segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Economia, Crise e Sistema Financeiro


 

Autor: João Luiz Corbett(*)

Em nossa história nunca deixamos de viver ou conviver com crises econômicas e financeiras. Quem viveu os últimos 30 anos do ano do século passado (!!!), experimentou a convivência com taxas de inflação estratosféricas. Para os de boa memória chegamos a 80% no mês. Comprar e vender exigia estratégia. Prazos e meio de pagamento definiam se o bem ou a mercadoria teriam condições de serem repostos. 

Como os pagamentos eram efetuados em cheque e os prazos de compensação dos mesmos variavam de quatro a 20 dias, dependendo da origem da emissão e local do depósito. Com isto, a estimativa de inflação futura por parte dos produtores e comerciantes era item de cálculo de custo. Ou seja, a inflação agregou um dado incomensurável, a inflação inercial. 

Em termos de componentes do índice de inflação a percepção dos agentes econômicos na segurança e prazo de recebimento dos recursos tem peso considerável. 

Uma das grandes mudanças veio com a atuação do Banco Central e todo sistema bancário brasileiro. Redução drástica nos prazos de compensação, na burocracia e maior divulgação e apoio na utilização do cartão de crédito. Isto aparentemente parece algo simples e corriqueiro, no entanto estamos falando de uma época em que a utilização de computadores ainda engatinhava no Brasil e nem todas as agências bancárias dispunham de um. 

A dimensão territorial do Brasil e o volume de transações financeiras fez com que o sistema bancário não parasse de investir em tecnologia. Da continuidade na redução do prazo de compensação de cheques, aumento dos agentes operadores de cartão de crédito, absorção da tecnologia dos caixas eletrônicos e cartão de débito, bancos totalmente digitais, podem dizer que hoje temos um dos mais rápidos e eficientes sistemas. 

Isto tudo para ressaltar que a economia como um todo depende diretamente dos agentes que a compõe. Quando do lockdown no início da pandemia do corona vírus, um trabalho efetuado pelo sistema bancário, que muitos nem perceberam, evitou uma solução de continuidade,. Quando foi determinado o fechamento dos estabelecimentos, alguém apresentou qualquer solução para os pagamentos e recebimentos que deveriam ser realizados durante este período? 

Alguém tem como avaliar com o fechamento forçado das agências bancárias, as filas que se formariam nos caixas eletrônicos? E o distanciamento social? Como pagar suas contas? E as empresas como receberiam? Como ficaria o vencimento? Haveria juros? É inimaginável um sistema produtivo funcionar sem transações financeiras. Esta situação realmente geraria o caos. 

Muitos irão dizer “... e o computador?”, “... os bancos digitais? ...e os celulares?”. Temos que pensar em termos de Brasil. Assim, nem todas as pequenas e médias empresas, empreendedores de todos os matizes, autônomos e pessoas físicas têm ou dispõem de um sistema seguro que lhes possibilite a utilização nas transações financeiras. Da mesma forma, os bancos tinham sérias restrições quanto a baixar o APP no celular e quanto a valores transacionais. 

Considerando que a utilização do aparelho celular é muito maior que o uso de computadores, este com a segurança garantida pelo banco, juntaram as duas tecnologias e ampliaram seu escopo. De forma silenciosa e com uma propaganda concisa, os bancos liberaram a utilização do APP, sem ter que ir a uma agência bancária para validamento, assim como aumentaram os valores das operações de pagamento, transferências, DOC e TED. Muitos com certeza não notaram a abrangência desta estratégia. 

As empresas de gás, energia elétrica e outras prestadoras de serviço criaram APP’s que permitem visualizar a conta a vencer ou vencida, copiar o código de barras, e colar diretamente na área de pagamento de contas do aplicativo do banco. Isto exige parceria e tecnologia desenvolvida em muito pouco tempo. 

Ainda estamos caminhando em termos de utilização do celular como instrumento de pagamento. Porem mais uma vez percorremos rapidamente o caminho das respostas às pressões da crise. Agora vamos aguardar o início dos pagamentos pelo PIX, o que irá agilizar ainda mais esse sistema. 

(*)JOÃO LUIZ CORBETT

-Economista com carreira construída em empresas dos segmentos de açúcar, álcool, biocombustíveis, frigorífico, exportação, energia elétrica e serviços, com plantas em diversas regiões do país;
-Atuação em planejamento estratégico empresarial, reorganização de empresas, aprimoramento de competências, elaboração de planos de negócios com definição de estratégias, estrutura societária e empresarial, com desenvolvimento e recuperação de negócios.
-Atuação em empresas de grande e médio porte nas áreas de planejamento estratégico, orçamento, planejamento e gestão financeira, tesouraria, controladoria, fiscal e tributária. 

Nota do Editor:

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