domingo, 22 de janeiro de 2017

Espelho, espelho meu



Te olho, me vejo
Me olho, te vejo


Quantas vezes ao longo da vida resistimos olhar de frente pra nós mesmos e aceitarmos quem somos? Quantas vezes fugir de si mesmo é mais fácil que nos amarmos devido a dor de não correspondermos tantas expectativas colocadas sobre nós? Quando será que foi a primeira vez que tivemos que nos abandonar por medo se sermos abandonados?

Se lembrarmos, lá atrás em nossa infância tivemos que aprender a lidar com diversas situações que podem ter sido sentidas como abandono, como por exemplo chorar por fome, frio, incômodo das fraldas sujas e outras inúmeras razões e tivemos de esperar segundos, minutos e as vezes horas para receber o que necessitamos, nesses momentos tivemos de aprender a lidar com faltas, ausências, aprovações e desaprovações externas diante de nossas reações. Já um pouco maior, o atraso na hora de sermos buscados na escola, a ausência das figuras parentais por trabalho, a rigidez reproduzida na educação que nos faz engolir o choro, o potencial criativo, a insatisfação e tanta coisa mais e nos conduzindo a moldarmos um personagem mais aceitável, mas passível de ser aceito e amado, e assim fomos aprendendo nos abandonar, a criarmos falsas crenças sobre nós mesmo, criamos defesas pra não reviver essas dores e escondemos as feridas, mas tudo isso gera raiva e ainda mais dor, sendo assim, mais e mais defesas, medos e culpa.

A grosso modo, o ego é um regulador de tensão entre os desejos indiscriminados do id e as regras sociais introjetadas pelo superego, sendo então aquele que mede e ajusta obedecendo o principio da realidade e buscando objeto apropriado para realização dos desejos e descarga das tensões, logo, para lidar com a soma real de todas as crenças, experiências e sentimentos negativos que tivemos sobre nós, a culpa se torna qualquer forma de rejeição e ódio de si mesmo, sentimentos de impotência, fracasso, vazio ou a sensação de que algo esta incompleto, em falta ou perdido. Para lidarmos com tudo isso o ego para se preservar e se defender utilizada da negação e projeção que leva a transferência da responsabilidade.

Convido aqui os leitores a pensarem no ego regulador de tensão como uma defesa contra nosso verdadeiro eu que não necessariamente precisa de defesa, mas que diante de tal ilusão, confunde-se com o ego e nega a si mesmo na crença de auto preservação que nos leva a empurrarmos tais angústias para baixo do tapete formando relevos em que eventualmente tropeçamos e nos deparamos com nós mesmo, como dizia os escritor argentino Julio Cortázar “Andávamos sem nos procurar já sabendo que andávamos para nos encontrar”, mas ao tropeçar podemos também nos esbarrar com o outro e transformá-lo em depositário das projeções que vazam pela teia da negação quando se passa a crer que as questões estão do lado de fora, fora de si e sim no outro.

Pegamos as angustias existentes em nós e colocamos no outro, empurramos no outro a responsabilidade de não olharmos pra nós mesmos, de não abraçarmos nossas sombras e aprendermos a lidar com elas. Caímos na cilada de negarmos a nós mesmos e nos esquivamos da beleza de sermos responsáveis e um pouco mais conscientes de nossas escolhas nos mantendo presentes e atentos as defesas que criamos e suas funções.

Na tentativa de fuga de si mesmo criamos ciclos de culpa e negação se dão quando nos sentimos angustiados e tamanha é a dor que negamos a mesma e projetamos no outro, ou seja, atacamos o outro com nossos próprios conteúdos internos seja em pensamento ou com algum tipo de ação e depois nos sentimos culpados com a projeção que reforça a culpa e criamos então para o ciclo de ataque e defesa e quanto mais nos sentimos culpados, mais atacamos(projetamos), e quanto mais atacamos mais sentimos a necessidade de nos defendermos da punição esperada ou do contra-ataque.




Quanto mais criamos defesas mais reforçamos a ideia de culpa e medo e isso nos priva de olharmos pro fundo, profundo, pra dentro de nos mesmos, nos aceitarmos, nos amarmos e irmos aos poucos resignificando e rompendo com medo e a falsa necessidade de nos defendermos de quem realmente somos. E outro, nosso espelho, reflexo que reflete e legitima nossa existência através do contato poderá então ser aceito em sua complexidade diante do que nos reflete, assim como a nós mesmos.

                   Pintura de Roberto Ferri

POR HELOISE FACCHINI












-Graduada em psicologia pela FMU; 
-Extensão em Psicanálise dos Vínculos Sociais pelo Institut de Recherhe en Psychothérapie – IRP e pela Universidade de São Paulo – LAPSO USP ;
-Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC ;e
-Terapia Cognitivo e Comportamental – HC-FMUSP
Atua em consultório, grupos de desenvolvimento pessoal e faz consultoria.
Psicoterapia, Workshops, Paletras, 
Orienteção Vocacional e Grupos

WhatsApp:11 96365.8200

Nota do Editor:
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