sábado, 8 de julho de 2017

Opressões Sexuais e de Gênero nas Escolas





No fim do mês de junho me deparei com um belo movimento em uma escola em Belo Horizonte. Adolescentes, com menos de 15 anos, se mobilizaram para realizar debates sobre a necessidade de combater a homofobia. Deveria ser algo natural e não motivo de estranheza, aliás, era a semana do orgulho LGBT. Havia poucos dias que o pai de um dos alunos foi chamado nesta mesma escola pela diretora, dizendo que seu filho estava com um comportamento ‘estranho’, que só andava com as meninas, as vezes vestia roupas das colegas e usava batom. A diretora exigiu do pai que aplicasse um corretivo no jovem por seu comportamento denominado extravagante. Porém, surpreendentemente o pai do aluno chamou os professores e com voz altiva e trêmula disse: “agradeço a deus pelo filho que tenho, ela quer que eu espanque ou que o mate como acontece com vários jovens, mas não vou fazer isso, amo meu filho como ele é, não há nada de errado com ele”.

Emocionante a reação deste pai e ainda mais bonito como os alunos se fortaleceram. Como nós, educadores, podemos fugir do tema da diversidade de gênero? Porque é tão difícil tratar adequadamente a homofobia? Porque deixamos nossos jovens reféns da propaganda midiática, das séries na netflix que exploram comercialmente a diversidade sexual? É nosso dever refletir seriamente sobre as razões que nos afastam da diversidade e nos aproxima da homofobia.

Atualmente, as opressões sofridas pelas minorias políticas têm sido o foco de diversos espaços de debate na sociedade: redes e mídias sociais, campanhas publicitárias de grandes empresas, músicas, filmes, programas de televisão e internet estão efervescendo em discussões acerca dos mais diversos recortes do tema. A chamada “geração y”, que têm como característica grande busca e acesso rápido à informação, não fala em outra coisa que não os preconceitos que vive e como erradicá-los.

Mesmo que diversos espaços políticos estejam sendo ocupados por esses debates, a escola, principal ambiente de formação do sujeito, ainda parece estar muito distante de formar seres críticos e social/politicamente conscientes. A promoção de debates sobre LGBTfobia, racismo e machismo auxilia no processo de reeducação da população e é, ironicamente, quase nula dentro das escolas. Projetos de Lei como a PL Escola Sem Partido (que pretende criminalizar professores que promovam debates políticos dentro das escolas), propõem a prorrogação da estagnação de debates tão urgentes no ambiente escolar, gerando um grande atraso à luta das causas.

Muito é falado sobre as razões, os casos e as formas de combater o bullying nas escolas, mas pouco sobre as demais opressões, especialmente LGBT. Os dados de violência contra esse grupo, por exemplo, são assustadores: a cada 25 horas uma pessoa LGBT morreu vítima de violência no Brasil em 2016! Essas mortes não foram por bullying, mas por homofobia. Precisamos dar nome correto as coisas. Quando acontece racismo no ambiente escolar temos que dizer que se trata de racismo e encaminhar as soluções pedagógicas, políticas e quiçá jurídicas possíveis. É também nossa tarefa dar ênfase e intensidade às palavras à mesma medida com que os casos acontecem. Então, nem tudo é bullying. Se considerarmos assim, já estamos começando a educar uma nova geração que certamente influenciará pais, tios, vizinhos e outros pares no combate às discriminações de gênero e raça.

Então vejamos: por ser uma prática rotineira e comum na vida de todos as Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, usar a palavra LGBTfobia ao invés de “bullying” quando um estudante LGBT for chamado por apelidos pejorativos relacionados à sua orientação sexual, por exemplo, ajuda no processo de dar visibilidade e atenção à essa fobia social. Incluir casos de opressões que são históricas, estruturais e coletivas em um termo que é usado para descrever casos de violências sofridas por indivíduos isolados, acaba sendo uma forma de mascarar essas práticas que são tidas como “normais” na vida dos LGBTs em geral. 

Para mudar essa realidade, o debate se faz cada vez mais necessário e urgente. As escolas precisam cada vez mais educar seus estudantes para além das matérias convencionais e tradicionais, é necessária uma mudança de postura na forma com que essas opressões são tratadas: o incentivo ao debate, compreensão e aceitação da diversidade existente na sociedade deve partir de todos os lados. Cabe aos professores e à direção promoverem palestras e discussões em sala sobre o tema e aos próprios estudantes difundir as ideias entre os colegas. Isso não precisa ser em uma única data no ano, precisa ser todo dia, toda hora, quando cada fato acontece. Mãos à obra, colegas...

POR ANA PAULA SANTANA
-Pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos - ILAESE;

- Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais;
Participou da implementação do Programa Brasil Alfabetizado/MEC/FNDE em Belo Horizonte, atuando com o planejamento das ações, coordenação de turmas e formação de professores alfabetizadores;
- Coordenou a implementação de turmas de alfabetização de trabalhadores da construção civil em conjunto com movimentos sociais no Estado de Minas Gerais;
- Ministra formação de professores visando implantar estratégias para o ensino de jovens e adultos;
- Integra a Associação Mineira de Psicopedagogia e compõe o quadro de diretores do Centro Integrado de Apoio ao Trabalhador.

Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. è de se estranhar que,em um país com 60000 mortes por ano,venhamos levantar a bandeira contra a morte somente da turma lgbt,e os outros 59400?Ah,os outros não se enquadram nessa turma,então que se ferrem.Os direitos dos cidadãos brasileiros é garantido a todos,então que não venham com modismo querer mudar a cabeça da maioria,e nemser a classe dominadora.

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