segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Partidos Políticos



Autor: Alexandre Melatti(*)

 

1. Introdução

Os partidos políticos podem ser entendidos, em síntese, como associações de cidadãos, de carácter duradouro, que procuram, por meio de eleições, conquistar legitimamente o poder, a fim de materializarem seus ideais e programas visando a solução dos problemas encontrados pela comunidade.

A busca legítima pelo poder é uma característica essencial da política representativa. O político deseja a conquista do governo, a fim. de colocar em prática seus ideais, ideias e com vistas a atender ao interesse público. Esse modelo não é novo, vez que há registros que datam de 1828, nos Estados Unidos, e de 1832, na Inglaterra.

A figura dos partidos políticos não é novidade na vida política dos países. Nas palavras de Bonavides (1996, p. 57) "o reconhecimento da relevância, pois, do sistema de partidos representou um dos fenômenos políticos de maior importância na segunda metade deste século e se manifesta como tal logo após a Segunda Grande Guerra Mundial".

O autor se referia ao Século XX, e ao fenômeno de constitucionalização dos partidos políticos, e até mesmo de positivação das agremiações partidárias, uma vez que a existência destas se desenvolveu fora da Constituição e até mesmo das leis. Entretanto, ao se analisar a denominada Teoria Geral dos Partidos Políticos, percebe-se que essas associações estavam presentes muito antes do reconhecimento constitucional e legal.

Para compreender a importância dos partidos político, se faz necessário conhecer a história e o surgimento das agremiações nos países. Atualmente, muito se critica em relação às entidades partidárias, contudo, conforme se notará, com breves apontamentos históricos, da posição fundamental que os partidos desempenham nas democracias.

 2. Apontamentos sobre o surgimento dos partidos

 Segundo Frederico Alvim (2013, p. 11) o "surgimento dos partidos políticos é um fenômeno social paulatino cuja concepção pode ser identificada a partir dos séculos XVII e XVIII, contemporânea, portanto, ao surgimento do regime democrático representativo". Contudo, não da forma que se conhece as agremiações partidárias atualmente.

Assim, destaca Alvim (2013, p. 11):

 

"Adota-se aqui a noção de partido em sentido amplo, tal como a assumida por Georges Burdeau, para quem   as   agremiações   partidárias   existem   desde  que  os  homens,  pela  primeira  vez,  concordaram  a  respeito  de  alguma  finalidade  com  projeção  social  e  dos  meios  necessários  para alcançá-la. Por esse critério, seria possível vislumbrar  o  princípio  do  fenômeno  partidário  nas  atividades  de  tories  (conservadores)  e  whigs  (liberais),  por  ocasião  da  Revolução  Gloriosa,  na  Inglaterra,  1688;  de  federalistas e republicanos,   nos   Estados   Unidos   pós-independência;   ou,   ainda,   de   jacobinos e girondinos, no levante revolucionário francês."

 

Ainda segundo o autor (2013, p. 11) "o fortalecimento e a expansão da atividade partidária somente ocorreram em meado do século XIX a partir de quando os grupos políticos evoluíram para a adoção de formas e estruturas mais estáveis definidas e profissionalizadas". Assim, nota-se a estreita ligação da evolução dos partidos e a Revolução Industrial, pois esta possibilitou o sentimento nos operários de se organizarem enquanto classe buscando combater a burguesia.

Nesse mesmo sentido, aponta José Alfredo de Oliveira Baracho (1980, p. 35) ao afirmar que "considerados hoje como essenciais à democracia representativa, até há pouco tempo, a existência dos partidos desenvolveu-se fora da Constituição e mesmo das leis, desde que os textos constitucionais escritos e as leis os ignoravam. São considerados como produto dos costumes e da tradição, fruto da experiência da nação e não resultado da ação formal de qualquer autoridade legalmente constituída."

Ainda que não expressamente, os partidos estavam presentes na vida política dos países e nações. Baracho (1980, p. 36) afirma que Harold J. Lanski ao estudar o sistema de partidos no parlamentarismo inglês reconhece que, na Grã-Bretanha "o objetivo principal do partido é conseguir chegar ao poder, pelo que utiliza todos os meios para organizar eleitores nos distritos. Nesse seu trabalho afirma que, substancialmente, a ausência o reconhecimento legal da existência dos partidos não significa que eles não façam parte dos mecanismos de governo".

Assim, nota-se que na evolução histórica dos partidos políticos existe um grande traço ainda de informalidade e de costumes, mas ainda assim essas associações estão presentes na vida política dos países, e demonstram traços que atualmente fazem parte do próprio conceito de partido político, como a busca legítima pelo poder.

Maurice Duvenger (apud BARACHO,1980, p. 24) afirma que:

 

"Durante a primeira metade do século XIX, quando se falava em “partidos” tinha-se em mente, essencialmente, as ideologias, e não os homens que as encarnavam. Com os trabalhos de MARX, e ainda mais de LENINE, a ênfase transitou para a infra-estrutura social: considerando-se os partidos como modos de expressão das classes na vida política."

 Conforme explica Alvim (2013, p. 11-12):

 

Deriva daí a conclusão de que, até o século XIX, não existiam, propriamente, partidos, mas apenas grupos políticos ou facções. O aparecimento dos partidos, em noção apurada, identifica-se, portanto, com o momento em que a atuação partidária superou o modelo de atuação ocasional e precária, parlamentar ou eletiva, para, fora das assembleias, assumir uma forma de mobilização política institucionalizada, burocraticamente estruturada e duradoura. 

 

No mesmo sentido, Pedro Sabino de Farias Neto (2011, p. 179) diz:

 

"A princípio, os partidos foram organizações puramente eleitorais, cuja função essencial consistia em assegurar o êxito de seus candidatos. Nesse contexto, a eleição era o fim e o partido era o meio. Depois, o partido desenvolveu funções próprias como organização capacitada para a ação direta e sistemática sobre a atividade política, colocando a eleição a serviço da propaganda partidária."

 

Assim, Baracho (1980, p. 37) afirma que é possível "encontrar as primeiras tendências para enquadrar os partidos políticos nas constituições europeias a partir de 1914, na época em que MIRKINE-GUETZÉVITCH passa a falar na tendência à racionalização do poder", destacando o autor sobre a criação do Tribunal Eleitoral na Constituição da Tchecoslováquia.

Na Alemanha, com a Constituição de Weimar, de 1919, foi reconhecido o direito da formação de associações, dispondo ainda que não se poderia negar a personalidade destas por ter como finalidade a política. Antes disso, porém, era possível perceber figuras bastantes semelhantes aos partidos políticos, como destaca Arnaldo Manuel Abrantes Gonçalves (2005) ao afirmar que "Os partidos britânicos nascem das reformas eleitorais de 1832 (Reform Act) e 1867 que conduzem ao alargamento do sufrágio e à criação das registration societies donde saem as organizações locais dos partidos que se criam após a lei eleitoral de 1832".

A Alemanha, em 1949, colocou os partidos políticos em sua Lei Fundamental, a Constituição Alemã, trazendo alguns aspectos relevantes a eles como a função de formar a vontade política do povo, além de garantir a autonomia de criação e de organização, bem como de determinar a prestação de contas e de possibilitar ao povo o conhecimento da origem de seus recursos.

Portanto, na Alemanha as agremiações partidárias ganharam status constitucional, e institutos tão importantes sobre o direito partidário ganharam relevo, e assim como no país alemão, outros países no século XX passaram a incluir os partidos em suas constituições.

Nota-se, assim, que sempre existiram grupos de pressão que buscavam defender seus interesses perante o Estado, mas não havia partidos políticos em sua concepção moderna, tal qual se conhece atualmente. Desta forma, pode-se afirmar que as organizações políticas surgiram no mundo no final do século XIX e início do século XX.

Sobre isso, afirma Benjamin Alves Rabello Filho (2001, p. 20-21):

 

"a ideia de partido político remonta à Idade Média. É mais antigo o vocábulo partido na terminologia política que classe nas denominações sociais. Denominavam-se partido às facções que outrora dividiam as Repúblicas, os clãs italianos no período renascentista, os clubes onde se realizavam as reuniões dos deputados das Assembleias Revolucionárias, bem como os comitês que lhes preparavam as eleições censitárias e as organizações populares de democracia moderna. A justificativa para esta diversidade de interpretações num mesmo vocábulo está em que todas estas instituições tinham por objetivo a conquista e o exercício do poder. Na verdade, os verdadeiros partidos surgiram há pouco mais de um século. No seu perfil moderno, os partidos ganharam consistência, embora lenta, a partir da adoção do princípio da representatividade popular, com o surgimento em 1215, na Inglaterra, do incipiente poder legislativo decorrente da Carta Magna (LGL\1988\3) Baronorum, vindo a se consolidar, porém, efetivamente, em meados do século XIX. Até aquela época, embora já encontrássemos tendências de opiniões, clubes populares, associações de pensamento e até mesmo grupos parlamentares, não se conhecia partido político no sentido moderno do termo. É verdade que, gramaticalmente, a palavra partido designa parte de conjunto social e, por isso, já servia antes para designar grupos que, por qualquer razão, defendiam ideias sem aceitação universal."

 

Assim, ainda que durante muito tempo existiram grupos, semelhantes a partidos, o fato é que somente no final do século XIX e início do século XX que pessoas se organizaram de maneira estável e passaram a lançar candidatos em eleições, além de compartilharem um mesmo ideal.

 3. Conclusão

Conforme se notou, os partidos estão presentes no mundo há muitos anos, entretanto, o seu reconhecimento constitucional teve maior destaque a partir do final do século XIX. Conhecer a história e o surgimento das agremiações partidária é importante para se repensar a função social e democrática dos partidos.

É fato, ao não cumprir sua função social e democrática, permanecendo apenas na busca legítima do poder, e por não permitir uma liberdade aos filiados, transparência e verdadeira democracia dentro de seu funcionamento, os partidos se encontram criminalizados, e não somente no Brasil.

Por isso a relevância de se compreender o papel histórico das agremiações, de modo a se encontrar meios para fortalecer os partidos, tendo em vista que com isso a própria democracia se fortalecerá.

 

REFERÊNCIAS

ALVIM, Frederico. A evolução histórica dos partidos políticos. Revista Eletrônica EJE nº 6, ano 3. Disponível em: http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-6-ano-3/a-evolucao-historica-dos-partidos-politicos. Acesso em 25 fev. 2020;

BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral dos Partidos Políticos. Revista Brasileira de Estudos Políticos, nº 50, Jan. 1980, p. 19-76;

BONAVIDES, Paulo. Revista da OAB. Conselho Federal. Nº 62. Jan-jun - 1996;

FARIAS NETO, Pedro Sabino. Ciência política: enfoque integral avançado. São Paulo: Atlas, 2011, p. 178;

GONÇALVES, Arnaldo Manuel Abrantes. Os partidos políticos e a crise da democracia representativa. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 707, 12 jun. 2005. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6818>. Acesso em: 17 dez. 2018; e

RABELLO FILHO, Benjamin Alves. Partidos políticos no Brasil: doutrina e legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

 

(*)ALEXANDRE GUIMARÃES MELATTI











-Advogado, graduado em Direito pela Universidade Norte do Paraná/PR;

-Pós-graduado em Direito do Estado pela Universidade Estadual de Londrina/PR; e 

-Professor de Direito Administrativo autor convidado de Direito Político e Eleitoral e Direito Administrativo  e direito eleitoral na Faculdade Dom Bosco/PR.

Nota do Editor:

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