segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Autonomia: um indício de qualidade de vida na terceira idade


Prezados leitores, gostaria de iniciar provocando-lhes uma reflexão. Qual importância que autonomia tem em suas vidas atualmente? Para tornar mais claro, citarei aqui uma descrição desse termo: capacidade de conduzir a vida, ou "estabelecer suas próprias leis" segundo a origem grega. Pois bem... imaginem-se, por algum motivo, incapacitados de realizar atividades como gerenciar a casa, trabalhar, locomover-se na cidade, gerenciar todos os problemas cotidianos, pagar as contas... ou até as atividades mais básicas como alimentar-se e tomar banho. Uma breve reflexão já pode nos proporcionar a consciência da imensa importância desse aspecto em nossas vidas. 

A perda da autonomia e da independência é uma das coisas que mais assombra e influencia indivíduos na terceira idade, pois, naturalmente fica mais provável que durante a velhice venhamos a perder a capacidade de realizar o que antes fazíamos com facilidade. Claro que isso é totalmente variável de indivíduo para indivíduo. Alguns permanecem conscientes e independentes até o fim da vida em uma idade avançada, enquanto outros enfrentam reais dificuldades. Porque isso ocorre? Fatores genéticos, fisiológicos e culturais, além do estilo de vida podem justificar a diferença entre diferentes pessoas.

O processo natural do envelhecimento envolve inúmeras transformações biológicas inerentes aos organismos que ocorrem de maneira gradativa e envolve declínios musculares, cardiorrespiratórios e sensoriais. Na pratica, podemos observar uma provável dificuldade de locomoção, baixa resistência física, redução da agilidade mental, menor acuidade visual e percepção auditiva, entre outros.

Considerando as mudanças que ocorrem nesse processo do envelhecer - que pode ser um envelhecimento normal (com os declínios esperados desse processo que compõe nosso ciclo de vida) - ou patológico (com o acometimento de doenças), sugiro algumas formas de lidar ou antecipar-se a isso: prevenção e adaptação.

Para falar em prevenção, citarei algumas causas comuns de incapacidade na terceira idade: Quedas (predominantemente a maior causa de incapacidade), doenças articulares, doenças cardiovasculares e suas consequências, doenças crônico-degenerativas (como as demências), déficits sensoriais (como surdez e baixa visão), entre outros.

A queda, bem como a dificuldade de mobilidade, geralmente está ligada ao declínio da força muscular, perda de reflexos e redução da capacidade visual. A prevenção se dá na prática regular de atividade física, que vai proporcionar não só o fortalecimento muscular e melhora do condicionamento físico, mas também a melhor consciência corporal, estimulando ainda melhora os reflexos. Monitoramento da acuidade visual, com visitas regulares ao médico especialista também contribui bastante.

Posso sugerir ainda como prevenção às quedas, a atenção especial ao ambiente onde se circula. Ambientes com pisos irregulares, degraus altos, ausência de corrimão e barras de apoio, excesso de barreiras (leia-se muitos objetos e moveis espalhados no domicilio) se tornam perigosos para um idoso com alguma dificuldade de mobilidade. Para este mesmo idoso, pode ser necessário um dispositivo de apoio à mobilidade, como bengala ou andador. Sugiro a avaliação de um profissional especializado para identificar a necessidade especifica de cada indivíduo.

Sugiro também como prevenção a doenças altamente incapacitantes, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), o monitoramento clinico, da alimentação e de hábitos de vida.

Em relação a doenças neurodegenerativas, como a demência de Alzheimer, existe a duvida: Há como prevenir? Não conseguimos falar definitivamente em prevenção à doença, mas em melhorar a nossa resposta a ela, e reduzir o prejuízo desta. Sabemos hoje da chamada reserva cognitiva (RC) que é, segundo publicação de Stern (2006) "a capacidade do cérebro de armazenar por períodos prolongados as habilidades que foram adquiridas ao longo da vida e de resistir aos prejuízos de um quadro demencial, evitando o surgimento de sintomas clínicos significativos no início da doença." Sabe-se que as doenças neurodegenerativas são progressivas; no entanto a RC permite que o progresso da doença seja bem mais lento do que o habitual.

Há hipóteses que a RC está relacionada a escolaridade, bem como com o tipo de trabalho e atividades que a pessoa desenvolveu ao longo da vida, e com o quanto essa pessoa se expôs a situações desafiadoras. Sendo assim, devemos desde cedo buscar levar uma vida ativa e produtiva, com o máximo de atividades que nos desafiem e nos estimulem.

Sugiro que, quando houver alguma dificuldade que impeça o desempenho satisfatório em alguma atividade diária, seja consultado um Terapeuta Ocupacional. Ele é um profissional qualificado para tratar, prevenir e orientar sobre as disfunções com dependência nas atividades de vida diária, de lazer e produtivas, e irá avaliar o perfil funcional e estimular o que for necessário para a melhora, prevenção e adaptação do indivíduo em suas atividades.

Por fim, esclareço que meu objetivo é despertar a atenção para um fator tão importante para todos: A capacidade de exercer as nossas atividades diárias, produtivas e de lazer, além da possibilidade de tomar decisões e resolver nossos próprios problemas. Nossa autonomia está ligada diretamente ao bem estar e qualidade de vida. Devemos nos atentar à prevenção e tratamento desta.

POR GABRIELA COSTA GUEDES











-Terapeuta Ocupacional Graduada pela UFPE;
Especialista em Neuropsicologia pela Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS-IMIP); e
Atualmente atende em clinica e domicílios localizados na cidade de Recife - PE.



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