sábado, 22 de julho de 2023

Bullying: quem priorizar?



Autora: Karla Oliveira

Quem nunca ouviu uma piada de mal gosto repetida e insistentemente na escola e se sentiu constrangido ou já presenciou uma cena assim? 

O que antes era tratado como simples brincadeira, hoje se tornou um tema sério, porque pode trazer consequências gravíssimas, como atentados, em uma espécie de vingança, ou suicídios. O bullying não é mais uma história banal ou pontual e se tornou foco de combate importante nas escolas diariamente.

Mas será que as medidas adotadas estão sendo suficientes?

É comum que adultos se lembrem de episódios de bullying na adolescência como ponto sensível por anos. E, ao lembrar, ainda chorem e sintam raiva e vergonha. Mas não apenas do agressor. Muitos sentem raiva de si mesmos, por não terem reagido, por não terem sabido lidar com aquela situação na época, nem ter pedido ajuda. As escolas costumam focar excessivamente no agressor. As campanhas são de sensibilização para o respeito com o outro e sanções para quem não cumpre regras. Mas e a vítima?

No final da segunda quinzena de junho deste ano, foi publicada uma reportagem no Jornal Folha de S. Paulo, em que a psicóloga e escritora francesa Emmanuelle Piquet argumenta sobre a importância de fortalecer as vítimas em casos de bullying, como sempre defendi. O bullying se tornou tema de prioridade absoluta em seu país, mediante o alto índice de casos de suicídios de crianças e adolescentes, por conta de alguma violência psicológica vivida em ambiente escolar. Piquet explica que protocolos que priorizem punições aos agressores não são eficazes e o ponto fundamental deve ser o agredido.

Quem sofre um assédio psicológico está vulnerável. Isso é fato. Senão, não seria o alvo de um assediador, correto? Então, vamos cuidar de quem? Do assediador! Não! Enquanto não tivermos políticas públicas que disponibilizem profissionais treinados para lidar com situações graves nas escolas, educadores terão que assumir também esse papel, pelo menos de orientação, das vítimas. É claro que a escola precisa de uma rede de apoio, para encaminhar esses jovens que sofrem bullying a um atendimento adequado, porém, enquanto escola, não basta apenas punir o agressor. As conversas e o apoio devem ser direcionados, prioritariamente, à vítima. Aquela criança isolada na hora do recreio. Aquele estudante que não tem um grupo em sala de aula. Muitas vezes o bullying consegue ser velado por longo tempo, porque a pessoa evita se expor ainda mais, contando sobre seu sofrimento. É preciso grande sensibilidade dos docentes para que, com um olhar diferenciado e apurado, consigam perceber que algo está errado em um grupo de jovens. Corre-se o risco de minimizar um caso de bullying grave, como se fosse uma comunicação violenta esporádica e pouco importante, e apenas ameaçar com uma advertência escrita, por exemplo, enquanto a dor profunda só vai aumentando naquele que é o alvo dos insultos. É preciso parar uns minutos para ver e ouvir a vítima e fornecer o apoio que um adulto pode oferecer, ou seja, de mostrar que é preciso reagir, encarar e enfrentar os problemas, se valorizando e acreditando em seu potencial, pois o apoio psicológico profissional necessário, de órgãos públicos, pode demorar meses para ocorrer. Apenas punir o assediador não o tornará um ex-assediador, como também não tomar nenhuma atitude quanto a ele, não eliminará o conflito. A solução não é simples, porque o problema é complexo. Mas a longo prazo, é possível pensar que se as vítimas se autoconhecerem e estiverem fortalecidas emocionalmente para lidar com situações delicadas, o círculo vicioso poderá ser quebrado. Se forem trabalhadas as habilidades socioemocionais necessárias na escola, não haverá mais alvos para os assediadores.


* KARLA REIS MARTINS DE OLIVEIRA
























-Graduação em Letras (Português e Inglês) pela UINIFATEA (2004);

- Pós-graduada  em:

  - Estudos Literários pela UNIFATEA (2008)

  -Gestão Escolar pela UNIFATEA (2012);

   -Psicopedagogia Clínica e Institucional pela FACON (2018)

    -Supervisão Escolar pela Faculdade São Luís (2019) e 

-Diretora da Escola Estadual Programa Ensino Integral Professor Aroldo Azevedo, em Lorena/SP;

 - E-mail: karla.oliveira@educacao.sp.gov.br

- Twitter: @karla_martins18

- Currículo Lattes: 

http://lattes.cnpq.br/2680839596619365

- ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-4373-690


Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

14 comentários:

  1. Diante o exposto, fica muito claro que um olhar diferenciado para ambos,agressor e vítima se faz necessário. Ao agressor orientação sobre a empatia e respeito,a vítima o autoconhecimento enfatizando suas qualidades com objetivo de fortalecer- lo ,trabalhando o equilíbrio sociemocinal.Isso não é um trabalho fácil onde os adultos responsáveis sejam preparados e imparciais,para que não haja severidade na punição causando ou até estimulando ,as vezes até fortalecendo as
    suas atitudes nem tão pouco exessividade em proteção a vítima tirando dela a capacidade de autodefesa.Para que isso aconteça se faz necessário profissionais capacitados.

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    1. Obrigada pelo comentário, Wal. Vale uma formação continuada para nós, não é mesmo? Precisamos aprender sempre a lidar melhor com os problemas cotidianos.

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  2. Olá Kátia,
    O agredido se esconde, e é o mais difícil para ser encontrado e atendido. Precisa de ajuda, de apoio e nem sempre a escola consegue fazer o seu papel. Ou ainda, a rede de proteção, como o conselho tutelar não efetiva suas ações. Podemos apoiar, acolher o agredido mas precisamos urgentemente de um apoio, de familiares que realmente participem e não apenas critiquem a escola, sejam parceiros. Enfim Kátia, é um trabalho difícil e muito mais difícil para quem sofre.


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  3. Desculpe usei Karla, errei seu nome.

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  4. Parabéns pelo artigo, a empatia ,o olhar diferenciado faz toda a diferença!!!

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  5. Os danos causados pelo bullying podem ser profundos, como a depressão, distúrbios comportamentais e até o suicídio. Não podemos deixar de lado este tema tão antigo mas que se atualiza em muitas escolas. Obrigado pelo texto Karla!

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  6. Assunto de extrema importância, que deve ser abordado mais frequentemente entre os jovens.

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  7. ana claudia guimaraes22 de julho de 2023 às 23:17

    Karla, excelente artigo! Parabéns 🥰

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