sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Primícias da Vida: Consciência, Verdade, Liberdade


 Autora: Mônica Ventura (*)

Palavras-Chave:

Filosofia – Consciência – Verdade - Razão;

Direito – Liberdade – Dever - Justiça.

 

"A Verdade Divina penetra-me e transforma-me"


"A Verdade Divina inunda-me a Consciência"


"Penso e ajo com correção".


Joanna de Ângelis / Divaldo P. Franco.


A Consciência é considerada, filosoficamente, o atributo altamente desenvolvido na espécie humana e que se define, basicamente por um contraste, qual seja, o homem em relação ao mundo, e, posteriormente, o homem em relação aos denominados "estados interiores, subjetivos". Esse atributo é o que permite à criatura tomar distância em relação ao seu derredor criando-se assim, a possibilidade de níveis mais altos de integração. O conhecimento desse atributo dá-lhe a faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados seja por uma consciência nobre e reta ou por uma consciência atormentada, torturada pela culpa, pelo remorso.

O desconhecimento em relação à Consciência, ao seu atributo íntimo de Ser Consciente, vem, desde eras antigas, gerando dor e sofrimento por causa da ignorância do senso do dever moral, da falta de razão para discernir e, consequentemente, fazer melhores escolhas. Também por conta do imediatismo materialista que somente permite às criaturas, uma visão acanhada de si mesmo e do mundo à sua volta e, o mais grave, o cultivo de anti-virtudes ou vícios, desregramentos habituais do mal proceder, quais, egoísmo, orgulho sempre coroado de orgulho ferido, vaidades, ganâncias, invejas e outros tais.

Terá sido por inconsciência que o Povo de Gérasa ou Gergesa - cidade localizada a leste do Mar da Galiléia e do Rio Jordão, terra de gentios decantada nos relatos históricos de escritores como o naturalista romano, Caio Plínio Segundo ou o historiador Tito Flávio Josefo – dispensou, friamente, a grande e única oportunidade de suas vidas?

A oportunidade surgida quando a Verdade em forma do Profeta Nazareno, veio ter com eles para proclamar e difundir as primícias do Reino de Deus para as gentes sofridas, ávidas de esclarecimento e libertação daquele povo, subjugado aos grilhões que os atrelavam à ignorância e superstições.

Aquele povo não O compreendeu e desdenhou o Amor de seu Mestre porque eram comerciantes de porcos e preferiram os suínos a Ele - o Amigo incondicional que rudemente ignoraram. Poderá haver maior sofrimento do que este que decorre do amor desdenhado?

Afinal, a Verdade não libertara aquele irmão obsidiado por forças perversas denominadas "Legião"? Onde a fraternidade, a solidariedade, o acolhimento ao ex-obsidiado que deveria tornar a integrar-se à comunidade?

Não constituiu um grande feito a libertação de um sofredor que mereceu a cura ainda que "Legião" – porque eram muitos os espíritos obsessores – assustassem a vara de porcos que se precipitaram no penhasco? Retribuíram com a ingratidão os benefícios que o Rabi lhes oferecia porque se detiveram nos "prejuízos" que O acusavam de ter-lhes causado com aquela libertação.

Do alto dos penhascos os gerasenos avistavam o outro lado do mar e a pequena embarcação na qual, Jesus e Seus discípulos retornaram a Cafarnaum, expulsos, maltratados, envoltos na triste melodia dos ventos e, silenciosos, nem ousavam comentar tamanha ingratidão.

Depois do ocorrido, o povo retornou aos quefazeres, às suas ocupações habituais, enquanto os homens locais, na faina dos negócios, lamentavam preocupados, os danos comerciais pela perda das melhores manadas de porcos.

O doente, agora recuperado, reflexionando a própria existência, vertia lágrimas abundantes pois, recordava-se que vagara desvairado por estradas e no seio da multidão que o ignorava ao tempo em que o temia. Percorrera pastos nas cercanias rurais disputando o alimento com os animais e fora abrigar-se nas catacumbas vazias, subjugado por forças estranhas, hediondas, nefastas que o dominavam. Trazia no corpo dorido as marcas das feridas abertas, o gosto amargo de fel e sangue na boca e o imenso cansaço que o possuía.

Mas, naquele dia tudo fora diferente! Recordava-se de um envolvimento de paz quando os olhos translúcidos e serenos d’Aquele meigo Rabi, aproximando-se, o banharam de imensa harmonia. Súbito, sentiu-se curado, renovado. Não sabia o que dizer, apenas balbuciou...

- "Senhor!... Que devo fazer agora? Desejo seguir-Te pelo resto de meus dias."


Porém, o Senhor da Vida, da Verdade e da Libertação, simplesmente redarguiu:

            - "Retorna à tua casa, aos teus familiares e conta quão grandes coisas fez o Senhor por ti".

 O homem extasiado, retrucou:

           - "Mas, Senhor, eu não tenho ninguém. Os meus me odeiam pelo muito que eu lhes fiz sofrer. Deixa-me seguir contigo? Foste o único a apiedar-se de mim."

E o doce Rabi, profundo conhecedor do mais íntimo das criaturas humanas, como sempre, ensinou:

            - "Ainda não! Vai primeiro anunciar o que recebeste, para que todos saibam o que pode fazer o Filho do Homem."


O liberto, explodindo de felicidade, saiu a correr e a gritar em liberdade! Estava livre e sorria.

Todavia, aqueloutros que o escutaram sem acreditar, continuavam temendo e detestando aquele antigo endemoniado. Ninguém quis recebê-lo. Tratavam-no com desconsideração e, sem respeito, o expulsavam das cercanias. Mas, ele seguiu anunciando por toda parte a promessa do Filho de Deus.

Os gerasenos que expulsaram Jesus e seus discípulos, sem ao menos deixar o Mestre falar-lhes, não conseguiam atinar quem seria e o que desejava o Rabi. O que Ele poderia oferecer-lhes. Ao contrário, tomaram-se de ódio pelo homem que recebeu a cura e, revoltados, alimentaram no ímo d’alma, um despeito surdo que explodiria em cólera e inveja. Diziam:

            - "Ele te curou, vale mais para ti do que para nós. Certamente tu vales mais para Ele do que nós outros. Vai-te para o lado d’Ele e deixa-nos a nós e as nossas terras."


Iniciou-se, então, o apedrejamento daquele que expulsavam inconscientemente.

O recém-curado sentindo que aquele ódio popular atraía a rota de um furacão desgovernado, exclamou a plenos pulmões num estranho ríctus facial:

            - "Maldita sejas, Gérasa, que expulsas os filhos e desprezas os Enviados!"


Sim! A Verdade liberta. A Verdade acalma e pacifica a alma quando a consciência se permite penetrar pela sua força e a criatura segue, serenamente, amparada pelo conhecimento da Verdade.

O mundo está repleto de conceitos frágeis, de preconceitos ofensivos, de pensamentos sem lógica nem razão, de filosofias esdrúxulas, de comportamentos extravagantes, de excentricidades, de vocabulário chulo e tudo isso é acolhido como "verdades".

Existem também as "verdades" de cada um, estranhas e incoerentes, afeitas às lutas de facções, de ideologias, de classes, de crenças e descrenças que desejam apenas, dominar.

Contudo, a Verdade Consciente, a que liberta, paira acima de tudo e de todos, das paixões e das ilusões. A Verdade aguarda o tempo certo de presentear àqueles que aspiram concepções elevadas da vida, quando se entregam à razão, ao conhecimento, ao mergulho no seu vir a ser.

Os modernos gerasenos assim como os de outrora, ainda não se deram conta de que a Verdade paira acima e além das paixões humanas e dos seus interesses imediatistas, pois, tudo aquilo que aprisiona, aflige e apaixona doentiamente a criatura, não constitui expressão da Verdade, porque são apenas grilhões que colocam a ferros o ser humano, levando-o ao paroxismo num estado mórbido de alucinações.

Como há dois mil anos passados, nos dias da atualidade, a sanidade pede licença para dar passagem ao bom senso, ao crivo da razão no exame de todas as coisas, e nestes quesitos, não debater com os "donos da verdade" do mundo é medida de urgência porque eles não estão dispostos a dialogar, mas, a vencer-te por palavras vazias de realidade que, afinal, não querem compreender.

Os "donos da verdade" não querem ajuda e muito menos ajudar ao próximo, querem isso sim, "vencer" quaisquer situações dominando outrem. Não pensam na coletividade senão em si próprios com seu orgulho e egoísmo, sem se darem conta de que essas duas chagas que cultivam com ardor os consomem.

Os "donos das verdades" transitórias do mundo, combatem ferozmente, tornando-se críticos severos das opiniões e escolhas alheias, ao mesmo tempo em que se tornam vigias agressivos em relação a todos os que não compartilham de suas ideias.

O dever de todo Ser Consciente é desincumbir-se dos compromissos assumidos perante a Vida com correção, ânimo forte, firmeza e coerência de atitudes, domínio de si próprio e não dos outros.

A exemplo do homem curado pelo Cristo de Deus na Gérasa de outros tempos, é importante perceber que aquilo que os outros pensam sobre ti ou o que falam de ti, de tuas ações, não deve te preocupar, a não ser que o mal de que te acusam tenha lastros na verdade.

Cada qual é livre para pensar e agir, entretanto, é da Lei Divina – " a cada um conforme suas obras" – "o que semeias, colherás".

  

Bibliografia:

Livro: HISTÓRIA DOS HEBREUS – Obra Completa – De Abraão a Queda de Jerusalém. Autor: Flavio Josefo.

Editora CPAD – 1.568 páginas - 24ª Impressão/Outubro/2013;

Livro: A BÍBLIA SAGRADA – Tradução dos originais grego, hebraico e aramaico mediante a versão dos Monges Beneditinos de Maredsous/Bélgica. - Editora Ave Maria – 9ª Edição/2016 – 2.224 páginas;

Livros: Da Série EvangélicaAutora: Amélia Rodrigues por Divaldo Franco. – Editora LEAL e

Livros: Da Série Psicológica – Autora: Joanna de Ângelis por Divaldo Franco. Ed. LEAL.

 * MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO













- Advogada graduada pela FADIVALE/GV (1996); 

Latu Sensu em Linguística e Letras Neolatinas pela UFRJ (1992);

-Degree in English by Edwards Language School – London -  Accredited by the British Council, a member of English UK and a Centre for Cambridge Examinations (2000);. 

-Especialidades:  Direito de Família e Sucessões,  Direito Internacional Público e Direito Administrativo;  e

-Escreve artigos sobre Direito; Política; Sociologia e Cidadania.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

6 comentários:

  1. Isso não é filosofia. É teologia.

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    1. Olá, @tgjesus
      Minha formação não é teológica. Mas, se você entendeu assim, que seja.
      Obrigada pela leitura! Paz!

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  2. Como sempre, você expôs a sua inteligência dentro dos mais elevados níveis.
    Muitos têm dificuldade em perceber isso e acabam estabelecendo rótulos (filosofia? religião -?).
    Como rotular a verdade? Sendo que a verdade foi a essência dos seus dizeres?
    Belo retrato de um momento histórico, que nos parece estar se replicando pelos corredores da História desde as advertências de Delfos!
    Um prazer enorme em ler e meditar sobre esse discurso tão verdadeiro.

    ASSARUHY

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    1. Gratidão, amigo Assaruhy!
      Suas gentis considerações amparam nosso ânimo. Que Deus te abençõe o generoso comentário! Paz e bençãos!

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  3. Uma viagem em 3 paisagens distintas, nosso interior; vivendo com a contradições do exterior, passando finalmente pela VERDADE Absoluta. Oportunidade rara, para refletirmos e tentarmos conciliar o significado desta grande oportunidade.... A VIDA... Parabéns uma vez mais amiga !

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    1. Olá, amigo Oliveira!
      Seu comentário me alegra porque o sentimento que desejei transmitir com meu texto tocou a sensibilidade do seu entendimento.

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