sábado, 29 de abril de 2017

E aí a Letra Cursiva sumirá do mapa?

Cada vez que a professora deixava a tarefa na lousa, Juliana (8 anos), não a copiava no caderno. Se atrapalhava com o traçado da letra cursiva, demorava pra entender algumas letras e terminava por não escrever. Por isso, pedia sempre a sua professora pra copiar a tarefa diretamente do livro impresso.

A vida social de hoje é toda impressa e digital, e muito mais para a nação digital da nova era. Sim a manuscrita está sendo cada vez mais relegada pelas novas gerações, com a letra cursiva essa tendência se acentua, inclusive no âmbito cotidiano. Por exemplo, nas escolas de Buenos Aires, na Argentina, os professores priorizam que alunos aprendam o que escrevem; compreensão e produção textual com escrita manual e digital-cursiva e letra de fôrma. 

Na Finlândia, desde o ano passado as crianças aprendem um tipo de escrita, a letra de fôrma, e nos Estados Unidos, desde 2014, a cursiva não é mais obrigatória. Valéria, mãe de Juliana, entende toda essa evolução como símbolo da nova geração: para sua filha, que estuda em um colégio particular, não é comum escrever em cursiva, pois para ela, torna-se difícil unir uma letra na outra e dar continuidade nos traços característicos de cada letra. Conta-nos ainda que no grupo de WhatsApp da escola, criado pelos pais e professores de alunos, muitas vezes costumam enviar fotos dos cadernos para que pais possam ajudar a interpretar o que seus filhos escreveram em cursiva, pois muitas vezes, a escrita é ilegível. "Qualquer pôster que a gente vê, na TV, no computador... Tudo está em letra de fôrma. A cursiva morreu quase por completo”!-diz Valéria-. “No 1º ano começaram com a letra de fôrma. Mas a partir do 2º, já começaram com a cursiva, enviando atividades no caderno para fazer tarefas em casa”. -Concluiu.

Em muitas escolas, professores sempre começam o ensino de crianças com o uso do lápis de cor, lápis e lapiseira, para tão logo darem inicio a escrita cursiva. Mas nos últimos anos, esse paradigma mudou, e hoje prioriza-se a produção escrita e não o tipo de letra. "Em vários casos, observa-se que a criança elaborava produções muito interessantes, com a letra de fôrma, mas que, ao escrever em cursiva, essas mesmas crianças não tinham a mesma sorte, e o texto produzido, havia empobrecido muito textualmente. Ocorria que ao ser mais completa e desenhada, a letra cursiva requeria mais tempo e trabalho, dificultando assim, o bom desempenho na produção textual”. Explica Diana Capomagi, assessora pedagógica de uma rede de colégios.

“Muitos professores de ensino Fundamental percebem a dificuldade quando o assunto é letra de fôrma ou letra cursiva, assim como a utilização da letra minúscula e maiúscula”. 

Mas a pergunta que fica é: Será que perdemos o modo da escrita quando deixamos largamos o hábito de escrever em cursiva? 

Julieta Fumagalli, investigadora do Instituto de Linguística da UBA, explica que a cursiva tem uma incidência benéfica no aprendizado da escrita pela palavra, pelos seus rasgos e características próprios que se distinguem de outras letras, eliminando ambiguidades e pelo gesto do traçado que ajuda a compreender a orientação da esquerda pra direita. Ao mesmo tempo, observa-se um impacto positivo na leitura: “Não se deve abandonar a escrita cursiva. É obvio que a escrita de fôrma é muito mais fácil para que o aluno decodifique e mais rapidamente comecem a ler e escrever. Mas acredito que esse novos leitores, devem primeiramente acostumarem-se com todos os modos de escrita, para que assim, possam poder ler, interpretar e escreverem qualquer texto, em qualquer escrita” Explicou. 

A professora Maria Margareth Osório, que hoje ocupa o cargo de vice-diretora em uma Escola Estadual, em Belo Horizonte, disse acreditar no desaparecimento da letra cursiva: “No meu entender a letra cursiva está fadada a desaparecer, porque as pessoas só querem saber de teclar e, ao teclar, deixam de escrever. Hoje não se escreve mais, abrevia-se”. Avaliou. Ela como diretora, não impõe um modo de escrita, mais pede para que a escrita cursiva seja ensinada, para que a criança desenvolva o gosto pela escrita e pela leitura.

Já para Francisca Paulo Toledo Monteiro, que trabalha com alfabetização e letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em São Paulo, o ensino da letra cursiva no país teve papel importante para a exclusão de milhares de pessoas, no contexto de alfabetizar, pois segundo Francisca, antigamente, a escola excluía alunos com síndrome de Down, paralisia cerebral e outros problemas motores que não conseguiam escrever em letras cursivas. 

A diretora do Instituto de Neurociências & Educação da Fundação Ineco, Florência Salvarezza, conta-nos que historicamente, considera importante a cursiva, pois a mesma representa o processo de alfabetização do individuo e que professores deveriam optar pela união do aprendizado da letra cursiva e da letra de fôrma, apresentando um processo híbrido de alfabetização. 

Não se sabe como irá evoluir a sociedade, com as mídias digitais, TICs e novas modalidades de aprendizados virão. O certo é que a escrita cursiva se transformou, assim como os monges, mas não desapareceu".

POR ADRIANA RAMIREZ














-Paraense, filha de venezuelano e mãe brasileira;
-Graduada em Letras-Português/Espanhol e Literatura;
-Pós-graduada em Cultura Afro-Brasileira;

-Tradutora Juramentada e Intérprete Comercial pela Meritíssima Junta Comercial do Pará (JUCEPA);e
-Autora de 2 livros:
-“A Influência Africana na Formação Cultural do Pará: Análise das Principais Manifestações Folclóricas Paraenses” e
-“La Femme - O Feminino Em Sade”.;
- Concluiu em 2015 Mestrado Profissional de Enseñanza de Español como Lengua Extranjera e está cursando Mestrado em Educação

Nota do Editor:


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2 comentários:

  1. Penso que estamos piamente acreditando que a educação EVOLUIU nestes últimos 50 anos, mesmo após o advento da Internet. A olhos vistos é possível detectar nossas frustrações no ensino pois as facilidades retiram de nossos alunos a dificuldade.

    “O que não se usa atrofia, o que se usa fortalece”,(Lamarck) sendo assim, ... poderíamos dizer que as FACILIDADES que oferecemos aos nossos alunos não estão atrofiando seus cérebros?

    Eu olho uma criança, primeiro ela balbucia palavras desconexas;depois começa a entendê-las e ai sim começa a pronunciá-las corretamente.

    Pecamos ao não iniciarmos como o eram em tempos não tão remotos o ensino na escrita contínua. Da maneira atual proposta colocamos duas variáveis para um mesmo tema na mente das crianças.

    A escrita cursiva está sendo deliberadamente trocada e podemos ver o efeito maléfico no contexto de INTERPRETAÇÃO de textos de nossos alunos...

    Para nossa EDUCAÇÃO melhorar teremos que RETROCEDER em alguns quesitos não tática e na técnica de passar os conhecimentos...

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  2. Eu adoro a Letra cursiva. Pra mim, a escrita cursiva fala muito da pessoa - mostra um lado julgador e de competência; algo da personalidade...Um abraço! Ótimo assunto.

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