sábado, 20 de maio de 2017

A Questão da Palmada Pedagógica



“Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a” Johann Goethe

É muito comum quando uma criança reage de forma inesperada a um determinado evento os adultos utilizarem frases como “Isso é falta de uns tapas” “Ah se fosse no meu tempo” “Olha que falta de educação” “Isso é birra, falta de um belo chinelo” “Uma surra bem dada e nunca mais ela faria isso” “Cadê os pais não vão fazer nada? Senta a mão nela!”

Parece um pouco exagerado falar em violência quando um responsável decide educar a criança sob sua tutela como acha correto não é mesmo? Mesmo que esta forma seja através da agressão física ou psicológica? 

Para mim a violência contra a criança é inaceitável em qualquer grau ou circunstância. Quando são muito pequenos só sabem se expressar através do choro, quando começam a falar logo dizem que estão fazendo birra, mas agem assim porque fisicamente não estão preparados para lidar com as frustrações e quando são adolescentes são rebeldes e mal criados. Falta diálogo, falta informação, falta autocontrole. É muito fácil bater em uma criança, somos maiores, mais fortes e elas vão apanhar, chorar e obedecer não é mesmo? Porque aprenderam a lição ou por MEDO? É este tipo de adultos que queremos formar? Medrosos e violentos.

Não é fácil realmente lidar com episódios de gritos e choros, crianças se jogando no chão, explosões adolescentes, chiliques inesperados e ataques de fúria, mas precisamos refletir em quem é o adulto na situação e quem é a pessoa mais vulnerável?

Segundo Lídia Arantangy (1998) a surra ensina sim. Bater ensina a criança a ser agressiva, ser cínica, ser mentirosa, ser covarde e valorizar a lei do mais forte. É isto que desejamos para nossas crianças? Precisamos quebrar o ciclo da violência e não ensinar mais seres humanos a resolverem seus conflitos mediante ao uso da força física.

De acordo com o site do Governo Brasileiro os principais alvos de agressões são crianças e adolescentes entre 4 e 14 anos, que somam mais da metade dos registros e são 57,78% das vítimas. São três os tipos de violência que predominam contra esses jovens. Em primeiro lugar, vêm os casos de negligência (72,81%), quando são deixados sem comida, banho ou remédios. Em seguida, há as ocorrências de violência psicológica, que correspondem a 45,74% dos casos. Por fim, as agressões físicas que representam 42,42% das denúncias. A quase totalidade desses registros é de maus-tratos (92,22%).

Em 2014 o Estatuto da Criança e do Adolescente sofreu uma importante alteração com a inclusão dos artigos 18-A, 18-B e 70-A que resumidamente assegura a criança e ao adolescente ser educado sem o uso de castigos físicos, tratamento cruel ou degradante, sofrimento físico, lesão, humilhação, ridicularização e/ou ameaças.

E quanto à palmada pedagógica, aquele tapinha corretivo? Sinto informar que isso não existe. Não existe educação através da violência seja ela física ou psicológica. Educação exige paciência, dedicação, tempo, insistência e muito amor.

As crianças aprendem muito mais pelo exemplo, pelo que veem e vivenciam e sim é possível educar de forma positiva sem castigos ou recompensas, sem ameaças ou chantagens, sem surras e promessas. As crianças são capazes de compreender desde muito cedo quando são amadas e se sentem seguras, desta forma começam a demonstrar o que sentem e a partir do momento que sabem expressar seus sentimentos fica muito mais fácil lidar com as emoções dos pequenos. 

A Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Governo Federal divulgou em 2014 que a cada dez minutos uma criança foi vitima de violência no Brasil. Este dado foi levantado a partir das denuncias de maus tratos contra crianças e adolescentes. Não podemos nos calar diante de dados tão alarmantes. O disque 100 funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana e garante o anonimato. Não seja cumplice. Não se deixe levar pelos velhos ditados “Em briga de casal não se mete a colher” “Cada um educa o filho como quiser”. Ser educado de forma digna é um direito da criança e do adolescente e ferir este direito é crime.

Referências Bibliográficas:

Como Educar sem usar a violência / Dora Lorch. São Paulo : Summus, 2007
Educar sem violência: Criando filhos sem palmadas / Ligia Moreiras Sena; Andréia Montersein. Campinas/SP: Papirus 7 mares, 2014.

POR SAMIRA DALECK











-Graduada em Educação Física;
- Pedagoga com Especialização em Arte Educação e História da Arte;
- Estudante de Yoga e meditação. 
Atualmente trabalha com a primeira infância e busca incansavelmente conhecimento sobre criação com apego, disciplina positiva e todo tipo de educação não violenta. 

Nota do Editor:
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