mas, nos primórdios, as coisas funcionavam bem assim e eram bem mais fáceis, pois não havia a inundação de estímulos que há hoje.
Atualmente, o que acontece é que nos sentamos com um objetivo: comer ou trabalhar, por exemplo, mas aí o celular toca, um email chega, a notícia na TV que está próxima interessa... Não queremos perder nada. Resultado: acabamos fazendo tudo, e quando nos demos conta, a comida esfriou e o trabalho está por fazer, a final de contas, não se iluda: não somos capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo com qualidade.
E assim, vivemos uma vida tão repleta de estímulos tão interessantes que fica difícil selecionar para qual focar a atenção. O que acaba acontecendo é que ligamos o piloto automático e deixamos de fazer coisas pequenas, mas que nos incomodam muito até serem feitas, como, arrumar aquele armário bagunçado, por exemplo. Adiamos essa tarefa porque coisas assim, interrompem o fluxo natural da nossa rotina, já que não temos por hábito separar um tempo para organizar o armário regularmente.
Por causa desse mesmo mecanismo, também procrastinamos na hora de fazer coisas maiores, independente de serem prazeirosas ou não. Podemos trabalhar com algo que adoramos, mas mesmo assim, a maioria de nós adia a preparação de um projeto para o último segundo. Quantas pessoas passam o ano todo estudando para o vestibular com a mesma dedicação com que o fazem quando a data da prova se aproxima?.
E nessa hora os aspectos emocionais ajudam a tornar tudo mais difícil, pois fomos preparados para agir visando prazer e recompensas imediatas, então, por mais que eu ame meu trabalho, ficar no Facebook é mais legal; estudar para o vestibular é importante, mas a prova está longe, posso deixar para depois. Isso sem contar que enquanto eu não fizer o projeto, mantenho abertas mil possibilidades e não corro o risco de ser criticado; se eu não estudar, não tenho que pensar no risco de ser reprovado.
Obviamente, porém, agir dessa forma não funciona, pois não é porque não estamos fazendo o que precisamos que a necessidade de fazer desaparece. Continuamos sabendo o que temos de fazer e nos cobraremos e culparemos enquanto não fizermos. Isso por si só já traz muita ansiedade, pois conforme o prazo diminui, a cobrança aumenta, então, só pensar em fazer vai se tornando tão angustiante que procrastinamos mais ainda.
Gera-se, então, um ciclo vicioso que pode se tornar um hábito. Existem pessoas que são tão acostumadas a deixar tudo para depois que desaprendem como se planejar para fazer algo na hora. Mas não é porque se acostumaram a ser assim que essas pessoas não sofrem. Elas podem dar a impressão de não se importarem, mas por dentro estão tensas e confusas, têm problemas de produtividade no trabalho e podem ser tidas como preguiçosas por amigos e familiares.
Para começar a mudar isso, tente o seguinte: escolha uma das coisas que você está procrastinando, identifique os motivos pelos quais você está evitando fazê-la, bem como, coisas externas que fazem com que você se distraia. Em seguida, se afaste do que te distrai, aceite o desconforto emocional e tente se manter focado na tarefa por um tempo inicial que pode variar de três a cinco minutos. Você vai perceber que o mais difícil é começar e quando consegue fazer isso, se manter focado na tarefa vai ficando mais fácil. E nada é igual a aquela sensação de missão cumprida, pois isso ativa o sistema de recompensa do cérebro, que libera substâncias como endorfina e serotonina, responsáveis por sensações de prazer.
Se a tarefa for muito grande, divida-a em pequenas etapas; por exemplo, em vez de limpar a casa considere lavar a louça, varrer o quarto, etc, pois ao final de cada uma, você ativa o sistema de recompensa do cérebro e vai se motivando a continuar, assim fica mais fácil realizar todas as pequenas tarefas e quando você se der conta terá atingido a meta maior. Seguir estratégias como essas é um passo muito importante para iniciar o processo de transformar querer em poder.
Por RENATA PEREIRA
Por RENATA PEREIRA
-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
-Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdadde de Medicina da USP.
Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.
CONTATOS:
Email: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548
Infelizmente nós brasileiros agimos e pensamos instintivamente no minuto final. Nossa cultura que algo pode mudar para melhor se aguardarmos e nossa preguiça nos impele a deixar tudo para a última hora.
ResponderExcluir.
Esse fator esta gerando um dos mais graves problemas políticos e morais da nossa conturbada história.
.
Deixamos para escolher nosso candidato a qualquer cargo na hora "H", na boca da urna. Os espertalhões se aproveitam desta nossa preguiça de estruturar nosso voto antes e nos impingem uma gama de propagandas e pesquisas para entulhar nosso cérebro já cansado e votarmos a esmo.
.
Esse mecanismo é estudado a fundo pelos marqueteiros de plantão.Conhecem nossas fraquezas e nossa falta de fibra.
.
Como nossos antepassados não tinham tanta informação,era mais fácil para os mesmos tomar qualquer atitude. Hoje nosso cérebro é entupido de entulhos ideológicos e assim fica mais fácil nos manipular e dividir.
.
Querer é poder.
Quando todos querem a mesma coisa, essa coisa acontece...
Vivi infância e juventude sem Internet.
ResponderExcluirTudo tinha seu tempo, brincar na rua com amigos,tranquilamente. Amigos distantes? Escrevia carta. Tempo nao faltava.Nada era imposto para ser feliz e realizado. Talvez, nota boa na escola (não era meu caso). E digo sinceramente , que aquilo era felicidade real.
Unknown, vc fala de um tempo ao qual nossos cérebros estavam muito mais adaptados...
ExcluirÉ isso mesmo, Álvaro. A política e muitas outras questôes sociais também são áreas q a procrastinação pode prejudicar muito...
ResponderExcluir