Nós lidamos com as diferenças entre nós e o mundo o tempo todo, mas nem sempre estamos conscientes disso.
E podemos acabar por vivenciar conflitos sem perceber onde está a questão principal.
Podemos viajar para lugares diferentes dos quais estamos acostumados, justamente para conhecer e apreciar elementos diferentes do que já nos é comum.
Podemos pesquisar imagens de regiões muito distantes ou assistir a vídeos de costumes muito opostos ao nosso só para nos surpreendermos com coisas que não imaginamos, que podem nos soar bizarras de tão estranho.
Entender que o outro come algo que você jamais ousaria experimentar, ou então que o outro possa se agradar de uma fragrância que lhe dá enjoo ou dor de cabeça é mais difícil.
E não é com o mesmo prazer e facilidade de uma viagem que conseguimos compreender como o jeito do outro é diferente do nosso quando estamos na condição de convivência.
Isso porque sem querer sempre esperamos que o outro aja como nós, pense como nós, tenha o ponto de vista parecido ou igual ao nosso.
Escolhemos um caminho e não conseguimos entender como a outra pessoa não pode achar que é o melhor também.
"Como assim você não acha tal pessoa bonita? Como assim você não consegue gostar de uma coisa que eu acho tão maravilhosa? Mas você não está vendo que se fizer de outra forma vai dar errado? "
E quando as diferenças permeiam o dia a dia de trabalho, ou mesmo da rotina da família ou casal dentro de casa, sem dúvida que se estará diante de desafios e processos constantemente difíceis. E nós passamos por isso todos os dias.
Uma pessoa comprometida e empenhada no seu trabalho pode sofrer demais ao depender da parte que o colega, distraído ou menos comprometido, demora a preparar.
Outra pessoa que prefere trabalhar focado e em silêncio poderá padecer horrores num ambiente agitado e barulhento por conta de outros que conversam sem parar.
Um casal poderá viver brigando por conta do jeito desorganizado de um, versus organizado do outro.
Ou então sofrerem juntos por conta da personalidade de um filho que parece ter características opostas a eles.
As diferenças estão por todo o lugar todo o tempo. Nos desafiam constantemente. E isso não mudará. Nunca mudará.
E nos frustraremos eternamente se não tivermos tal consciência e continuarmos esperando que o outro mude seu jeito de ser para ser como nós.
Se continuarmos esperando que ao discutir com o outro, estaremos mostrando-lhe a grande verdade sobre a forma certa de pensar, e que com isso o outro entenderá nossos pontos de vista e bingo! Passará a ser idêntico a nós.
Se cada solteiro continuar a imaginar que há alguém, em algum lugar, idêntico a ele, a ponto de garantir um relacionamento onde não terá que lidar com diferenças, e que não irá exigir sua paciência e aprendizado sobre a destreza de lidar com o mundo do outro.
Se continuarmos esperando que todos no mundo passem alegremente a reciclar seu lixo e cuidar da natureza, assim como fazemos.
Que os outros pais tenham a mesma preocupação em entregar para o mundo um filho de caráter e honestidade como nós temos.
Diante da realidade de que tudo é, e sempre será diferente de nós, nos resta aprender a desenvolver uma das virtudes que considero quase a mais difícil de todas: a aceitação.
Porque a aceitação inclui paciência e resignação, com pitadas de humildade e maturidade.
Não temos muitas escolhas: ou usamos dos desafios para que nós mesmos cresçamos (e essa é uma opção muito inteligente, já que quando crescemos nos libertamos ao aprender nos flexionar diante das durezas), ou nos colocamos passivos às agressões que as diferenças parecem nos oferecer e enlouquecemos nos aborrecendo.
Quando aceitamos tantas divergências, quando aprendemos a olhar pela perspectiva de que é natural que tudo não seja como nós, pois não está em nós, e nem sob nosso controle, e que separar bem as coisas aceitando tudo como desafios que podem ser trabalhados com discernimento e calma, então a lente muda, nos convencemos mais facilmente de que somos únicos, assim como o outro também, e que cada um está em seu próprio caminho e grau de aprendizado, e que é melhor relaxar e desenvolver nosso jogo de cintura e empatia.
POR ROSANGELA TAVARES
-Psicóloga clínica – CRP 06/64149;
-Formada em psicologia clínica pelo Centro Universitário Unicapital, na Moóca, ano de 2000;
-Atende em consultório particular, na abordagem psicanalítica;
-Atendimento de adultos, adolescentes, casal.
Rua Santa 104 – Vila Mascote – São Paulo – SP
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