domingo, 15 de maio de 2022

As escolas devem acolher melhor as pessoas com deficiência


 Autora: Marilice Mello (*)


Acolher é a uma das atitudes mais importantes para a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade como um todo. A pessoa com deficiência necessita de atenção, cuidado e acolhida mais intensas que a pessoa típica. Nem sempre conseguimos acolher o outro em nosso dia a dia. Em tempos de pandemia, vivenciamos uma relação construída pelas telas, vivemos uma vida digital, com relações frias e que, em grande parte, contribuiu para uma falta de empatia. Imaginávamos que ao passar por momentos de isolamento social pudéssemos aprender a ser pessoas melhores, porém não foi isso o que aconteceu.

Muitos casos de discriminação de pessoas com deficiência foram observados em lugares distintos.

Escolas que não acolhem a criança com deficiência, igrejas que pedem para os pais se retirarem com seu filho que está atrapalhando o caso do porteiro de um edifício que não permitiu que a mãe de uma criança estacionasse o carro na garagem do prédio para levar aquela criança ao consultório médico, já que a mesma não tinha condição de andar e de o sentar, tendo que ser carregada entre muitas outras ocorrências.

A falta de gentileza nesses casos faz com que a situação vivenciada pela pessoa com deficiência e seus cuidadores, que na maioria das vezes são os pais, seja mais difícil do que já é em seu dia a dia. Não bastasse termos leis e decretos que repudiam essa prática as tornando um crime, todos os dias nos deparamos com situações que nos remetem a falta de gentileza.

A busca pela inclusão faz parte de nossas vidas por sermos todos diferentes, pois muitas vezes somos excluídos de coisas pequenas ou grandes, por opção ou não. Outras vezes excluímos as pessoas que julgamos diferentes. Porém só o fato de sabermos que a diversidade nos faz evoluir e transformar, não é o suficiente para aceitarmos com naturalidade as pessoas diferentes seja física, intelectual ou socialmente e tantas outras diferenças.

A educação é uma grande disseminadora dos princípios da inclusão, porém sabemos que é um dos desafios colocados pela contemporaneidade às políticas educacionais, o de garantir, contextualizadamente, o direito humano universal, social inalienável à educação. O direito universal deve ser analisado isoladamente em estreita relação com outros direitos, especialmente dos direitos civis e políticos e dos direitos de caráter subjetivo, sobre os quais a educação incide decisivamente.

Nessa perspectiva, mesmo depois de tantos anos de discussão, ainda se faz necessário trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social, que garanta o acesso à educação e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos e, neste texto, focaremos as pessoas com deficiência.

Ao conceber a escola como local onde exercitamos práticas sociais, acreditamos que para se conquistar a inclusão social, a educação escolar deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na sustentabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas dimensões individual e social de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, compromissados com a transformação social.

Nesse sentido, ampliou-se os debates sobre áreas definidas pela Lei nº 9.394/96 - LDBEN como modalidades e foram elaboradas diretrizes nacionais a fim de que o princípio da diversidade se fizesse presente nos projetos políticos pedagógicos das escolas, nas áreas de alfabetização e educação de jovens e adultos, educação ambiental, educação em direitos humanos, educação especial, educação do campo, educação escolar indígena, quilombola e educação para as relações étnico-raciais, com vistas ao desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015 - também conhecida como "Estatuto da Pessoa com Deficiência", de acordo com o artigo 2º: "Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, a qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas...." (BRASIL, 2015).

Mesmo com muitas legislações que garantem a inclusão das pessoas com deficiência nas escolas regulares, temos ainda muito a caminhar em busca de uma inclusão de qualidade. Sabemos que a inclusão escolar só acontece se tivermos um conjunto de ações e estruturas, necessários para atingir o desenvolvimento da pessoa com deficiência.

Uma das ações que julgamos importantes é a prática da gentileza. E o que é gentileza?

Abraços, sensibilidades, delicadezas, acolher, olhar profundamente nos olhos.

"...A gentileza nasce da liberdade consciente presente ao Ser Humano que quando "acorda" para tal realidade será realmente "gentil" percebendo que "acolher" o outro começou com o acolhimento de si mesmo" (SANTO, 2016, pag. 33).

A gentileza é expressa de muitas maneiras diferentes e, neste caso, a acolhida é a maior forma de gentileza para a inclusão da pessoa com deficiência no contexto social de forma geral e em especial no contexto escolar.

Acolher o outro é escutar o outro de forma interessada, dar seu tempo para ouvir o que ele tem para dizer, uma escuta que vai além do ouvir, a escuta que sente o que o outro precisa, a verdadeira empatia. Entender o outro é uma forma de gentileza, entender a pessoa com deficiência e suas necessidades gera ações inclusivas, cuidados com o outro.

Posto que acreditamos no fato da escola ser o local onde exercitamos a cidadania, o que nos remete a uma educação inclusiva, que deverá realmente acontecer no espaço escolar, para assim levar a todos os âmbitos da sociedade. Uma educação Inclusiva é uma educação que acolhe a diversidade. A partir do momento em que os educadores realmente mudarem a concepção de que o aprendizado se dá apenas na sala de aula, mas também fora da sala de aula, certamente a escola seria muito mais prazerosa e acolhedora para as crianças.

Ser gentil com a pessoa com deficiência é preocupar-se em atender as diversas necessidades e interesses dessas pessoas, permitindo um bem estar e desenvolvimento com qualidade.

SEJA GENTIL!

BIBLIOGRAFIA:

BRASIL. MEC. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19394.htm> Acesso em: 06/08/2021;

_______ Secretaria Geral de Assuntos Jurídicos. Lei 13.146/2015, de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19394.htm> Acesso em: 06/08/2021; e

SANTO, R. C. do E. O que significa ser gentil? In: VARELLA, A. M. R. S. & FAZENDA, I. C. A. Projetos e Práticas Interdisciplinares: movimento e transformação? V. n1: Sementes de Gentilezas. São Paulo, 2016.

*MARILICE  PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO 
















-Graduação em Pedagogia com habilitação Pré-Escolar pela Universidade Metodista de Piracicaba (1984);

-Mestrado em educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (2001);

-Doutorado em educação: currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUCSP (2013);

-Pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada em Pessoas com TEA. (2019);

-Pós - Doutoranda da UNEB- Campus VI- Caetité-BA, no Programa de Pós-graduação e em Ensino, Linguagem e Sociedade (PPGELS); e

-Membro dos grupos de pesquisa: GEPI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade (PUC/SP), INTERESPI- Grupo de Pesquisas em Espiritualidade e Interdisciplinaridade (PUC/SP) e PPGELS- UNEB- Campus VI- Caetité-BA.

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Se tivéssemos o hábito de ser gentis com todos...
    Nao acreditem, uma vez uma amiga me convidou para assistir um culto e la havia um menino suponho autista escutei o seguinte do tal pastor; "é o diabo agindo pra tirar a atenção do culto ". Ninguém se manifestou. Vi a mãe da criança sair constrangida

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