sexta-feira, 18 de setembro de 2020

"Admirável gado novo"

Autora: Marilsa Prescinoti(*)




Novo, mas sempre gado.

“Vocês que fazem parte desta massa, que passam nos projetos do futuro”. 

A meus caros compatriotas, o poeta tem razão: somos esta massa marcada pela desigualdade, racismo, intolerância, violência, abuso do poder econômico, explorada pelos oportunistas do credo, da fé e da República, manipulada pelas promessas eleitoreiras, e, feliz. Hoje nem temos projeto de futuro, só temos a próxima eleição. 

É duro ver que toda essa engrenagem chamada Brasil está carcomida, enferrujada e ignorada. Sim, eu sei que lá fora faz um tempo confortável e a vigilância não cuida do normal. Os homens ouvem as notícias e se não agrada, as substituem pelas Fakes do WhatsApp, Facebook e do projeto de jornal. É assim que as coisas escurecem. 

O gigante, em um surto de sonambulismo, não encontra o berço esplêndido. 

Está atordoado em meio a frases mal elaboradas, narrativas de efeito imediato ou subliminar; perdido na incoerência que tomou conta: É a vacina comunista da China! De Oxford! Já nem quero vacina! Usem máscaras tapando o nariz! Tire sua máscara meu rapaz! Lula 2022, mito até o fim! Tem a "mita" e seus cheques não explicados! E o Queiroz? Esqueçam! Tem os filhos do outro. Prendam o Juiz, soltem o bandido! Deixem a rachadinha em paz! O petrolão roubou mais! Quem se importa com privilégios para comer gente se tem gente sem comer para pagar os privilégios desta gente que roí até o osso os recursos da nação? Centrão demonizado é o aliado do momento. 

O ladrão confesso é aplaudido em coro. Roubou menos. Na Amazônia em chamas já contam até girafa e mico-leão-dourado sem nenhum rubor. 

E daí? É o novo mantra do admirável. 

É meus caros, este povo marcado vai ter que aprender, amadurecer, oremos para não apodrecer. 

A Pátria não é mais amada; é marcada pela paixão desenfreada, apresento a vocês o populista da vez. Inauguramos o patriotismo-político, o novo soldado desta causa inglória bate continência para estátua da liberdade que enfeita a loja. 

A nossa bandeira, que jamais será vermelha, é erguida para saudar o personalismo e o totalitarismo. O Verde e Amarelo está embalando o ataque as Instituições democráticas. 

Já saudaram a mandioca, hoje saúdam as emas do Alvorada, a cloroquina e se inebriam em alta patente. 

A ciência e os milhares de mortos são banalizados com apoio popular. 

Ahhh meus caros, não esperem novas possibilidades. Nada disto vai acabar, enquanto a ignorância e o servilismo perdurar. 

Elegemos quatro anos de obscurantismo. 

Deixo com vocês a crônica do artista Ricardo Gelli 

Anti-hino Nacional Verdadeiro – parte 1 

"Os quarteirões estão mais escuros. 
Brota um cheiro de carniça dos edifícios higiênicos. 
Um desvario amargo entorpece a nação. 
Que povo heroico te fez isso, amada? 
O sol da liberdade está se pondo? 
Raios bons fugidos por medo. 
Os quartéis estão acesos. 
Pátria, te digo, brilhou no teu céu neste instante que querem novamente te exilar. 
Ouviram do Ipiranga às margens secas, muito poco quase nada. 
Brado enfado. 
Os quarteirões estão mais escuros. 
O penhor vai pra leilão, minha senhora. 
Não pagaram a igualdade prometida. 
O braço agora é fraco e bate panela na cabeça. 
A liberdade em teu seio é sem mamilo. 
E desafia a nossa arte a própria morte. 
Os quartéis estão acesos. 
Estão queimando a selva errada. 
A lama não devasta só cidades. 
Tem agrotóxicos nas cabeças dos teus filhos que aqui comandam, idolatrada. 
Se salve, salve! 
Os quarteirões estão mais escuros. 
Eu tive um sonho intenso, Brasil. 
Mas que aqui não dá para contar, raios vívidos estão morrendo fuzilados. 
A esta terra não desce nada, o amor está proibido e a esperança censurada. 
Em teu cinzento céu tristonho e rígido, não há imagem de Deus que resplandeça. 
Os quartéis estão acesos. 
Gigante, estão roubando sua própria natureza e vendendo no estrangeiro. 
Já não és tão belo, tua força é bruta, a liberdade está pávida, Colosso. 
E já não é certo que reflete a grandeza em teu futuro. Quebraram o espelho do progresso, terra adorada, e elegeram quatro anos de azar. 
Os quarteirões estão mais escuros. 
O sangre escorre nas escadarias da favela, faz curva na viela da quebrada e encharca terras demarcadas. 
A nascente dele é no Alvorada. 
Mãe os verdadeiros filhos do teu solo sofrem, morrem e perseguidos cantam em teu nome, gentil e amada pátria, sem idolatria àqueles que te torturam. 
O obscurantismo almoça com a família no domingo. 
Os quartéis estão acesos." 

Segue o link da interpretação do texto acima: 




*MARILSA PRESCINOTI 

REVISÃO de MARESSA FERNANDES












De acordo com suas próprias palavras:
-Administradora de empresa, blogueira,twiteira,
politicamente engajada, esposa, mãe e cidadã comum.

Nota do Editor:

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